Manoel Veiga
Texto
Manoel de Souza Leão Veiga Filho (Recife, Pernambuco, 1966). Pintor, fotógrafo, professor de pintura e ilustrador. A principal característica de suas obras abstratas é o registro proposital do processo de criação, obtido pelo controle parcial de fenômenos físico-químicos envolvidos na aplicação e no deslocamento das cores sobre tela.
Formado em engenharia eletrônica pela Universidade Federal de Pernambuco, Manoel Veiga começa a fotografar durante a graduação como hobby. Passa a se dedicar exclusivamente à arte, e mais especificamente à arte pictórica, no início dos anos 1990, após quatro anos de experiência na indústria de automação. Obtém sua formação inicial em pintura com o artista plástico pernambucano Renato Valle (1958). Posteriormente, Gil Vicente (1958), outro artista pernambucano, o orienta, entre 1995 e 1997.
Como pondera o crítico Agnaldo Farias (1955), a formação artística de Manoel Veiga difere de boa parte dos artistas radicados em São Paulo. Enquanto estes provêm de instituições universitárias da cidade, Veiga não passa por essas instituições e não está alinhado a nenhum grupo.
Duas experiências são importantes para a prática artística de Manoel Veiga. A primeira é sua atuação como bolsista de iniciação científica no Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco, durante a graduação. Ali aprende a observar com sistematicidade os fenômenos naturais, o que favorece o desenvolvimento de suas técnicas de pintura anos depois.
A segunda experiência relevante é o período que passa em Paris, em 1997, quando estuda técnicas de pintura na École des Beaux-Arts. O aprendizado na França influenciaria sua produção posterior.
Embora realize diversas pinturas figurativas durante a década de 1990, a abstração começa a surgir em suas obras por volta de 1997. Nesse ano, as figuras começam a perder solidez e a misturar-se com o fundo. Ex-voto imaterial IV (1997) é um exemplo disso: uma cabeça de face mista, branca e vermelha, se apresenta incompleta na parte superior, em que o fundo escuro vai lhe tomando o lugar.
A partir de 1998, as obras já quase não contêm figurativismo. A construção da pintura passa a envolver o uso de camadas semitransparentes, que geram um efeito de profundidade em telas praticamente monocromáticas. Outras vezes, em obras de mais detalhes, finos fios se cruzam ou se entrelaçam formando imagens com o mesmo efeito de profundidade. As cores dos fios e fundos são variadas, mas escuras; por vezes apenas variações de cinza são usadas. Sua primeira exposição individual, realizada em 2000 na Galeria Vicente do Rego Monteiro, Recife, reúne as obras desse período.
Com o tempo, a escala das telas aumenta, e Veiga vai gradativamente substituindo o gesto do pulso pelo movimento amplo do braço e do corpo sobre a pintura – na série exposta em 2002, no Espaço Virgílio, em São Paulo, as pinceladas são mais livres e afirmativas. O fundo começa a ficar mais evidente nas obras, ganhando protagonismo, e o branco passa a ser usado com mais frequência. A escala maior acompanha a estratégia de pintar com a tela no chão, e o efeito de fluidez se intensifica.
A fluidez toma novas proporções na série exposta no Paço das Artes, em 2003, em São Paulo. Nas obras que compõem essa série o artista passa a utilizar um borrifador de jardinagem. Aplica à tela deitada no chão misturas de tinta com pigmentos selecionados segundo suas propriedades químicas. Depois, borrifa-a com água, de modo a provocar deslocamentos relativamente imprevisíveis dos pigmentos sobre a tela. Opera-se principalmente com o princípio da difusão, que faz com que componentes químicos de cores se dividam e produzam diversos tons.
Ciente de que o acaso e a determinação completos são utopias, Manoel Veiga atua num nível intermediário. Ainda que controle os pigmentos utilizados e domine o início e o fim da feitura da tela, não controla totalmente o resultado final. Trabalha com a probabilidade, baseando-se principalmente no conhecimento de mecânica dos fluidos, que envolve fenômenos como a difusão, a gravidade, a capilaridade, entre outros.
Ao operar com fenômenos da natureza sobre a tela, Manoel Veiga faz uma produção artística inovadora que expande as possibilidades técnicas e explora os conceitos artísticos e científicos. Discutem-se, entre outros aspectos, o gesto do artista, o tempo, o comportamento dos pigmentos e a incerteza quântica.
Exposições 59
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10/10/1997 - 30/10/1997
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7/4/1998 - 7/5/1998
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18/1/2001 - 4/3/2001
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25/4/2001 - 25/5/2001
Exposições virtuais 1
Mídias (1)
A Enciclopédia Itaú Cultural apresenta a série Encontra, produzida pelo canal Arte 1. Em um bate-papo com Gisele Kato, o público é convidado a entrar nas casas e ateliês dos artistas, conhecendo um pouco mais sobre os bastidores de sua produção.
Créditos
Presidente: Milú Villela
Diretor-superintendente: Eduardo Saron
Superintendente administrativo: Sérgio Miyazaki
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Arte 1
Direção: Gisele Kato / Ricardo Sêco
Produção: Yuri Teixeira
Edição: Tauana Carlier
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Fontes de pesquisa 7
- MANOEL Veiga. SESC TV. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?time_continue=3&v=PrKo__xGyYU>. Acesso em 15 fev. 2019.
- SALÃO NACIONAL DE ARTE DE GOIÁS, 2006, Goiânia. Salão Nacional de Arte de Goiás: 6º prêmio Flamboyant Brasil Mostra Sua arte. Curadoria Divino Sobral. Goiás: Flamboyant Shopping Center, 2006.
- VEIGA, Manoel. Manoel Veiga. São Paulo: Paço das Artes, 2003. (Temporada de projetos 2003-2004).
- VEIGA, Manoel. Manoel Veiga. Tradução Beatriz Viégas-Faria. Recife: Fundaj, 2000.
- VEIGA, Manoel. Manoel Veiga. Tradução Beatriz Viégas-Faria. São Paulo: Espaço Virgílio, 2002.
- VEIGA, Manoel. Manoel Veiga: pinturas e desenhos. Recife: Dumaresq Galeria de Arte, 2003.
- VEIGA, Manoel. Manoel Veiga: pinturas recentes. Recife: Dumaresq, 2009. 1 f. dobrada.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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MANOEL Veiga.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa27275/manoel-veiga. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7