Stefania Bril
![Dupla Proteção, 1973 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/011747001019.jpg)
Dupla Proteção, 1973
Stefania Bril
Matriz-negativo
Acervo do Instituto Moreira Salles
Texto
Stefania Bril (Gdansk, Polônia, 1922 – São Paulo, Brasil, 1992), fotógrafa, crítica, curadora de fotografia. Sua produção fotográfica se caracteriza pelo registro de cenas inesperadas no espaço urbano. Nas áreas de crítica e de curadoria, a artista se empenha para estimular o desenvolvimento do campo da fotografia no Brasil.
Nascida em Gdansk, Polônia, em 1922, no seio da família judia Ferszt, Stefania Bril peregrina pelo país, em 1939, por causa da perseguição nazista. Em 1945, instala-se na cidade de Lodz, onde conhece Casemiro Bril, com quem se casa no mesmo ano. Em 1946, a crescente submissão da Polônia ao governo soviético1 motiva as famílias Ferszt e Bril a deixarem o país. Stefania e Casemiro conseguem bolsas no curso de química da Universidade Livre de Bruxelas e ficam na capital belga até 1950, quando migram para o Brasil. A artista trabalha em indústrias até 1962 e adquire nacionalidade brasileira em 1955. Em 1969, ingressa na escola de fotografia Enfoco2 em 1969 e, a partir de então, se dedica à fotografia. A produção da fotógrafa se divide em dois momentos: a década de 1970, dedicada ao desenvolvimento da linguagem fotográfica, e a década de 1980, focada no trabalho como crítica, curadora e organizadora de eventos e instituições.
Quanto à produção fotográfica, Stefania Bril se define como fotógrafa de calçada, interessada no cotidiano e nas coisas desimportantes que, segundo ela, são as únicas que dão importância à vida. Com uma postura lúdica, coloca em questão a aparente normalidade das cenas ao retratar detalhes insólitos do cotidiano urbano. A disputa de significados entre palavra e imagem, em situações nas quais a palavra aparece como figura, é outra característica do trabalho de Bril. Em cenas banais, surgem detalhes que surpreendem o olhar e rompem com a expectativa de objetividade documental da fotografia, convidando o espectador a se deter e refletir sobre a imagem, em vez de apenas recebê-la de forma passiva. Além do inusitado e da ironia, a produção fotográfica de Bril apresenta também críticas à sociedade de consumo. A opção pela fotografia em preto e branco e a presença de pessoas em meio à simetria de objetos e estruturas arquitetônicas remetem ao trabalho de fotógrafos como o francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004), o romeno Brassaï (1899-1984) e o húngaro André Kertész (1894-1985), aos quais a fotógrafa declara admiração.
A primeira exposição individual acontece em 1970, no Clube Hípico de Santo Amaro, em São Paulo. A partir de então, realiza diversas exposições individuais, integrando também mostras coletivas, como a da sala de fotografia da 13ª Bienal Internacional de São Paulo (1975), da qual participa com 34 trabalhos. Em seu primeiro livro, Entre, de 1974, aborda o insólito e o poético da cidade de São Paulo. As imagens presentes nesse trabalho falam da subjetividade do encontro entre corpos que só a fotografia, nas artes visuais, é capaz de testemunhar. O tipo de provocação conceitual proposto por Stefania Bril nesse primeiro livro está presente também em ensaios de fotografia urbana não publicados e se encontram no arquivo da fotógrafa, depositado no Instituto Moreira Salles.
No final da década de 1970, inicia o trabalho como crítica, curadora e organizadora de eventos e instituições. São desse período duas contribuições marcantes para o campo da fotografia: o Encontro de Campos de Jordão e as críticas no jornal O Estado de S. Paulo. Em 1978, concebe e coordena o I Encontro Fotográfico de Campos de Jordão3, evento sem precedentes no país, com a intenção de estimular a linguagem fotográfica no Brasil e promover o diálogo com outras formas de expressão visual. Em setembro do mesmo ano, publica sua primeira crítica de fotografia no suplemento cultural do jornal O Estado de S.Paulo, intitulada “A fotografia como forma de expressão”, e mantém colaboração regular com o jornal até 1991. Atua também como colunista na revista Iris4, de 1982 a 1991.
