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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Orestes Barbosa

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 01.08.2024
07.05.1893 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
1966 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Orestes Dias Barbosa (Rio de Janeiro RJ 1893 - idem 1966). Compositor. Nasce no bairro carioca de Vila Campista. Filho caçula do major Caetano Lourenço da Silva Barbosa e de Maria Angélica Bragança Dias Barbosa. Na infância, sua família passa dificuldades financeiras e então Orestes Barbosa vive pelas ruas em pequenas atividades, como vendedor d...

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Biografia

Orestes Dias Barbosa (Rio de Janeiro RJ 1893 - idem 1966). Compositor. Nasce no bairro carioca de Vila Campista. Filho caçula do major Caetano Lourenço da Silva Barbosa e de Maria Angélica Bragança Dias Barbosa. Na infância, sua família passa dificuldades financeiras e então Orestes Barbosa vive pelas ruas em pequenas atividades, como vendedor de balas e jornais. Por isso, tem formação autodidata e ingressa na escola regular aos 12 anos. Há indicações de que frequenta o Liceu de Artes e Ofícios, onde aprende a fazer revisão. Em 1905, vence um concurso literário na revista infantil Tico-Tico.

Em 1911, vai trabalhar como revisor no jornal O Mundo, iniciando a longa carreira jornalística. Exerce várias funções, de revisor a secretário, em inúmeros órgãos de imprensa como Diário de Notícias, A Gazeta, O Globo, A Notícia, A Noite, O Dia, A Imprensa. Participa da criação de jornais, como A Jornada, com forte conteúdo crítico, mas de vida efêmera. Em razão de seu trabalho como jornalista com atuação às vezes atrevida, é preso em várias ocasiões e sobre isso escreve o livro de crônicas Na Prisão (1922). Na década de 1930, conciliando as atividades jornalísticas, emprega-se como redator na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em que chega ao cargo de vice-diretor e se aposenta como funcionário público, em 1963.

Casa-se com Regina Nunes da Costa, em 1916, e com ela vive até morrer. Em 1917 nasce seu único filho, Ossian Barbosa. Nesse ano, inicia a trajetória literária com a publicação do livro de poesia Penumbra Sagrada, seguido de Água-Marinha (1921). Continua a lançar livros de crônicas e prosas como Bam-Bam-Bam (1923), Portugal de Perto! (1923), O Português no Brasil (1925) e O Pato Preto (1927) entre outros. Considera que a carreira literária lhe dá condições de concorrer à Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1922, na vaga de aberta com a morte de João do Rio, mas não recebe nenhum voto.

Na década de 1930 se aproxima definitivamente da música popular urbana. Sua canção Bangalô (1930), feita em parceria com Osvaldo Santiago, é gravada por Alvinho, na Odeon, em 1931. Em 1932, torna-se jurado do concurso de escolas de samba na Praça Onze e, no ano seguinte, mantém a coluna Rádio do jornal A Hora e depois Avante!, em que comenta e escreve crônicas sobre música popular. Em 1933 lança o livro precursor das histórias da música popular carioca - Samba: Sua História, Seus Poetas, Seus Músicos e Seus Cantores. Segue fazendo parcerias com inúmeros compositores, como Noel Rosa, Custódio Mesquita, Jota Tomás, Francisco Alves, Wilson Batista e Silvio Caldas, com quem escreve o clássico Chão de Estrelas (1937). Nos anos 1940, letrista importante e destaque entre os compositores, trabalha permanentemente, mas na década seguinte diminui o número de obras.

Nos anos 1960, vive recluso, em consequência de sequelas dos dois derrames que sofre entre 1958 e 1959.

 

Comentário crítico

Orestes Barbosa tem uma trajetória muito singular, começa no jornalismo, caminha em direção à poesia e se consagra na canção popular. Na verdade trata-se de um percurso muito comum entre compositores da música popular: o jornalista/poeta convertido em compositor e letrista. De origem humilde e formação escolar autodidata, Barbosa ingressa no jornalismo como meio de vida, inicia-se na crônica policial e de costumes e esse fato tem impacto nos seus escritos e canções. Nas duas primeiras décadas do século XX vive a boêmia carioca estabelecendo contato com todo tipo de gente. Nesse ambiente desenvolve suas primeiras experiências como poeta e cronista, que são definidoras na formação do compositor. Na boêmia, no Café Nice, conhece vários de seus futuros intérpretes e parceiros, como Noel Rosa, Francisco Alves, Wilson Batista e Silvio Caldas.

A partir dos anos 1930, acompanhando o desenvolvimento da canção popular no Rio de Janeiro, formula suas primeiras composições, atividade que o consagra e que ele mantém ativa por cerca de 20 anos. A primeira de suas obras é Bangalô (1930), em parceria com Osvaldo Santiago, gravada por Alvinho, na Odeon, em 1931. Nesse período, torna-se parceiro de J. Thomaz, líder de orquestra, com quem grava o fox Flor do Asfalto (1931) e os sambas Carioca (1931) e Rosalina (1932). Na primeira metade dessa década inicia produtiva e breve parceria com Francisco Alves, condição que lhe dá destaque e importância − A Abelha da Ironia (fox-canção, 1933), Há uma Forte Corrente contra Você (marcha, 1934), Adeus, Mocidade (samba, 1933), Dona da Minha Vontade (valsa, 1933), Romance (valsa, 1934), A Mulher que Ficou na Taça (1934). Segue nesse período com parcerias com Noel Rosa, Araruta (samba, 1932) e Positivismo (samba, 1933); Nássara, As Lavadeiras (marcha, 1933) e Caixa Econômica (samba, 1933); e Custódio Mesquita, Gato Escondido (marcha, 1934), Cansei de Sofrer (marchinha, 1935), música gravada por Aurora Miranda.¹ Porém, a parceria mais produtiva e que lhe dá maior projeção é feita com o cantor e compositor Silvio Caldas. Com ele, compõe o samba Sem Você e a valsa-canção Serenata, ambos de 1934, as valsas Quase que Eu Disse e Torturante Ironia (1935), O Nome Dela Eu Não Digo (1936), Arranha-Céu (1937), Suburbana (1938) e especialmente Chão de Estrelas (1937), um dos grandes sucessos da canção popular, que recebe várias regravações.

