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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Ricardo Aleixo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.09.2024
14.09.1960 Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte
Ricardo José Aleixo de Brito (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1960). Poeta, músico, artista multimídia, performer, produtor cultural. Sua lírica é influenciada pela poesia concreta, experimentando a palavra em suas dimensões de conteúdo, sonoridade e visualidade. Seus poemas frequentemente transitam por variadas linguagens, como a música, a perfor...

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Ricardo José Aleixo de Brito (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1960). Poeta, músico, artista multimídia, performer, produtor cultural. Sua lírica é influenciada pela poesia concreta, experimentando a palavra em suas dimensões de conteúdo, sonoridade e visualidade. Seus poemas frequentemente transitam por variadas linguagens, como a música, a performance e as artes plásticas. Questões sociais também estão presentes em seus poemas, valorizando a memória e identidade afro-brasileiras, com referências ao sagrado de matriz africana, à cultura pop e ao cinema.

A primeira formação artística de Aleixo se dá na infância, na área da música, de modo autodidata. Aos 17 anos, escreve as primeiras canções e tem as primeiras experiências com poesia escrita, influenciadas pela composição espacial livre e a  expressividade gráfica da poesia concreta. 

Aleixo estuda no Instituto Municipal de Administração e Ciências Contábeis, mas não chega a concluir o curso. Em 1992, publica seu primeiro livro de poemas, Festim: um desconcerto de música plástica. Desde o título, o livro aponta para a interdisciplinaridade, com a influência decisiva da música e das artes plásticas na produção do poeta.

Atuando paralelamente no campo da produção cultural, Aleixo é um dos responsáveis, em 1995, pela primeira edição do Festival de Arte Negra (FAN), promovido pela prefeitura de Belo Horizonte. O Festival traz na programação seminários e atividades formativas, além de apresentações, encontros e exposições. 

Em 1996, publica A roda do mundo, escrito em parceria com Edimilson de Almeida Pereira (1963). O livro é composto por orikis, gênero de poesia iorubá cantada, que recupera temáticas religiosas e mundanas. No livro, mitologias nagô-iorubá convivem com referências culturais variadas, como expresso no oriki "Cine-olho", que alude ao cinema do diretor russo Dziga Vertov (1895-1954). 

A recuperação de tradições poéticas africanas indica outro aspecto recorrente na obra de Aleixo: a etnopoesia. Essa característica valoriza culturas orais por meio, entre outros recursos, da tradução de elementos sonoros e corporais para o texto escrito.

No livro Trívio, publicado em 2002, as preocupações sociais de Aleixo ganham destaque. No poema "Rondó da ronda noturna", por exemplo, o tema é a violência policial contra a população negra. O formato tradicional de publicação é invertido: o texto é escrito em caracteres brancos sobre a página negra.  

Recursos visuais como a tipografia, a composição das letras na página são elementos de significado e contribuem para a interpretação do texto. O símbolo + é utilizado em lugar da palavra "mais" e remete tanto aos números do extermínio do povo negro como às cruzes de um cemitério. A repetição do símbolo reflete a persistência da violência estrutural presente desde a fundação escravocrata brasileira.

Em Aleixo, o texto impresso é uma etapa da criação, não sua forma final. Os poemas não são fixos, pois se manifestam de outras formas na tradução para diferentes linguagens e formatos. As obras se reinventam em experimentos de vídeo e de artes visuais, incluídas a dança contemporânea e a declamação musicada. 

Um poema exemplar desse desdobramento é “Solo”, publicado em 2010 no livro Modelos vivos. Extraídas desse poema, o verso "Boca também toca tambor" dá nome à performance realizada por Aleixo no mesmo ano.

A influência do jazz se manifesta no improviso e nas diferentes vocalizações do mesmo verso repetido de forma ritmada enquanto imagens de vídeo são projetadas ao fundo. A música é criada ao vivo, com o auxílio de um pedal que armazena o som captado e o reproduz posteriormente, gerando diversas camadas da voz do poeta.

No livro Mundo palavreado, lançado em 2013, o mesmo verso é retomado, agora como título de um poema de ritmo cadenciado por rimas e aliterações que trata dos diversos usos da boca, de tradições orais e da cultura diaspórica africana.

Mesmo sem métrica rigorosa, a musicalidade é reforçada pela abundância de redondilhas e pelo refrão repetido ao final de cada quarteto. A transformação do verso em performance e, depois, em um novo poema reforça a característica transmidiática e fluida da obra de Aleixo, em que a poesia transita por diferentes suportes, linguagens e formatos.

