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Cinema

José Padilha

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.11.2024
1967 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
José Padilha (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1967). Produtor, diretor e roteirista. Ingressa na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) para estudar engenharia. Transfere-se para o curso de física e começa a trabalhar no mercado financeiro. Desiste da física e se forma em administração de empresas, também na PUC. Depois de a...

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José Padilha (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1967). Produtor, diretor e roteirista. Ingressa na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) para estudar engenharia. Transfere-se para o curso de física e começa a trabalhar no mercado financeiro. Desiste da física e se forma em administração de empresas, também na PUC. Depois de acompanhar o fotógrafo e amigo Marcos Prado (1961), em um trabalho ligado à ECO-92 sobre a vida dos carvoeiros, os dois fundam a produtora Zazen em 1997. O documentário Os Carvoeiros (1999), dirigido pelo inglês Nigel Noble (1943) e selecionado para o Sundance Film Festival de 2000, é sua primeira produção.

Estreia como diretor em Ônibus 174 (2002), vencedor do Emmy Awards em 2005 e selecionado para os festivais de Sundance, Roterdã e Toronto. O documentário reconstitui, a partir de arquivos televisivos e de depoimentos de entrevistados, o sequestro do ônibus que fazia a linha 174 Gávea-Central do Brasil, em junho de 2000. Dirige, em seguida, os documentários Os pantaneiros (2003), em parceria com Marcos Prado para a National Geographic, e Garapa (2009), iniciado em 2001, mas só finalizado oito anos mais tarde.

Temas como a violência urbana e o despreparo da polícia, evocados em Ônibus 174, são retomados em Tropa de Elite (2007), primeiro longa de ficção de Padilha que recebe o Urso de Ouro de Berlim. O filme é pirateado antes de sua estreia, algo raro sobretudo à época, e seu sucesso no mercado pirata gera um amplo debate. Padilha acredita que a bilheteria (2,4 milhões de espectadores no total1) seria ainda maior sem as cópias ilegais. Mais protegida, a continuação, Tropa de Elite II, o Inimigo Agora é Outro (2010), com mais de 300 cópias no país, somou 11,1 milhões de espectadores, 1o lugar na lista de filmes brasileiros de maior bilheteria2.

Padilha faz a direção de  RoboCop (2014) para um estúdio de Hollywood, remake do filme do diretor Paul Verhoeven (1938) de 1987. Depois disso estreia, em 2015, a série Narcos, do serviço online de TV Netflix, sobre Pablo Escobar (1949-1993) e o tráfico de drogas na Colômbia – dirige os primeiros episódios e é produtor executivo da série. Padilha dirige ainda o segmento Inútil Paisagem da coletânea de curtas Rio, Eu te amo (2014) e, na produtora Zazen, produz filmes de Marcos Prado, como Estamira (2004), e Paraísos Artificiais (2012).

 Análise da Trajetória
José Padilha faz parte de um grupo de diretores que retrata a violência urbana no Brasil, a partir da década de 1990 para 20003. Junto com obras posteriores, como O Prisioneiro da Grade de Ferro (2004), de Paulo Sacramento (1971), e Falcão: Meninos do Tráfico (2006), produzido e dirigido pelo rapper MV Bill (1974)  e Celso Athayde (1963), Ônibus 174 estimula “a reflexão sobre o próprio ato de representar, na televisão e no cinema”4. No caso do filme de Padilha, além de narrar a história do sequestro do ônibus, discute-se como o sequestrador usa os meios de comunicação para ganhar os holofotes. No registro ficcional, Tropa de Elite aprofunda a discussão sobre a violência urbana e a precariedade do sistema de segurança pública. Essas questões também são abordadas em filmes como Notícias de uma Guerra Particular (1998/1999), de João Moreira Salles (1962) e Kátia Lund (1966); Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles (1955); O Invasor (2002), de Beto Brant (1964), e Carandiru (2003), de Hector Babenco (1946).