A condição de compositor torna-se mais rarefeita na passagem das décadas de 1930 e 1940. Mas na segunda metade dos anos 1940 retorna às atividades e amplia suas parcerias. Com Wilson Batista faz os sambas Cabelo Branco (1945), Abigail (1947) e Abolição (1951); com Ataulfo Alves, O Negro e o Café (1945); com Benedito Lacerda, Manchete de Estrelas (1945); com Herivelto Martins, Canaviais (1948); e mantém a parceria com Custódio Mesquita, com o samba-choro Flauta, Cavaquinho e Violão (1945). Nos anos 1950 suas atividades diminuem e inicia militância em defesa dos direitos autorais, até o derrame que sofre entre 1958 e 1959.

Do ponto de vista da criação, a obra de Orestes Barbosa pode ser avaliada em três dimensões: a prosa, a poética e a canção. Na prosa predominam as frases e os parágrafos curtos, características da linguagem coloquial e dos cronistas, aprendida e construída na redação dos jornais. Os temas estão intimamente relacionados com a vida urbana, a boêmia e os excluídos sociais. Ambientado nesse tipo de universo e com narrativa com essas características é que ele escreve o livro precursor de aspectos da história da música popular carioca: Samba: Sua História, Seus Poetas, Seus Músicos e Seus Cantores, em 1933. Nele Barbosa mescla aspectos da memória, da crônica e tem pretensões historiográficas. Na poesia se revela tanto o cronista da cidade como o poeta lírico, que segue a rima obrigatória, respeito à métrica e estrofes regulares. Na canção, ele associa essas duas dimensões: poesia lírica e cronista da cidade. Desse modo, procura respeitar certas formalidades, como a métrica, regularidade estrófica, preocupa-se com questões da alma humana, seu inconsciente, mas também apresenta alguma sensualidade. O cenário em que se movimentam seus personagens é o mundo urbano com suas redes populares de sociabilidade. Então aparecem os cabarés, cassinos, luminosos, arranha-céus, barracos, favelas, prostitutas e assim por diante. Paulo Mendes Campos afirma que nas canções de Orestes há "um poder visual fora do comum (...).  As melhores canções parecem roteiros cinematográficos, e o conjunto de todas elas é o script do Rio".

Com essas características compõe dezenas de canções, porém a mais conhecida e que alcança mais sucesso é sem dúvida alguma Chão de Estrelas. Feita em parceria com Silvio Caldas, melodia e letra (Minha vida / Era um palco iluminado / E eu vivia / Vestido de doirado / Palhaço das perdidas ilusões) se consagram como clássico da música popular. A canção é regravada dezenas de vezes por intérpretes tão variados como Lúcio Alves, Maysa, Elizeth Cardoso, Cauby Peixoto, Maria Bethânia, Jacob do Bandolin, Zimbo Trio e Mutantes. Em 1966, é encenada a peça homônima, com direção de Álvaro Guimarães, para contar um pouco da vida do compositor. Roberto Carlos, Chico Buarque e Caetano Veloso não a gravam, mas fazem referência a ela em, respectivamente, Como Dois e Dois, Maninha e Livros. Outros intérpretes contemporâneos gravam algumas canções de Barbosa, como Paulinho da Viola (Óculos Escuros, parceria com Valzinho) e Jards Macalé (Imagens).

Nota
¹ No disco de 78 rpm gravado por Aurora Miranda pela Odeon consta somente Custódio Mesquita como autor, mas na partitura tem a parceria com Orestes Barbosa (Irmãos Vitale n. cat.: 8401 b, MIS/RJ, BNAC). In: DIDIER, Carlos. Orestes Barbosa. Repórter, cronista e poeta. Rio de Janeiro: Ed. Agir, 2005. p. 632.

Fontes de pesquisa 9

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  • ALENCAR, Edigar de. O carnaval carioca através da música. 3ª ed., Rio de Janeiro, Ed Francisco Alves, 1979.
  • Acervos Instituto Moreira Salles. Disponível em: https://ims.com.br/acervos/.
  • BARBOSA, Roberto. Passeio Público o Chão de Estrelas de Orestes Barbosa. Rio de Janeiro, Imprensa da Cidade, 1994.
  • DIDIER, Carlos, MAXIMO, João. Noel Rosa. Uma biografia. Brasília, Ed. UnB, 1990.
  • DIDIER, Carlos. Orestes Barbosa. Repórter, cronista e poeta. Rio de Janeiro, Ed Agir, 2005.
  • EFEGE, Jota. Figuras e coisas da Música popular brasileira. Vols, 1 e 2, Rio de Janeiro, Funarte, 1980.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da Música Popular Brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo: Art Editora,1977. 2 v.
  • Nova História da Música Popular Brasileira, Orestes Barbosa, São Paulo, Editora Abril, 1977.
  • TINHORÃO, José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo, Editora 34, 1998.

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