Thiago Martins de Melo
Texto
Thiago Martins de Melo (São Luís, Maranhão, 1981). Artista visual. Utiliza a pintura, a escultura e o vídeo como principais suportes. Suas obras investigam, de modo crítico, a história visual do Brasil a partir de outro modo de interpretação da vida e dos fatos, centrado numa perspectiva apoiada em religiões afro-brasileiras, culturas indígenas e formas de espiritualidade.
Filho de artista plástico e de psicóloga, desde pequeno se interessa por arte, pela convivência com o ateliê de seu pai. Quando criança se encanta pelo cinema e pelos quadrinhos, quando grava fitas VHS, escreve e desenha histórias. A pintura se torna uma paixão na sua adolescência e aos 16 anos decide estudar arte, quando começa a frequentar o ateliê do artista plástico maranhense Cordeiro do Maranhão (1961). Em 1999, ingressa no curso de artes visuais na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que não conclui. Entre idas e vindas na UFMA, transfere a matrícula para o curso de psicologia, área de que Martins de Melo se aproxima e que influencia sua obra.
O estudo da psicologia social, experiências pessoais e a relação com o entorno da cidade em que nasceu aproximam o artista do sincretismo espiritual e sua construção simbólica, como o tarô e as religiões afro-brasileiras. Os interesses por gênero, sexualidade, casamento e paternidade são pontos explorados na produção do artista entre 2008 e 2011, momento considerado por ele como o início da maturidade de sua obra. Nesse período realiza O teatro nagô cartesiano sob o auxílio de um Baphomet sincretizado (2011), Casa útero (2011) e Heretic, ou O rébis e o martelo (2011). As pinturas a óleo de grandes dimensões exibem imagens sobrepostas que sugerem narrativas, mesclando autorretratos, símbolos religiosos, cenas domésticas e outras de forte teor político.
O processo criativo de Thiago carrega referências de outras áreas, como o cinema, a literatura e pesquisas teóricas, não somente em psicologia. Questões relacionadas à política e economia global, como as dinâmicas econômicas, a desindustrialização de países periféricos, as mudanças da classe trabalhadora e sua relação com a população pobre, negra e indígena, além do vínculo da resistência social por meio da espiritualidade, ganham foco na sua trajetória nos anos seguintes.
As telas mantêm grande dimensão, como Árvore de sangue: fogo que consome porcos (2013), com cerca de 4 metros de altura e largura. As massas de tinta são carregadas e coloridas, criando diversas camadas na pintura. Rostos de políticos brasileiros aparecem no primeiro plano, sobre a representação de uma revolta com pessoas armadas em meio a um incêndio. No centro da tela há rostos de líderes populares, que se sobrepõem a caveiras, porcos e imagens de crianças. Para além de representações, as figuras surgem como símbolos carregados de significados locais e globais e permitem que o público as interprete de acordo com seu próprio repertório.
Martírio (2014), exposta na 31ª Bienal de São Paulo, em 2014, demonstra o aprofundamento da investigação de Melo sobre o entrelaçamento entre religiosidade e política. A obra integra um conjunto de objetos dispostos no espaço: duas telas de grandes dimensões, esculturas de um pajé e totens que fundem cabeças decepadas, pneus e armas. Também sinaliza o desdobramento da obra de Thiago da pintura para o espaço de forma expandida, a partir da junção de símbolos e alegorias em diferentes suportes e materiais, como esculturas em bronze e poliuretano.
A pintura somada à escultura se torna o principal caminho para materializar os temas do artista. Radicaliza o uso do espaço e a sobreposição de outros elementos à pintura e passa a inserir monitores de TV nas telas. Neles, animações em stop-motion e vídeos curtos, realizados a partir do registro de desenhos e pinturas do próprio artista, configuram-se parte integrante da unidade das obras. A experimentação do vídeo como novo modo de expansão da pintura, presente nos trabalhos que integram a série Teatro nagô cartesiano (2015), desemboca na primeira animação do artista.
