Washington Alfredo Silvera (Curitiba, Paraná, 1969). Artista plástico, fotógrafo, gravurista, escultor, performer, videomaker. Sua produção artística se dá principalmente no campo do atrito da utilidade de objetos, por meio de suportes como escultura, gravura, fotografia e vídeo. 

Seu pai era marceneiro. Para o artista, o ponto inicial de sua produção é seu contato com a madeira quando criança, de onde advém seu trabalho com as formas tridimensionais. Essa trajetória se opõe à da maioria dos artistas, que passam a produzir esculturas e instalações depois de anos de trabalho com desenho e pintura.

Sua formação artística adulta se inicia em 1992 como assistente de David Zugman (1952), escultor curitibano que trabalha com madeira. Sua formação mais formal se inicia em 1993 na graduação em educação artística com licenciatura em artes plásticas na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Não conclui o curso, tendo feito apenas as disciplinas que mais o interessavam. Ainda nos anos 1990, começa a explorar outros suportes e materiais, tais como vídeo, fotografia, gesso e gravura.

A fotografia Paisagem curitibana (2006) se vale da sombra de uma árvore projetada em um gramado para criar uma nova árvore a partir de flores que o artista coloca sobre a sombra. Assim, vê-se, ao mesmo tempo, parte do tronco da árvore real e a copa da árvore criada.

Uma de suas serigrafias, tipo de gravura realizada com impressão com estêncil, intitulada Campbell’s (2010), apresenta cerca de um terço de um desenho da famosa lata de sopa da marca americana Campbell’s. Abaixo da imagem está uma barra que indica o percentual de download de arquivos. Acima dessa barra se lê “Loading on your mind” (“Carregando em sua mente”, em tradução livre). Essa obra, que faz parte de uma série, instiga o espectador a completar a imagem a partir da sua imaginação e sua memória.

Outra obra de destaque é a escultura em madeira imbuia intitulada 100% amargo (2021), que faz parte da série Minimal dream. Ela tem o formato de uma barra de chocolate, mas é composta de madeira e laca. A obra explora a sensorialidade tanto a partir da sua textura quanto a partir do cheiro característico da madeira. Ainda, sua forma básica remete ao minimalismo, norteador de toda a série da qual a escultura faz parte.

Sua poética dialoga com movimentos artísticos como o minimalismo estadunidense, por exemplo, tanto no seu caráter de repetição de peças quanto na aparência simplificada das obras. Também conversa com a produção de artistas como do estadunidense Marcius Galan (1972), por tirar a utilidade de objetos e por criar imagens absurdas ou impossíveis, e do francês Marcel Duchamp (1887-1968), que se notabiliza por inserir objetos cotidianos na arte. Porém, como nota Fabricio Vaz Nunes, Silvera opera com “objetos substancialmente alterados. São alterações em termos de material, dimensão, disposição espacial, construção; suas obras tomam objetos conhecidos, como mesas, raquetes, martelos, e os transformam em objetos ‘estranhados’: ainda que os reconheçamos como tal, há algo de substancialmente errado com eles”¹. Um exemplo de objeto “estranhado” é a obra em que o artista cria um serrote feito inteiramente de madeira, impossibilitando seu uso.

Sua produção, muitas vezes, cria atritos ao apresentar objetos que têm suas funções originais distorcidas ou anuladas. Isso questiona o olhar do espectador, levando a uma reflexão acerca dos objetos que nos cercam. Ainda segundo Nunes, “a obra de Washington cria um mundo de coisas que estão situadas em algum lugar entre o real e o irreal, entre o fato e a ficção, em que o imaginário, ao se materializar, torna-se concreto e palpável”².

Silvera encontra na gastronomia uma profissão paralela à de artista, sendo um importante suporte financeiro. Entende a cozinha como um ateliê repleto de ferramentas. A gastronomia e a arte andam juntas. O projeto em que ambas se encontram é a performance Kitchen Dub Experience, um evento periódico de local variável em que faz apresentações inusitadas de pratos e se vale de recursos sonoros para prover ao comensal uma experiência fora do comum. Segundo Emanoel Araújo (1940-2022), há uma coerência entre os prazeres da arte e da gastronomia na produção de Silvera.

Washington Silvera se destaca entre os artistas contemporâneos brasileiros por suas propostas questionadoras, que desnorteiam e desorientam o público, fazendo com que os objetos do nosso cotidiano sejam repensados por meio de suas obras.

Notas

1. NUNES, Fabricio Vaz. Entretempo: exposição individual de Washington Silvera. Galeria Ybakatu, Curitiba, 29 jun. 2015. Disponível em: https://ybakatu.com/entretempo-exposicao-individual-de-washington-silvera/. Acesso em: 18 jul. 2022.

2. NUNES, Fabricio Vaz. Apresentação. In: SILVERA, Washington. Inventário. Curitiba: MuMA, 2014.