Flavya Mutran
Texto
Flavya Mutran Pereira (Marabá, Pará, 1968). Fotógrafa, arquiteta, professora, artista visual. Com intensa produção na fotografia, interessa-se por comunicação de massas, redes sociais e tecnologias enquanto meios de compartilhamento de arquivos fotográficos.
Atua no campo da arte e comunicação desde 1989 e ministra, desde então, oficinas de arte e fotografia. Não há separação entre sua vida acadêmica e sua atuação nas artes visuais: no mesmo ano em que se gradua em arquitetura e urbanismo na Universidade Federal do Pará (UFPA), em 1996, seus trabalhos da série individual Palimpsestos são selecionados para a mostra Antárctica artes com a folha, em São Paulo, projeto pioneiro no mapeamento de diversas trajetórias artísticas contemporâneas no Brasil.
Na série Palimpsestos já é possível observar os tensionamentos do papel e possibilidades da fotografia em retratar e registrar o tempo. A palavra escolhida se refere ao papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi raspado, para dar lugar a outro. Dessa maneira, a proposta da série é utilizar fotografias preto e branco com interferência no negativo e viragem parcial no papel fotográfico.
Na série Quase memória (2000), continua suas reflexões acerca da memória material (corpo, papel, negativo e cópia) e virtual (lembranças, sensações, esquecimentos) e o papel da fotografia na conexão entre passado, presente e futuro. Sua proposta é resgatar fragmentos de imagens já comprometidas pela corrosão natural a fim de articular ficções baseadas em fatos, cenas e personagens reais.
Participa do projeto Fotografia contemporânea paraense: panorama 80/90, realizado pela Secretaria de Cultura do Pará (Secult/PA) e Petrobrás, cujo objetivo é a criação de um acervo composto por obras de 26 fotógrafos que atuam no Pará entre as décadas de 1980 e 1990. O acervo se encontra no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, em Belém.
Cria a série Pretérito imperfeito, em 2004, como resultado da pesquisa desenvolvida durante a especialização em semiótica e artes visuais na UFPA, além de ser premiada com a bolsa de pesquisa experimental do Instituto de Artes do Pará (IAP) no mesmo ano. Essa série recebe o 11º Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia na categoria de pesquisa, experimentação e criação em linguagem fotográfica, em 2010. Além da monografia, é criado um vídeo ficcional que trata de uma cidade imaginária baseada em fotos e fatos reais. O trabalho reúne imagens de paisagens, cenas e retratos de diferentes gerações de personagens, mesclando suas memórias e afetos em relação à cidade de Belém e fundindo conceitos de recordação e esquecimento.
O tema escolhido na especialização se aprofunda durante o mestrado em artes visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), resultando na dissertação Pretérito imperfeito de territórios móveis: fragmentos de autorretratos fotográficos em rede (2011). O diferencial é que a pesquisa explora fotograficamente o rosto e sua ausência no universo dos álbuns armazenados em redes sociais. As experimentações se dividem nas séries Egoshot (2008-2009), Bioshot (2009) e There-se no place like 127.0.0.1 (2009-), criando-se imagens que são chaves, espelhos e portas que refletem o eu, o outro e o lugar. Em cada série, propõe pensar o rosto como um território que migra conforme fluxos de interação social e, como tal, adotá-lo como uma plataforma de múltiplas inscrições.
Entre 2012 e 2016, realiza seu doutorado em artes visuais na UFRGS. A pesquisa, na linha de poéticas visuais, trabalha com arquivos fotográficos disponíveis on-line. Durante o processo de criação, Mutran investiga a imagem e seus desdobramentos em meios, procedimentos e tecnologias, explorando relações entre palavras e fotos, a partir de duas séries: DELETE.use (2012-) e RASTER (2011-). Em ambas, procura criar estratégias para manipular, expor e compartilhar fotografias notórias, observando questões relacionadas com apropriação e coautoria, processos artísticos colaborativos, tradução e deslocamento de sentidos para arquivos fotográficos digitais. Tal processo culmina na formulação do conceito “des_memória”: um estado poético e transitório, que influi nos modos de ver e falar sobre a fotografia como um bem cultural. Tanto em 2011 quanto em 2016, Mutran é contemplada com o Prêmio de Artes Visuais do Banco da Amazônia, em Belém, com exposições e publicações sobre suas pesquisas de mestrado e doutorado, respectivamente.
