Paulo Porto Alegre
Texto
Biografia
Paulo Roberto Porto Alegre Soares (São Paulo, SP, 1953). Violonista, arranjador e compositor. Autodidata até os 18 anos, quando se torna aluno de Isaias Sávio (violão, 1971-1975) e de Osvaldo Nicodemo (harmonia). Estuda posteriormente no Conservatório Musical Brooklin Paulista (1976-1979) sob a orientação de Henrique Pinto (violão) e Fabio Mechetti (discernimento musical), tornando-se pouco depois professor nessa instituição.
Cursa solfejo e análise com Osvaldo Colarusso e participa dos Seminários Internacionais de Violão Palestrina como aluno (1977, 1978) e professor (1981, 1986), ali entrando em contato com violonistas como Abel Carlevaro, Miguel Angel Girollet e Eduardo Fernandez e vencendo o V Concurso Internacional de Violão Palestrina (1979). Em 1984 vence o III Concurso Internacional de Violão do Festival Villa-Lobos e, em 1986, o II Prêmio Eldorado de Música. Nesse mesmo ano, recebe uma menção do Concours International de Composition de l'ORTF de Paris por sua peça Contrastes I. Em 1988 torna‑se professor, solista e camerista (com o Quarteto Kodály) do I Festival Internacional IDRIART de Música Erudita de Pequim. Quatro anos depois realiza uma turnê pela Europa com 16 recitais na Alemanha e França.
Atua como solista nos Estados Unidos, Europa e Ásia, e frente às principais orquestras brasileiras. Como camerista, produz-se como membro do grupo de violões Quaternaglia (1999‑2002) e é membro fundador do Trio Opus 12 (desde 1982) e do Núcleo Hespérides (desde 2002), além de realizar, em 2004, uma turnê pelos EUA com o Quarteto Brasileiro de Violões (com o qual se produz frente à Baltimore Symphony) e apresentar-se com intérpretes como Duo Assad, Claudio Cruz e Rosana Lamosa. Entre os compositores que lhe dedicam obras, podemos citar Aylton Escobar, Radamés Gnattali, Sérgio Assad e Guido Santorsola.
Grava os discos Trio Opus 12 (1982), A Queda dos Pássaros (1997), solo; Trio (1997), música para flauta, viola e violão com Rogério Wolf e Marcelo Jaffé); Forrobodó (2001, com Quaternaglia); e Sons das Américas (2012) com o Núcleo Hespérides. Leciona em festivais no Brasil, Estados Unidos, Europa e Ásia, entre eles, os de Campos do Jordão, World Guitar Congress (Baltimore) e Festival Leo Brouwer (São Paulo). É coordenador artístico do Seminário de Violão do Festival de Campos do Jordão (1994‑1995), curador do Festival SESC de Violão (1996) e professor de violão e música de câmara na Escola Municipal de Música (SP, desde 2002) e na EMESP (desde 2009).
Análise
Paulo Porto Alegre experimenta, tanto como instrumentista quanto como compositor, um amplo leque de estilos que vão do clássico ao popular e, mesmo dentro dessas vertentes, diferentes formas de expressão como a música folclórica, o jazz e o rock no domínio popular, ou o dodecafonismo, o tonalismo e o minimalismo no domínio erudito, além de músicas oriundas de outras culturas não ocidentais.
Podemos perceber as origens desse ecletismo em seu percurso profissional. Durante sua adolescência, autodidata, sua preferência musical recai sobre o rock, gosto que resgata posteriormente em seus arranjos para violão. Com o contato com Isaías Sávio e Henrique Pinto, descobre o mundo da música erudita, à qual dedica‑se inteiramente até que Sérgio Assad e Radamés Gnattali abrem-lhe novamente as portas da música popular.
Gnattali desempenha um papel especial nesse processo, na medida em que Porto Alegre o vê como sua maior influência criativa. O encontro com o mestre, já admirado pelo violonista desde a execução do seu Quarteto n.1 (1982) integrando o Quarteto Sul America (para quem a peça é dedicada), se dá durante os cinco anos que antecedem a morte do compositor. Nesse período, Porto Alegre desfruta de uma convivência musical que lhe permite conhecer profundamente a estética de Gnattali e incorporar toda a obra violonística desse em seu repertório, tornando‑se um dos seus mais importantes intérpretes.
Através de Gnattali e Assad, Porto Alegre reconcilia-se finalmente com suas raízes populares, não mais encaradas como algo oposto à música clássica, mas simplesmente como música, em um grande continuum sem fronteiras. Essa crença em uma só música é igualmente o que permite que sua produção composicional se desvele tão variada quanto o número de estéticas diferentes às quais admira.
