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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Carlos Nelson Ferreira dos Santos

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 09.08.2024
1943 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
1989 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Carlos Nelson Ferreira dos Santos (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1943 - idem 1989). Arquiteto, urbanista, antropólogo, professor. Ingressa na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ em 1962 e forma-se em 1966. Participa do movimento estudantil e do trabalho de medicina social e sanitária desenvolvido ...

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Carlos Nelson Ferreira dos Santos (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1943 - idem 1989). Arquiteto, urbanista, antropólogo, professor. Ingressa na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ em 1962 e forma-se em 1966. Participa do movimento estudantil e do trabalho de medicina social e sanitária desenvolvido pelos colegas da Faculdade de Medicina nas favelas cariocas Catumbi e São Carlos, onde conhece a Federação de Favelas do Estado da Guanabara - Fafeg da qual se torna assessor urbanístico e habitacional. Em 1967, é criada a secretaria executiva do Grupo de Trabalho, GT 3881, vinculada à Companhia do Progresso do Estado da Guanabara - Copeg, que encarrega o Centro de Pesquisas Habitacionais - Cenpha, de realizar um levantamento urbanístico de três favelas cariocas, para o qual Ferreira dos Santos é contratado ao lado dos colegas Sylvia Lavenère-Wanderley, Sueli de Azevedo e Rogério Aroeira Neves, com quem funda a Quadra Arquitetos Associados Ltda. A Companhia de Desenvolvimento de Comunidades - Codesco, fundada em 1968, contrata a Quadra para assessorar e executar seus planos urbanísticos e habitacionais, e o primeiro deles é desenvolvido pelos arquitetos para a favela Brás de Pina. Além do plano urbanístico, a Quadra é responsável pela elaboração das unidades habitacionais, que começam a ser construídas em 1969. Por cinco anos, Ferreira Santos trabalha no canteiro de obras, acompanhando a implantação dos projetos e recolhendo dados para as necessárias adequações. A companhia é extinta em 1975 e então o arquiteto passa a integrar, como assessor especial e depois diretor, o Instituto Brasileiro de Administração Municipal - Ibam, onde permanece até sua morte.

Em 1971, é pesquisador visitante no Massachusetts Institute of Technology - MIT. Defende, em 1979, no Museu Nacional da UFRJ, a dissertação de mestrado Três Movimentos Sociais Urbanos no Rio de Janeiro, publicada com o título Movimentos Urbanos no Rio de Janeiro, em 1981. Em 1984, doutora-se pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, com a tese Formações Metropolitanas no Brasil, e é professor do programa de mestrado do curso de geografia econômica industrial da UFRJ e da graduação da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense - UFF em Niterói, Rio de Janeiro.

É autor dos livros Quando a Rua Vira Casa, de 1981, roteiro do filme de mesmo nome realizado por Ferreira dos Santos e Tetê Morais, em 1980; A Cidade como um Jogo de Cartas, em 1988, fruto da tese apresentada para o curso de professor titular da UFF, defendida em 1985; do estudo Seis Novas Cidades em Roraima, realizado pelo Ibam em 1985; e da série de artigos publicados na seção Cartas Urbanas da revista Projeto, criada especialmente para ele nos anos 1980. Na década de 1960, é premiado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB, nas categorias planejamento urbano e arquitetura religiosa e, em 1988, recebe o Prêmio Pereira Passos por sua contribuição à capital fluminense.

Análise

Carlos Nelson Ferreira dos Santos define-se como um "antropoteto", uma mistura de antropólogo e arquiteto. O foco central de seus interesses é o outro lado da metropolização das cidades brasileiras em curso desde os anos 1950: a expansão desordenada da periferia e o crescimento acelerado das favelas. Preocupado em compreender como a cidade se constrói, mas, sobretudo, como ela poderia se construir, Ferreira dos Santos revê o papel da arquitetura e propõe uma aproximação entre o saber erudito e o popular. Sua reflexão sobre o tema, expressa em artigos, livros, palestras e aulas, e na atuação na Federação de Favelas do Estado da Guanabara - Fafeg; na Companhia de Desenvolvimento de Comunidades - Codesco, e no Instituto Brasileiro de Administração Municipal - Ibam, é reconhecida, em 1988, com o Prêmio Pereira Passos.