Em 1990, funda a Casa de Fotografia Fuji. O centro cultural patrocinado pela empresa japonesa tem como objetivo ser um ponto de encontro de fotógrafos e estimular o debate em torno da imagem fotográfica e a formação de profissionais e amadores. A partir do projeto de curadoria da Casa estabelecido por Stefania Bril, é possível perceber que a fotógrafa mantém diálogo com o campo da fotografia internacional para definir os equipamentos da instituição (biblioteca, videoteca, laboratório, auditório para projeções). Em seu primeiro ano de funcionamento, o espaço atrai cerca 6 mil pessoas para suas atividades e ganha o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como melhor espaço cultural especializado da cidade.
Stefania Bril assume a missão de inserir o Brasil nos acontecimentos mundiais do campo da fotografia. No trabalho como fotógrafa, desmonta a objetividade do real com o olhar lúdico, irônico e atento aos detalhes, que entende a fotografia não apenas como meio de documentação e comunicação, mas também como modo de vida.
Notas
1. O governo soviético, na Polônia, também promove a perseguição aos judeus.
2. Fundada em agosto de 1968 por Cláudio Araújo Kubrusly, repórter fotográfico do Jornal do Brasil, a Enfoco conta com Maureen Bisilliat (1931) em seu quadro de professores e exerce um papel importante no fortalecimento do ensino de fotografia na cidade de São Paulo até julho de 1976, quando encerra suas atividades.
3. Evento inspirado nos Rencontres de la Photographie, realizado em Arles, na França. O Encontro Fotográfico de Campos de Jordão é fundado em 1970 e tem apenas mais uma edição, em 1979.
4. A revista Iris, especializada em fotografia, é fundada em 1947 e exerce importante papel na difusão da atividade fotográfica no Brasil.
Obras 9
Avenida Água Funda (São Paulo, SP)
Avenida São Luís (São Paulo, SP)
Dupla Proteção
Entre
Rua Haddock Lobo (São Paulo, SP)
Exposições 7
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15/6/1983 - 19/9/1983
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12/7/1991 - 11/8/1991
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19/10/1998 - 22/11/1998
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23/1/2004 - 27/6/2004
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 11
- ALVES, Célia Cotrim. Stefania Bril. Iris, n. 265, pp. 6-12, jun. 1974.
- BRIL, Stefania. Entre. Textos-poemas de Olney Krüse. São Paulo : s.n., 1974. 137 p.il. p.b.
- BRIL, Stefania. Entre. Textos-poemas de Olney Krüse. São Paulo : s.n., 1974. 137 p.il. p.b.
- BRIL, Stefania. Notas. São Paulo: Prêmio Editorial/ Kodak Brasileira, 1987.
- BRIL, Stefania. Stefania Bril: viva vida. Apresentação Olney Krüse. São Paulo : Casa da Fotografia Fuji, 1993. f. dobrada: il. p.b.
- CAMARGO, Mônica Junqueira; MENDES, Ricardo. Fotografia: cultura e fotografia paulistana no século XX. São Paulo: SMC/CCSP/Divisão de Pesquisas, 1992.
- CARBONCINI, Anna (Coord.). Coleção Pirelli/ MASP de Fotografias: v. 8. Versão em inglês Kevin M. Benson Mundy. São Paulo: MASP, 1998.
- CHIODETTO, Eder. Panorama da foto brasileira está no MASP. Folha de S. Paulo, São Paulo, 19 out. 1998. Acontece, p.2.
- MENDES, Ricardo. "Stefania Bril: crítica e ação cultural em fotografia nas décadas de 1970 e 1980". In: ZERWES, Erika; COSTA, Helouise. Mulheres fotógrafas, mulheres fotografadas: fotografia e gênero na América Latina. São Paulo: Intermeios, 2020.
- RAMOS, Helena Regina de Paiva. Mulheres jornalistas: a grande invasão. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado / Fundação Cásper Líbero, 2010.
- REIS, Manuel. Carga pesada, agora como filosofia e arte. Diário do Grande ABC, Santo André, 13 dez. 1981.
Como citar
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STEFANIA Bril.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa3739/stefania-bril. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7