Nesse sentido, mesmo se o estilo nacionalista urbano de Gnattali represente uma de suas mais fortes influências e constituem uma certa essência em sua escrita, ele não o restringe esteticamente. Ainda durante a sua formação, e após analisar a obra de Webern com Colarusso, por exemplo, Porto Alegre escreve as Cinco Peças para violão (1979), que, apesar de não seguir o dodecafonismo da Segunda Escola de Viena do mestre alemão, é composta em linguagem atonal (com estruturas intervalares que se aproximam da ideia weberniana). Outros exemplos podem ilustrar essa variedade de tendências: em Hespérides, para ensemble, o compositor aproxima-se da vertente da vanguarda europeia do pós-guerra; seu Estudo minimalista faz uso da vertente homônima forjada na América do Norte da década de 1960; a música pop é explorada por ele em sua Toccata Funck.
Porto Alegre discursa a respeito dessa fascinação por estéticas tão diversas que o constituem: "Me sinto muito influenciado Villa-Lobos, Paul Hindemith, Francis Poulenc, Igor Stravinsky, Leo Brouwer, Alfred Schnittke, Luciano Berio e tantos outros; sem falar na música popular de Tom Jobim, Edu Lobo, Pixinguinha, Ernesto Nazareth, em jazzistas de várias linhas, nos chorões, nos sambistas [...] Um dia componho algo radicalmente atonal, no outro dia uma moda sertaneja... [...] escrevo de todo jeito possível. Talvez a característica mais predominante seja o espírito popular. Mas nem sempre".1
A ideia do continuum permeia, para o instrumentista, todas as fronteiras que a história do homem possa propor à música: "Acho que a música não aceita limitações de ordem política, estética, pessoal, cultural, ou qualquer outra que seja. Música, para mim, não é diversão, é vida. (...) Aprender com todas elas é que é a grande transformação. Alie-se a isto o conhecimento técnico, o domínio de um instrumento, a curiosidade pelos fatos musicais e uma boa dose de cultura geral e pronto: está formado o ser humano".2
Como violonista, é muito marcado pelas figuras de Abel Carlevaro e por Julian Bream, mas sua formação musical se dá nessa diversidade de experiências, tocando com intérpretes especializados em diversas áreas: música contemporânea, música antiga, jazz. Entre elas, podemos destacar o trabalho com a cravista Helena Jank e o estudo que desenvolve com a jazzista Débora Gurgel (2010‑2012). Com Gurgel, em particular, amplia o conhecimento do estilo e das harmonias do jazz, que se reflete em sua peça 24 estudos modais (2011-2012), dedicada a Sérgio e Odair Assad, quatro dentre elas gravadas por ele no disco Varandeio, com lançamento previsto para 2013.
Notas
1 Músicos do Brasil: Uma enciclopédia instrumental, [s.p.]
2 ibidem.
Obras 2
Fontes de pesquisa 6
- Catanzaro, Tatiana. "Entrevista com Paulo Porto Alegre". Entrevista telefônica com o violonista. Paris/São Paulo, dezembro de 2012.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
- Músicos do Brasil: Uma enciclopédia instrumental. "Paulo Porto Alegre". Enciclopédia online. Disponível em: <<http://musicosdobrasil.com.br/paulo-porto-alegre>>. Acesso em: 20/12/2012.
- Porto Alegre, Paulo et al. Quaternaglia. DVD do Espetáculo musical. Apresentação do Quarteto de Violões Quaternaglia, realizado na Sala Itaú Cultural no dia 06 de novembro de 2004, no Toca Brasil. IC TB FV002 DVD. São Paulo: Itaú Cultural, 2006.
- Porto Alegre, Paulo. Paulo Porto Alegre: Violonista, compositor. Sítio internet do artista. Disponível em: <<www.pauloportoalegre.com>>. Acesso em: 20/12/2012.
- Zanon, Fabio. "Violão Brasileiro: O violão em São Paulo III". Violão com Fabio Zanon. Arquivo dos programas de violão clássico apresentados por Fábio Zanon e transmitidos originalmente pela Rádio Cultura FM de São Paulo. Programa 85: Armando Vidigal, Paulo Porto Alegre. São Paulo: Rádio Cultura FM, janeiro de 2007. Disponível em: << http://vcfz.blogspot.fr/2007/08/85-o-violo-em-so-paulo-iii.html>>. Consulta em: 20/12/2012.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
PAULO Porto Alegre.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa454970/paulo-porto-alegre. Acesso em: 06 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7