Com amplo reconhecimento de sua trajetória artística, atua como professora adjunta do departamento de artes visuais, no Instituto de Artes da UFRGS, e como uma das curadoras e responsáveis pelo projeto da primeira edição da Bienal das Amazônias, mapeando os mistérios da Amazônia artística e criando um panorama de sua produção contemporânea. A iniciativa tem como meta deixar um legado sustentável no âmbito social, cultural, econômico e ambiental, tendo em vista que a Floresta Amazônica tem papel fundamental enquanto reguladora da temperatura do planeta e, ao mesmo tempo, está no cerne das discussões contemporâneas sobre o presente e futuro em um mundo marcado pelo aquecimento global e pela exploração da natureza e de pessoas.
Com uma vasta produção artística e acadêmica, Flavya Mutran evidencia a sensibilidade de ver e pensar o mundo por meio da fotografia, ao mesmo tempo que tensiona os limites e possibilidades de tal meio em produzir um mundo passível de questionamentos e rupturas.
Exposições 40
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13/5/1993 - 27/6/1993
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25/10/1994 - 11/11/1994
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1994 - 1994
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 18
- CHIARELLI, Tadeu. O prêmio e os acervos. Arte!Brasileiros, 4 set. 2019. Opinião. Disponível em: https://artebrasileiros.com.br/tag/flavya-mutran/. Acesso em: 6 jan. 2022.
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- FLAVYA MUTRAN recria memórias no Arquivo 2.0. Galeria Lunara, 29 set. 2016. Disponível em: http://galerialunara.blogspot.com/2016/09/flavya-mutran-recria-memorias-no.html. Acesso em: 7 jan. 2022.
- FLAVYA MUTRAN recria memórias no Arquivo 2.0. Galeria Lunara, 29 set. 2016. Disponível em: http://galerialunara.blogspot.com/2016/09/flavya-mutran-recria-memorias-no.html. Acesso em: 7 jan. 2022.
- FLAVYA MUTRAN. Kamara Kó Galeria, Belém, [sem data]. Disponível em: https://www.kamarakogaleria.com.br/flavya-mutran. Acesso em: 6 jan. 2022.
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- KLAUTAU FILHO, Mariano. Flavya Mutran: desmemórias. Goethe Institut, [sem data]. Disponível em: https://www.goethe.de/ins/br/pt/m/kul/sup/art/21339634.html. Acesso em: 5 jan. 2022.
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- MOSTRA FOTOGRÁFICA reúne séries de Flavya Mutran, em Belém. G1, Pará, 15 mai. 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2016/05/fotografa-flavya-mutran-expoe-no-espaco-cultural-banco-da-amazonia.html. Acesso em: 7 jan. 2022.
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- MUTRAN, Flavya. Mapas de Rorschach: fotografias de Flavya Mutran [ensaio fotográfico]. Porto Alegre: edição do artista, 2011. Disponível em: https://issuu.com/flavyamutran/docs/mapas_de_rorschach_fmutran. Acesso em: 5 jan. 2022.
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- O PRETEXTO da fotografia em conversa com Flavya Mutran. Diário Contemporâneo de Fotografia, Belém, 23 mai. 2018. Disponível em: https://dcf.dol.com.br/conversa-com-flavya-mutran/. Acesso em: 5 jan. 2022.
- O PRETEXTO da fotografia em conversa com Flavya Mutran. Diário Contemporâneo de Fotografia, Belém, 23 mai. 2018. Disponível em: https://dcf.dol.com.br/conversa-com-flavya-mutran/. Acesso em: 5 jan. 2022.
- PEREIRA, Flavya Mutran. Autorretratos móveis na era líquida. In: COLÓQUIO DO COMITÊ BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA ARTE, 30., 2010, Rio de Janeiro. Resumos [...]. Rio de Janeiro: CBHA, 2010. Disponível em: http://www.cbha.art.br/pdfs/cbha_2010_pereira_flavya_res.pdf. Acesso em: 5 jan. 2022.
- PEREIRA, Flavya Mutran. DELETE.use: desmemoriar o fotográfico. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 24., 2015, Santa Maria. Anais [...]. Santa Maria: ANPAP, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015. p. 1361-1370. Disponível em: http://anpap.org.br/anais/2015/comites/cpa/flavya_mutran_pereira.pdf. Acesso em: 7 jan. 2022.
- SALVATORI, Maristela. O múltiplo em publicações de artistas: Röhnelt, Cattani e Mutran. Revista Estúdio, v. 7, n. 16, p. 34-41, 2016. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/38623/2/ULFBA_E_v7_iss16_p34-41.pdf. Acesso em: 5 jan. 2022.
- SALÃO XUMUCUÍS DE ARTE DIGITAL, 2011. Salão Xumucuís de Arte Digital: edição 2011. Belém: Secult, 2011. Disponível em: https://xumucuis.org/tag/flavya-mutran/. Acesso em: 5 jan. 2022.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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FLAVYA Mutran.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa27076/flavya-mutran. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7