Barbara balaclava (2016), curta-metragem de cerca de 20 minutos, é composto por mais de quatro mil imagens de pinturas e desenhos em pequeno formato. A narrativa emaranhada apresenta a heroína, uma escrava que viaja no tempo em busca de reparar a violência sofrida. Para o curador Moacir dos Anjos (1963), a obra exibe cenas de confronto das histórias recente e distante do Brasil. O vai-e-vem no tempo histórico deixa clara a longevidade dos processos de dominação que expropriam há séculos as riquezas materiais e simbólicas das populações nativas do Brasil.
A composição das obras de Melo perpassa também os títulos, que constituem elementos de interpretação para o espectador. A individual “Necrobrasiliana” (2019), por exemplo, possui elementos importantes para acessar símbolos e significados nas obras que a constituem. O neologismo formado a partir de “necro” (morte) e “brasiliana” (coleção de obras que tematizam o Brasil), corresponde à interpretação crítica que o artista tem desenvolvido ao longo de sua trajetória. Nas pinturas, enfatiza o manejo da iconografia histórica brasileira em contraposição ao contexto político presente, gerando novos significados.
A articulação de múltiplas narrativas visuais e verbais, por meio da diversidade de figuras e técnicas, corresponde à complexidade dos temas abordados pelo artista. A obra de Thiago Martins de Melo fornece ao público elementos importantes para uma leitura crítica da construção de símbolos e imagens nacionais e para a valorização de outras cosmologias.
Exposições 57
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16/7/1999 - 31/8/1999
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22/10/1999 - 30/11/1999
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21/3/2000 - 23/4/2000
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30/11/2000 - 15/12/2000
Exposições virtuais 1
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23/9/2020 - 14/10/2020
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 8
- ANJOS, Moacir dos. Bárbara Balaclava [folder da exposição]. Galeria Mendes Wood DM, São Paulo, 2016.
- BREUNIG, Tiago Hermano. Necrobrasiliana: necropoder e representação indígena em Thiago Martins de Melo. Concinnitas, Rio de Janeiro, v. 21, n. 38, p. 333-357, maio 2020. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/concinnitas/article/view/53771/35359. Acesso em: 20 dez. 2021.
- DUSHÁ, Germano; MATTOS, Josué; NEVES, Manuel; DOS ANJOS, Moacir; VAZZI PEDRO, Viviane. Thiago Martins de Melo. Rio de Janeiro: Capivara, 2019. Acesso em: 20 dez. 2021.
- Exposição "Atos de revolta: outros imaginários sobre independência": 17 set. 2022 a 26 fev. 2023. ArtSoul, 2023. Disponível em: https://artsoul.com.br/revista/eventos/exposicao-atos-de-revolta-outros-imaginarios-sobre-independencia. Acesso em: 06 jan. 2023.
- MUNIZ, Leandro. Bárbara Balaclava, de Thiago Martins de Melo. Revista Select, 23 abr. 2021. Disponível em: https://www.select.art.br/barbara-balaclava-de-thiago-martins-de-melo/. Acesso em: 20 dez. 2021. Acesso em: 20 dez. 2021.
- THIAGO Martins de Melo. Galeria Millan, 2021. Artistas. Disponível em: http://www.galeriamillan.com.br/artistas/thiago-martins-de-melo/obras. Acesso em: 20 dez. 2021.
- THIAGO Martins de Melo. Prêmio PIPA, [Rio de Janeiro], 2019. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/artistas/thiago-martins-de-melo/. Acesso em: 20 dez. 2021.
- VERAS, Luciana. Thiago Martins de Melo: como se fosse um ebó pictórico. Continente, n. 172, 1 abr. 2015. Disponível em: https://revistacontinente.com.br/edicoes/172/thiago-martins-de-melo. Acesso em: 20 dez. 2021.
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THIAGO Martins de Melo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa271621/thiago-martins-de-melo. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7