Além do trabalho multimidiático, Aleixo coordena e atua como parceiro em projetos culturais. É curador do festival Zona de Invenção Poesia e desenvolve projetos de pesquisa e formação no Laboratório Interartes Ricardo Aleixo (Lira), localizado no bairro Campo Alegre, em Belo Horizonte.

Em 2017, publica Antiboi, finalista do Prêmio Oceanos. O curto poema que dá nome ao livro estabelece relação de oposição entre o Festival Folclórico de Parintins e a vida, onde nada é garantido, nada é caprichoso, diferentemente do que ocorre na competição entre as agremiações carnavalescas do Boi Caprichoso e do Boi Garantido.

A lírica de Aleixo é marcada pelo conceito expandido de poesia, que contempla a palavra em suas dimensões verbal, visual e sonora. Em sua obra, a poesia manifesta seu conteúdo igualmente por meio do corpo, da imagem e do som. Seus poemas mais marcantes refletem as relações de poder historicamente construídas na sociedade brasileira. 

Obras 13

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Exposições 14

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Performances 1

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Mídias (1)

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Ricardo Aleixo - Enciclopédia Itaú Cultural
Nascido em Belo Horizonte, Ricardo Aleixo integra uma geração que tenta criar a partir da capital mineira. Sobre sua obra, o autor cita posfácio escrito por Sebastião Uchoa Leite para seu livro Trívio, no qual ele descreve Aleixo como “inclassificável”: “Esse é o lugar que me agrada ocupar, tanto em termos de gêneros quanto de nacionalidade”, diz o escritor. À poesia, que ele desenvolve desde os 17 anos, junta-se o que ele define como um trabalho intermídia, no qual mesclam-se música, imagem, vídeo e outras formas de expressão artística. “Mais do que na perspectiva chamada de multimídia, na qual as coisas se somam quantitativamente, entendi que eu queria a soma qualitativa”, explica. Para ele, o papel do poeta contemporâneo é o de “embaralhar as cartas”. “Das artes todas, talvez a poesia seja a que está mais livre da lógica de mercado”, diz. “A visão de mundo mais desconcertante e pessoal pode ser expressa pela poesia.”

Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Carol Fomin (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)

Fontes de pesquisa 12

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  • ALEIXO, Ricardo. "Um coletivo chamado Ricardo Aleixo, que chega aos 60 anos: 'Eu respirei'". Estado de Minas. Disponível em https://www.em.com.br/app/noticia/pensar/2021/01/22/interna_pensar,1231295/um-coletivo-chamado-ricardo-aleixo-que-chega-aos-60-anos-eu-respirei.shtml. Acesso em: 13 out. 2021.
  • ALEIXO, Ricardo. Festim: um desconcerto de música plástica. Belo Horizonte: Ed. Oriki, 1992.
  • CORONA, Ricardo. Dossiê Ricardo Aleixo com ensaio, seleção de poemas e entrevista. Revista Oroboro, nº 5. Curitiba: Editora Medusa, 2005.
  • COSTA PINTO, Manuel da. Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 20
  • FERREIRA, Laisa Barreto; ALVES, Moisés Oliveira. "O expandido em modelos vivos, de Ricardo Aleixo". In: Revista Discentis, UNEB, DCHT-XVI, Irecê, v. 7, n. 1, p. 28-41, fev. 2019.
  • FONSECA, Maria Nazareth Soares. Literatura, história e cultura afro-brasileira. Fundação Cultural Palmares, 2006. CD-ROM.
  • GUSTONI, Prisca. "Um corpo que oscila: performance, tradição e contemporaneidade na poética de Ricardo Aleixo". Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, núm. 33, pp. 25-49. Universidade de Brasília, 2009.
  • MARTINS, Aulus Mandagará. "O silêncio que nos ronda: poesia e política em dois poemas de Ricardo Aleixo". Nau literária - crítica e teoria da literatura em língua portuguesa. UFRGS. Vol.14. 2018.
  • MORAIS, Carlos Francisco de. "O passaporte diploemático de Ricardo Aleixo". Dossiê temático: os limites da poesia. v. 11, n. 02 (2018).
  • RODRIGUES, Afonso Celso Carvalho. E pluribus unum: Ricardo Aleixo, poeta interartes. Tese de doutorado. Universidade Federal de Juiz de Fora. 2013.
  • SCHERER, Telma. ""Boca também toca tambor": poesia e performance de Ricardo Aleixo". In: Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL. BOITATÁ, Londrina, n. 23, jan-jul 2017.
  • SOBRAL, Ana; OLIVEIRA, Eduardo Jorge de. "Movimentos, diásporas, conflitos: Ricardo Aleixo e Diamondog no Cabaret Voltaire". BRASILIANA: Journal for Brazilian Studies. Double Issue Vol. 8 Nos. 1-2, 2019.

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