Biografia

Makely Oliveira Soares Gomes (Valença, Piauí, 1975). Compositor, cantor, poeta, produtor. Nasce em Valença, Piauí, muda-se para Barão de Cocais, município mineiro em que passa a infância. Deixa a cidade em 1991 para estudar e vai residir em Belo Horizonte, Mariana e Ouro Preto. Nesta localidade, estuda filosofia e se depara com uma efervescente cena cultural. Sua formação de músico autodidata é ampliada nos Festivais de Inverno de Ouro Preto, eventos que o põem em contato com artistas de renome nacional e internacional.

Em 1998, Makely Karetorna a Belo Horizonte e inicia a carreira artística como poeta e compositor. Reconhecido como importante agitador e produtor cultural da cidade, ele organiza, em 2002, o Reciclo Geral, projeto que revela diversos músicos mineiros. Desse evento nasce o CD coletivo A Outra Cidade, de 2003, com canções de sua autoria e dos parceiros Kristoff Silva e Pablo Castro. No mesmo ano, publica o livro de poemas Ego Excêntrico, edição acompanhada do CD Poemas de Ouvido. Com Maísa Moura, produz em 2006 o disco Danaide. Seu primeiro trabalho solo, o CD Autófago, é lançado no ano seguinte. Em 2009 ele apresenta uma versão acústica do disco em show realizado em Portugal.

Considerado por músicos e críticos como um dos melhores letristas de Belo Horizonte, Makely Ka tem canções gravadas por artistas como Titane, Julia Ribas, Flávio Henrique, Chico Saraiva, Alda Rezende, Aline Calixto e Kristoff Silva.

Comentário Crítico

A canção de Makely Ka é um meio de expressão das inquietações de um poeta e compositor que faz de sua obra um espaço de reflexão metalinguística sobre o lugar que o artista e a arte ocupam no mundo contemporâneo.

Interessado pelos movimentos artísticos de vanguarda do século XX, Makely Ka aproxima-se dos poetas concretistas e dos compositores tropicalistas em canções como Olhos da Nau, 2007, com parceria de Kristoff Silva, ao combinar palavras que têm em comum sons de consoantes e/ou de vogais: "Olhos de faca/Duas adagas/Ferem e afagam/Tristezas de fado". Influenciado por compositores como Noel Rosa, Tom Jobim, Torquato Neto, Tom Zé, Aldir Blanc, Itamar Assumpção e Arnaldo Antunes, Makely Ka demonstra sua versatilidade ao compor desde a lírica Monotonia Gris, do disco Danaide, até a pesada Punk de Boutique, do CD Autófago.

Em Autófago, ele investe na linguagem do rock, combinando a voz rascante com guitarras distorcidas e samples (amostras) de declarações de personalidades como o cineasta Glauber Rocha, na canção Cérebro na Cuba, e o presidente venezuelano Hugo Chávez em Não Se Meta. As canções desse CD revelam seu vínculo com a cultura marginal brasileira de poetas como Torquato Neto, para quem a autofagia representa a introspecção radical. Na obra de Makely Ka, a autofagia se expressa como a indignação de um artista produtor da própria carreira diante do fato de que, no contexto cultural contemporâneo, os consumidores de arte experimental são geralmente os próprios criadores: "Eu me alimento da/Carniça do meu pensamento/ E me oriento por ecos e condicionamento/ Meu amuleto são os ossos com que me sustento".