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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

Afrânio Coutinho

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.10.2024
15.03.1911 Brasil / Bahia / Salvador
05.08.2000 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Afrânio dos Santos Coutinho (Salvador, Bahia, 1911 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000). Crítico literário, ensaísta e professor. Forma-se na Faculdade de Medicina da Bahia em 1931, mas não exerce a profissão de médico e vai trabalhar na biblioteca da faculdade. 

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Biografia

Afrânio dos Santos Coutinho (Salvador, Bahia, 1911 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000). Crítico literário, ensaísta e professor. Forma-se na Faculdade de Medicina da Bahia em 1931, mas não exerce a profissão de médico e vai trabalhar na biblioteca da faculdade. 

A partir de 1934, escreve no jornal O Estado da Bahia. Perseguido pela política autoritária de Getúlio Vargas1 (1882-1954), se exila nos Estados Unidos e vive em Nova York de 1942 a 1947, onde trabalha como redator da revista Seleções, Reader's Digest, ao mesmo tempo que acompanha cursos de história, teoria e crítica literária. Nesse período, tem contato com o new criticism norte-americano, vertente crítica que tem influência na sua obra. Também é pioneiro no estudo do barroco em língua portuguesa. 

De volta ao Brasil, fixa-se na cidade do Rio de Janeiro, e escreve, de 1948 a 1961, artigos de crítica literária na seção Correntes Cruzadas, do Diário de Notícias. Em sua obra crítica constam os quatro volumes, publicados entre 1955 e 1959, de A Literatura no Brasil, organizados e dirigidos por ele com a colaboração de aproximadamente 50 críticos brasileiros. Quase dez anos depois, entre 1968 e 1971, sai a segunda edição revisada e ampliada para seis volumes. 

Em 1958, torna-se professor titular de literatura brasileira na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e, após uma década, é o primeiro diretor da Faculdade de Letras. São publicados, em 1990, os dois volumes da Enciclopédia de Literatura Brasileira, desenvolvidos na Oficina Literária Afrânio Coutinho, criada por ele em 1979. Essa enciclopédia é uma referência para estudantes e pesquisadores da literatura brasileira por seu levantamento minucioso e abrangente de escritores e seus livros, personagens, movimentos e termos literários. 

Análise

Afrânio Coutinho é considerado o introdutor do new criticism no Brasil, corrente crítica anglo-americana que prega a preeminência, a unidade e a autonomia do texto literário, desvinculado das intenções do autor, de sua biografia e das motivações histórico-sociais. Para tanto, busca definir os elementos constitutivos do literário (notadamente da poesia). A introdução desse método no Brasil atende a um momento marcado pela especialização do trabalho crítico como disciplina acadêmica, devido à fundação dos cursos de letras nas universidades brasileiras recém-criadas (na década de 1930) no Rio de Janeiro e em São Paulo. Esse esforço de profissionalização vai envolver Coutinho em polêmicas famosas para impor seu ideal crítico, como a controvérsia com aquele que é, então, considerado o “imperador da crítica literária” brasileira: Álvaro Lins (1912-1970). O que move Coutinho em tais polêmicas é o combate à crítica impressionista, baseada mais no culto da personalidade do crítico do que na obra examinada, e veiculada nos rodapés literários dos principais jornais da época. 

Assim, como explica Denis Lynn Heyck, a adoção das concepções teóricas e metodológicas do new criticism, para Coutinho, é uma forma de combate ao diletantismo e à conduta antiprofissional dos grupos fechados, que monopolizam os principais periódicos literários. Quando de seu retorno ao Brasil em 1948, trata de converter uma doutrina estética (o new criticism) em um instrumento reformista, com ênfase no profissionalismo, na objetividade científica e no rigor metodológico como único meio de livrar a vida intelectual brasileira do peso morto de uma mentalidade intelectual atrasada, caracterizada pelo amadorismo, personalismo e improviso. 

Em seus contornos gerais, diz ainda Heyck, a teoria literária de Coutinho é eclética e pragmática. Suas teorias se afinam muito mais com as concepções do crítico norte-americano René Wellek (1903-1995), filiado ao new criticism, especialmente com as ideias deste sobre a indivisibilidade de uma obra literária e a interdependência existente entre crítica e história literárias. Do mesmo modo que ele, Coutinho defende a unidade como principal valor estético e intelectual, mas, por causa de seu propósito nacionalista (inexistente no horizonte de preocupações do new criticism), ele insiste em delineá-lo em termos utilitários. Essa natureza pragmática também aparece na ênfase sobre a utilidade da teoria, em particular sua função de ensino, pois seu conceito de literatura é servir como plano para mudança. Para Coutinho, o que molda essas diversas características em uma única teoria é a sanção da ciência moderna. Uma teoria da literatura deveria, obviamente, preceder um método para estudá-la, mas ele tende a identificar teoria e método. Na verdade, ele faz coincidir a teoria da literatura com os procedimentos para estudá-la, com a ciência da literatura e com a crítica literária. 

Para Coutinho, considerar a obra como um objeto sem referentes pessoais ou exteriores seria desferir um golpe no impressionismo aristocrático e iniciar a democratização da literatura e da crítica. Ele, frequentemente, usa “profissional” para significar “democrático”, pois considera que a profissão de letras deve ser, nada menos, do que uma meritocracia aberta de artistas em tempo integral.

Nota

1 Getúlio Vargas assume a presidência do Brasil através de um golpe de estado em 1930. O presidente promove o fechamento do Congresso Nacional e extingue os partidos políticos. A imprensa e as artes sofrem censura.

 

Fontes de pesquisa 3

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  • HEYCK, Denis Lynn. Afrânio Coutinho's nova crítica. Luso-Brazilian Review, n. 1, v. 15, University of Wisconsin Press, Summer, 1978. p. 90-104
  • MERQUIOR, José Guilherme. La crítica brasileña desde 1922. In: PIZARRO, Ana (org.). América Latina: palavra, literatura e cultura. São Paulo: Memorial; Campinas: Unicamp, 1995. v. 3.
  • SÜSSEKIND, Flora. Rodapés, tratados e ensaios: a formação da crítica brasileira moderna. In: Papéis colados. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1993.

Como citar

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