O arquiteto e alguns colegas - entre eles Sylvia Lavenère-Wanderley, Sueli de Azevedo e Rogério Aroeira Neves, com quem funda a Quadra Arquitetos Associados Ltda - aproximam-se de entidades como a Fafeg com o intuito de "tentar aprender, através da observação de suas práticas e do registro direto de seus discursos, qual era a sua 'realidade' e oferecer-lhes em troca as contribuições possíveis dentro do [...] campo específico" de arquiteto.1 É por meio dessa entidade que é apresentado, em 1964, à associação de moradores da favela de Brás de Pina, ameaçada de desocupação pelo governo estadual na gestão de Carlos Lacerda. Percebendo que a única possibilidade de se manter naquele local é a formulação de uma alternativa à política habitacional do governo de desocupação e transferência de favelados para conjuntos habitacionais construídos nos limites da cidade, os moradores, com a ajuda de Ferreira dos Santos, propõem a urbanização da favela, ou seja, a legalização da posse de terra, a execução de infraestrutura e a reconstrução definitiva das moradias. O plano de urbanização, desenvolvido e discutido com os moradores, só é viabilizado em 1967, quando o governo de Francisco Negrão de Lima cria a secretaria executiva do Grupo de Trabalho, GT 3881. É ela que encomenda ao Centro de Pesquisas Habitacionais - Cenpha, o levantamento das favelas Brás de Pina, Morro Azul e Catumbi, em parte realizado pela Quadra. Esse levantamento complementa o realizado anteriormente para a associação de moradores, e subsidia o plano de urbanização do escritório, cuja característica marcante é o respeito à conformação urbana da favela, expresso no sistema viário - redesenhado para atender à necessidade de infraestrutura e integração aos bairros circundantes com base nas ruas existentes - e nas novas casas, redesenhadas pelos arquitetos a partir das propostas dos moradores.

A observação das relações sociais estabelecidas entre favelados, técnicos e o estado, além das redes de significado construídas antes e depois do plano de urbanização, aproxima-o da antropologia, levando-o a retomar a experiência na dissertação de mestrado Três Movimentos Sociais Urbanos no Rio de Janeiro, defendida em 1979 no Museu Nacional da UFRJ - origem do livro Movimentos Urbanos no Rio de Janeiro de 1981. Ainda nos anos 1960, o arquiteto concebe, com Sylvia Lavenère-Wanderley e Sueli de Azevedo, a Capela do Cristo Redentor (não construída), na favela Catumbi, menção honrosa na 5ª Premiação do Departamento do Estado da Guanabara do Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB, em 1967. Nesse projeto, os arquitetos novamente procuram aproximar o edifício dos moradores, empregando para isso técnicas construtivas populares, como o solo cimento2 e a madeira, num edifício que pretende se inserir e dialogar com o entorno existente.

A preocupação com o crescimento das metrópoles, aliada à busca de novas políticas e estratégias de intervenção urbana adequadas ao contexto das periferias metropolitanas e ao momento histórico do país, é retomada na tese de doutorado Formações Metropolitanas no Brasil, defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP em 1984. O tema e o propósito são retomados no livro A Cidade como um Jogo de Cartas, de 1988, fruto da tese apresentada para o concurso para professor titular da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense - EAU/UFF, e no estudo Seis Novas Cidades em Roraima, desenvolvido no Ibam, ambos de 1985. Como parte de uma "série de reflexões sobre como se formam e desenvolvem as cidades, se ordenam e controlam os espaços edificados", o livro se dirige a dois públicos específicos: um formado por profissionais, a quem procura dar subsídios técnicos para a elaboração de planos urbanísticos; e outro, por estudantes do 1º grau, a quem se propõe explicar esses processos. O livro reafirma o compromisso de Ferreira dos Santos de elaborar planos urbanos e projetos arquitetônicos, que são fruto da colaboração entre o saber técnico, erudito e o saber popular.

Notas

1. SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos. Movimentos urbanos no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. p. 12.

2. Mistura homogênea de solo, cimento e água de boa resistência que pode ser compactada ainda úmida em pequenas fôrmas, que resultam em blocos, ou em fôrmas contínuas que resultam em paredes moldadas in loco.

Exposições 2

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Fontes de pesquisa 5

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  • LOPES; Alberto Costa; BARROS, Constança d'Assunção; VASCONCELLOS, Eduardo Mendes de; OLIVEIRA, Isabel Cristina Eiras de; VASCONCELLOS, Lélia Mendes de; Silva, Maria Lais da; LIMA, Maria Lourdes Costa Alves de; SANTOS, Marli Monteiro dos; BAHIA, Sérgio Rodrigues. Carlos Nelson, um estudioso das cidades brasileiras. Projeto, São Paulo, n. 123, p. 124-5. jul. 1989.
  • SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos. Movimentos urbanos no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. 255p. il. p&b.
  • SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Edusp, 1999.
  • ______. A cidade como um jogo de cartas. Niterói: Universidade Federal Fluminense: São Paulo:Projeto, 1988. 192p. il. p&b.
  • ______. Sobretudo um arquiteto. Projeto, São Paulo, n. 123, p. 125, jul. 1989.

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