Padilha afirma investigar as contradições que envolvem a polícia no Brasil e, com RoboCop e Narcos, a problemática ganha contextos mais amplos. Em suas obras encontram-se, de maneiras distintas, o conflito entre as “boas intenções” de membros da polícia, a corrupção presente na corporação e a interferência dos interesses políticos e midiáticos em situações nas quais a criminalidade ganha destaque.

Seus filmes retomam elementos do cinema de gênero, sobretudo o policial, garantindo sucesso de público. Neles reitera-se a presença de cartelas iniciais, afirmando, de maneira irônica, que são obras de ficção e que as semelhanças com a vida real são coincidências. O ator Wagner Moura (1976), protagonista  de Tropa de Elite I e II e Narcos, e Lula Carvalho (1977), diretor de fotografia de vários de seus filmes, são presenças constantes. São recorrentes também as sangrentas cenas de violência, o narrador-personagem e os longos flashbacks no início das narrativas.

Enquanto documentários como Garapa e Segredos da tribo (2010) recebem críticas negativas5, suas ficções geram polêmica. O crítico Eduardo Valente (1975) afirma que Tropa de Elite “não tem soluções a oferecer, nem respostas a dar”: “A conclusão é jogada para o espectador: se ele resolver rir de algumas sequências francamente assustadoras, é uma opção dele. Se ele optar por julgar que (...)  é melhor um mundo com o Bope do que sem o Bope, isso também é uma escolha dele”6. A posição ideológica do diretor é vista de modo ambíguo. Ônibus 174, ao buscar entender as motivações de Sandro do Nascimento, é tido como ingênuo ou esquerdista; já Tropa de Elite é acusado de corroborar a violência da polícia e ridicularizar qualquer tentativa de ativismo social7.

Contribui nesse sentido um amálgama que a crítica faz entre o ponto de vista do autor e a narração, em off, por parte do protagonista Capitão Nascimento (Wagner Moura), comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), que conduz a trama dos dois Tropa de Elite. O recurso é repetido em Narcos, narrado em off por Steve Murphy, agente antidrogas dos Estados Unidos, interpretado pelo americano Boyd Holbrook (1981).

Além de estimular o debate sobre a polícia brasileira e a violência no cinema, Padilha enriquece a discussão sobre a produção, o financiamento e a exibição de filmes. Depois de Tropa de Elite sofrer com a pirataria, o cineasta decide produzir e distribuir Tropa de Elite 2, aumentando seu controle sobre os rendimentos. No caso de RoboCop, orçado em 130 milhões de dólares, trabalha dentro do sistema de estúdios hollywoodianos e, no de Narcos, produz e dirige parcialmente uma série destinada à internet.

Notas
1 Segundo levantamento do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA), da Ancine, de 1970 a 2014. Disponível em: <   http://oca.ancine.gov.br/media/SAM/DadosMercado/2105-22052015.pdf >. Acesso em: 9 nov. 2015.
2 Idem.
3 HAMBURGER, Esther. Políticas da representação: ficção e documentário em Ônibus 174. In: MOURÃO, Maria Dora; LABAKI, Amir (Orgs.). O cinema do real. São Paulo: Cosac & Naify, 2014. p. 295-326.
4 VALENTE, Eduardo. Na terceira pessoa do documental. Tropa de Elite, de José Padilha (Brasil, 2007). Revista Cinética, set. 200. Disponível em: <  http://www.revistacinetica.com.br/tropadeelite.htm >. Acesso em: 9 nov. 2015.
5 Alguns exemplos: CALIL, Ricardo. Filme de José Padilha falha ao analisar a fome no Brasil. Folha de S. Paulo, São Paulo, 29 maio 2009; EDUARDO, Cléber. Falsa denúncia. Garapa, de José Padilha (Brasil, 2009). Revista Cinética, jun. 2009. Disponível em: < http://www.revistacinetica.com.br/garapa.htm >. Acesso em:  9 nov. 2015.
6 VALENTE, Eduardo, op. cit.
7 Idem. 

Obras 1

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