Nuca de Tracunhaém
Texto
Manoel Borges da Silva (Nazaré da Mata, Pernambuco, 1937 – Recife, Pernambuco, 2014). Escultor, ceramista e oleiro. Na infância, produz brinquedos de barro para vender na feira de Carpina, Pernambuco. Por volta de 1940, transfere-se para Tracunhaém e adota o nome da cidade, reconhecida pela tradição em cerâmica. Em 1968, esculpe o primeiro leão que dá origem a sua série mais conhecida. Peixes e galinhas, entre outros animais, são também temas recorrentes em sua produção, além de figuras femininas e anjos. Em feiras e salões de arte popular, convive com ceramistas como Zé do Carmo (1933), Ana das Carrancas (1923-2008) e Mestre Vitalino (1909-1963). Em 1976, participa de feira em São Paulo, organizada pela Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur) e ganha reconhecimento nacional. Sua esposa, Maria Gomes da Silva, também conhecida como Maria do Nuca, ajuda-o em seu trabalho. Possui obras em espaços públicos, como as praças Primeiro Jardim de Boa Viagem e Tiradentes, no Recife, e nos jardins do Sítio Burle Marx, no Rio de Janeiro. Integra a Mostra do Redescobrimento, realizada pela Fundação Bienal de São Paulo, em 2000, e a exposição Pop Brasil: a Arte Popular e o Popular na Arte, exibida no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em São Paulo, em 2002. Em 2005, é considerado Patrimônio Vivo pelo governo de Pernambuco e por isso recebe uma pensão vitalícia do estado para que repasse seu conhecimento a novas gerações. Depois de seu falecimento, em 2008, os filhos – Marcos Borges da Silva, José Guilherme Borges e Marcelo Borges – dão continuidade ao ateliê.
Análise
Os leões dominam a produção de esculturas em cerâmica de Nuca de Tracunhaém. É possível que as primeiras peças representando esse animal sejam fruto de encomenda. Entretanto, é difícil aferir a trajetória desse tema, com forte presença na xilogravura tradicional do nordeste brasileiro1. Não há registro de possíveis mestres populares com os quais o artista tenha aprendido o ofício, apesar de acreditar-se que Nuca provenha de uma família de artesãos.
Os leões habitam o imaginário medieval e estão presentes na heráldica e na xilogravura. Entretanto, essa referência, trabalhada de modo não naturalista, pode ter chegado a Nuca de Tracunhaém por via oral ou textual e, a partir dela, tenha elaborado-a de forma plástica.
A rigidez geométrica e a síntese da forma são características dos leões de Nuca; notam-se os joelhos indicados por relevos circulares mínimos. O crítico Clarival do Prado Valladares (1918-1983), que desenvolve pesquisa sobre arte popular no país, entende que a “estética arcaica”, presente em parte das manifestações artísticas populares, define-se pela atitude hierática, frontalidade, soberania e solidão da figura 2, traços importantes na obra de Nuca.
Nos trabalhos do artista, essas figuras estão destituídas de função religiosa, e as esculturas, apesar de obedecerem a padrões relativamente fixos, demonstram variações quanto aos detalhes. A juba dos leões, por exemplo, assume várias formas, sempre a partir da repetição de um valor formal – circular, serpenteado, sulcado – que podem ainda aparecer em outras figuras.
Notas
1. MACHADO, Lourival Gomes. Três artigos de Lourival Gomes Machado. In: LACOMBE, Américo Jacobina (Org.). Xilógrafos nordestinos. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1977.
2. VALLADARES, Clarival do Prado. Primitivos, genuínos e arcaicos. In: AGUILAR, Nelson (Org.). Mostra do redescobrimento: arte popular. São Paulo: Fundação Bienal: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000, p. 99.
Exposições 2
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6/7/2002 - 25/8/2002
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31/10/2025 - 31/12/2020
Fontes de pesquisa 9
- A ARTE POPULAR e o popular na arte. Pop Brasil. São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002.
- AGUILAR, Nelson (Org.). Mostra do redescobrimento: arte popular. São Paulo: Fundação Bienal: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000.
- FROTA, Lélia Coelho. Mitopoética de 9 artistas brasileiros: vida, verdade e obra. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
- GALERIA ESTAÇÃO. Nuca de Tracunhaém. Disponível em: http://www.galeriaestacao.com.br/pt-br/artista/32/nuca-de-tracunhaem. Acesso em: 18 jan. 2021.
- GASPAR, Lúcia. Nuca [Manoel Borges da Silva]. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar./index.php?option=com_content&view=article&id=204&Itemid=193. Acesso em: 17 out. 2017.
- MACHADO, Clotilde de Carvalho. O Barro na arte popular brasileira. Rio de Janeiro: Lídio Ferreira Junior, 1977.
- MACHADO, Lourival Gomes. Três artigos de Lourival Gomes Machado. In: LACOMBE, Américo Jacobina (Org.). Xilógrafos nordestinos. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1977.
- NUCA - Manoel Gomes da Silva. Disponível em: http://www.ceramicanorio.com/artepopular/tracunhaem/mestrenuca/mestrenuca.htm. Acesso em: 15 out. 2010.
- VIANNA, Solange. Começa a 9ª Bienal Naïfs do Brasil em Piracicaba. Instituto Cultural Oswaldo Gallotti. Disponível em: http://www.oswaldogalotti.com.br/materias/read.asp?Id=1744&Secao=111. Acesso em: 15 out. 2010.
Como citar
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NUCA de Tracunhaém.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa355482/nuca-de-tracunhaem. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7