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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Thiago Martins de Melo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.01.2023
27.11.1981 Brasil / Maranhão / São Luís
Thiago Martins de Melo (São Luís, Maranhão, 1981). Artista visual. Utiliza a pintura, a escultura e o vídeo como principais suportes. Suas obras investigam, de modo crítico, a história visual do Brasil a partir de outro modo de interpretação da vida e dos fatos, centrado numa perspectiva apoiada em religiões afro-brasileiras, culturas indígenas ...

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Thiago Martins de Melo (São Luís, Maranhão, 1981). Artista visual. Utiliza a pintura, a escultura e o vídeo como principais suportes. Suas obras investigam, de modo crítico, a história visual do Brasil a partir de outro modo de interpretação da vida e dos fatos, centrado numa perspectiva apoiada em religiões afro-brasileiras, culturas indígenas e formas de espiritualidade.

Filho de artista plástico e de psicóloga, desde pequeno se interessa por arte, pela convivência com o ateliê de seu pai. Quando criança se encanta pelo cinema e pelos quadrinhos, quando grava fitas VHS, escreve e desenha histórias. A pintura se torna uma paixão na sua adolescência e aos 16 anos decide estudar arte, quando começa a frequentar o ateliê do artista plástico maranhense Cordeiro do Maranhão (1961). Em 1999, ingressa no curso de artes visuais na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que não conclui. Entre idas e vindas na UFMA, transfere a matrícula para o curso de psicologia, área de que Martins de Melo se aproxima e que influencia sua obra.

O estudo da psicologia social, experiências pessoais e a relação com o entorno da cidade em que nasceu aproximam o artista do sincretismo espiritual e sua construção simbólica, como o tarô e as religiões afro-brasileiras. Os interesses por gênero, sexualidade, casamento e paternidade são pontos explorados na produção do artista entre 2008 e 2011, momento considerado por ele como o início da maturidade de sua obra. Nesse período realiza O teatro nagô cartesiano sob o auxílio de um Baphomet sincretizado (2011), Casa útero (2011) e Heretic, ou O rébis e o martelo (2011). As pinturas a óleo de grandes dimensões exibem imagens sobrepostas que sugerem narrativas, mesclando autorretratos, símbolos religiosos, cenas domésticas e outras de forte teor político.

O processo criativo de Thiago carrega referências de outras áreas, como o cinema, a literatura e pesquisas teóricas, não somente em psicologia. Questões relacionadas à política e economia global, como as dinâmicas econômicas, a desindustrialização de países periféricos, as mudanças da classe trabalhadora e sua relação com a população pobre, negra e indígena, além do vínculo da resistência social por meio da espiritualidade, ganham foco na sua trajetória nos anos seguintes.

As telas mantêm grande dimensão, como Árvore de sangue: fogo que consome porcos (2013), com cerca de 4 metros de altura e largura. As massas de tinta são carregadas e coloridas, criando diversas camadas na pintura. Rostos de políticos brasileiros aparecem no primeiro plano, sobre a representação de uma revolta com pessoas armadas em meio a um incêndio. No centro da tela há rostos de líderes populares, que se sobrepõem a caveiras, porcos e imagens de crianças. Para além de representações, as figuras surgem como símbolos carregados de significados locais e globais e permitem que o público as interprete de acordo com seu próprio repertório.

Martírio (2014), exposta na 31ª Bienal de São Paulo, em 2014, demonstra o aprofundamento da investigação de Melo sobre o entrelaçamento entre religiosidade e política. A obra integra um conjunto de objetos dispostos no espaço: duas telas de grandes dimensões, esculturas de um pajé e totens que fundem cabeças decepadas, pneus e armas. Também sinaliza o desdobramento da obra de Thiago da pintura para o espaço de forma expandida, a partir da junção de símbolos e alegorias em diferentes suportes e materiais, como esculturas em bronze e poliuretano.

A pintura somada à escultura se torna o principal caminho para materializar os temas do artista. Radicaliza o uso do espaço e a sobreposição de outros elementos à pintura e passa a inserir monitores de TV nas telas. Neles, animações em stop-motion e vídeos curtos, realizados a partir do registro de desenhos e pinturas do próprio artista, configuram-se parte integrante da unidade das obras. A experimentação do vídeo como novo modo de expansão da pintura, presente nos trabalhos que integram a série Teatro nagô cartesiano (2015), desemboca na primeira animação do artista.

Barbara balaclava (2016), curta-metragem de cerca de 20 minutos, é composto por mais de quatro mil imagens de pinturas e desenhos em pequeno formato. A narrativa emaranhada apresenta a heroína, uma escrava que viaja no tempo em busca de reparar a violência sofrida. Para o curador Moacir dos Anjos (1963), a obra exibe cenas de confronto das histórias recente e distante do Brasil. O vai-e-vem no tempo histórico deixa clara a longevidade dos processos de dominação que expropriam há séculos as riquezas materiais e simbólicas das populações nativas do Brasil.

A composição das obras de Melo perpassa também os títulos, que constituem elementos de interpretação para o espectador. A individual “Necrobrasiliana” (2019), por exemplo, possui elementos importantes para acessar símbolos e significados nas obras que a constituem. O neologismo formado a partir de “necro” (morte) e “brasiliana” (coleção de obras que tematizam o Brasil), corresponde à interpretação crítica que o artista tem desenvolvido ao longo de sua trajetória. Nas pinturas, enfatiza o manejo da iconografia histórica brasileira em contraposição ao contexto político presente, gerando novos significados.

A articulação de múltiplas narrativas visuais e verbais, por meio da diversidade de figuras e técnicas, corresponde à complexidade dos temas abordados pelo artista. A obra de Thiago Martins de Melo fornece ao público elementos importantes para uma leitura crítica da construção de símbolos e imagens nacionais e para a valorização de outras cosmologias.

Exposições 57

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