Oriana Duarte
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A Coisa em Si, 1997
Oriana Duarte
Performance com videoinstalação e áudio
Texto
Oriana Maria Duarte de Araújo (Campina Grande, Paraíba, 1966). Artista, professora. Suas pesquisas visuais e teóricas têm como foco principal o corpo humano, em especial o corpo feminino. Investiga seu potencial simbólico e representativo dos pontos de vista de gênero e de modos de vida contemporâneos.
Graduada em desenho industrial na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 1990, desenvolve sua pesquisa artística a partir do design. A relação com a pesquisa teórica ganha maior relevância quando, em 1993, começa a lecionar no Departamento de Design da UFPE. Mesmo havendo conflitos nos modos de pensamento, seu exercício enquanto pesquisadora e professora é indissociável de seu fazer artístico.
Sua produção, iniciada na década de 1980, ganha destaque em 1995 com a mostra individual Playground, realizada no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), em Recife. A relação do corpo de Duarte com a capital pernambucana, até então local de sua residência, é o ponto de convergência dos trabalhos que compõem a exposição, desdobrando-se em vários projetos em sua trajetória.
Um deles é o conjunto de performances A coisa em si (1997), que têm como ação comum o preparo e ingestão pela artista de uma sopa de pedras. Seguindo um detalhado roteiro de tarefas em relação ao próprio corpo e ao espaço, realiza publicamente a Sopa de pedras (1997-2002) pela primeira vez em 1998, no Mercado Ver-o-Peso, em Belém. A artista prioriza a experiência do corpo, de enfrentamento direto com a situação proposta, em relação ao registro, fator importante para compreender outras ações que realiza mais adiante.
Quando ingressa no mestrado em comunicação e semiótica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1998, aprofunda as investigações sobre corpo e espaço na dissertação Imersa em um monumento (2000), que parte do olhar da artista para o interior do Edifício Copan, em São Paulo. Registros técnicos, imagens e uma série de dados sobre o prédio são reunidos em um gráfico que, de acordo com a curadora Daniela Castro (1976), revela um labirinto de possibilidades representativas da abstração das relações entre metrópole, monumento e corpo. Além do gráfico, realiza outros sete trabalhos a partir da pesquisa, como Boismo (2002), intervenção no Copan em parceria com o coletivo pernambucano Grupo Camelo. O registro em vídeo da ação foi exibido em 2002 na 22ª Bienal de São Paulo, com outras obras da artista.
Imersa em um monumento dá visibilidade a Duarte no circuito artístico nacional e influi na escolha do tema dos trabalhos seguintes. A pesquisa sobre o mal-estar na experiência urbana leva a artista aos esportes radicais, enquanto metáfora do corpo contemporâneo. Além de o esporte estar ligado diretamente a uma situação-limite do corpo humano, a importância do registro das ações realizadas por atletas, em especial dos desportistas radicais, torna-se um interesse da artista.
Por estar localizada na zona turva entre fazer artístico e viver, a obra de Duarte traz, de modo intrínseco, a questão de gênero como importante elemento constitutivo, uma vez que o corpo colocado nas ações é um corpo feminino. Essa discussão é explorada por ela de modo mais específico em obras como Querer viver (2004) e A selvagem sabedoria (2004), realizadas no processo de preparação de Os riscos de E.V.A: experimentos em voos artísticos (2004), selecionado no 45º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco e também exposto na Temporada de Projetos do Paço das Artes, em São Paulo, no ano de 2006. Ao longo de dois anos, realiza uma intensa preparação física para executar uma série de performances ligadas a esportes radicais, como escalada, rapel e salto de bungee jump, realizadas no cânion do Rio São Francisco.
As ações (subida, descida e salto) dão origem a uma série de trabalhos, apresentados como videoinstalação. O espaço é organizado tal qual um consultório médico, que reúne objetos e informações acerca do condicionamento físico, como suplementos alimentares e receituários médicos, e é repleto de pastas suspensas intituladas “cadernos de E.V.A”, arquivo composto por fragmentos do disciplinamento do corpo de Duarte para a efetivação das performances.
A investigação sobre o corpo feminino em ações de exaustão física se desdobra em seu doutorado em comunicação e semiótica pela PUC-SP, Plus Ultra: o corpo no limite da comunicação (2012), a respeito do remo e sua relação com o corpo e o design. Duarte se propõe a remar e se inserir em todos os espaços urbanos dedicados ao remo, predominantemente masculinos. Assim como em Os riscos de E.V.A., a empreitada exige extenso preparo físico da artista, que inicia a performance no Rio Negro, em Manaus. Os registros das ações exibem a artista sempre de costas, com o corpo dedicado ao esforço constante do remar, e há o uso predominante do azul e do vermelho. O trabalho constitui uma instalação, que reúne os registros das performances e um inventário visual da pesquisa, em que a artista tensiona códigos do feminino e masculino e de corpo e objeto.
Exposto em situações de limite psicológico e físico, o corpo se torna matéria-prima de suas obras e pesquisas. O conjunto da obra de Oriana Duarte surge, portanto, como importante ponto de partida para refletir sobre os papéis desempenhados atualmente pelo corpo humano, entre gênero, trabalho, relações com o espaço em que vivemos e noções de bem-estar e saúde, não somente nas obras acessíveis ao público, mas principalmente pelo seu fazer, indissociável da vida da artista.
Obras 1
A Coisa em Si
Exposições 79
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18/11/1988 - 18/12/1988
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15/12/1990 - 15/1/1989
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3/12/1993 - 15/1/1992
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Fontes de pesquisa 17
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ORIANA Duarte.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa27038/oriana-duarte. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7