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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Voltolino

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.11.2024
13.07.1884 Brasil / São Paulo / São Paulo
22.08.1926 Brasil / São Paulo / São Paulo

Do Futuro de São Paulo a Light se Encarrega, 1911
Voltolino

João Paulo Lemmo Lemmi (São Paulo, São Paulo, 1884 - idem 1926). Caricaturista, desenhista, ilustrador. Em 1896 muda-se para a cidade italiana de Piza onde inicia sua carreira ilustrando alguns periódicos. Retorna a São Paulo em 1904 e emprega-se em estabelecimentos gráficos. No ano seguinte, publica suas primeiras caricaturas no jornal Cara Dur...

Texto

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Biografia

João Paulo Lemmo Lemmi (São Paulo, São Paulo, 1884 - idem 1926). Caricaturista, desenhista, ilustrador. Em 1896 muda-se para a cidade italiana de Piza onde inicia sua carreira ilustrando alguns periódicos. Retorna a São Paulo em 1904 e emprega-se em estabelecimentos gráficos. No ano seguinte, publica suas primeiras caricaturas no jornal Cara Dura, editado na tipografia de Emilio Riedel, que lhe ensina os primeiros rudimentos do desenho caricatural. Entre 1905 e 1908, trabalha como colaborador ilustrando diversas publicações de língua italiana editadas na cidade. Neste último ano passa a colaborar na revista carioca O Malho. Paralelamente continua a publicar seus desenhos em diversos outros jornais paulistas e, em 1911, trabalha no semanário O Pirralho, fundado por Oswald de Andrade (1890 - 1954). Nesse periódico cria a ilustração para Juó Bananére, pseudônimo utilizado por Alexandre Marcondes Machado (1892 - 1933) nos textos publicados na coluna O Rigalegio - dromedário ilustrato, organo independento do Abax'o Piques i do Bó retiro. O personagem Juó Bananére foi utilizado como porta-voz de crônicas satíricas e impiedosas, principalmente durante a Campanha Civilista, promovida por Rui Barbosa (1849 - 1923) e pelo escritor Olavo Bilac (1865 - 1918). Seus trabalhos possuem conotação combativa e anticlerical, desenvolvendo-se no ambiente urbano paulistano, revelando através da caricatura os contrastes sociais próprios do incipiente processo de industrialização da cidade. Em 1916, funda, com Alexandre Marcondes Machado, o periódico A Vespa, em que retomam as críticas de caráter político personificadas pelo personagem Juó Bananére na coluna intitulada Cartas d'Abax'o Piques.

Análise

Um dos desenhistas de humor mais importantes e atuantes da imprensa paulistana em expansão no início do século XX, João Paulo Lemmo Lemmi, apesar de filho de imigrantes italianos, declarava-se paulistano da gema. Filho do artesão Ernesto Lemmi, aos 12 anos é levado a Pisa, Itália, para completar seus estudos técnicos. De volta ao Brasil, se dedica à caricatura de forma autodidata, tendo colaborado com alguns jornais locais na Itália.

É na imprensa paulistana de língua italiana que encontra espaço para iniciar sua carreira por volta de 1905. Em jornais como Cara Dura: il giornale piu stupido del mondo,1 Il Grilo di Flora e Il Pasquino Coloniale,2 Voltolino consolida os principais traços de seu trabalho: de teor combativo, seu desenho satírico coloca-se a serviço dos problemas sociais e políticos de seu tempo. Como ítalo-paulistano, a figura do imigrante e seu processo de aculturação na nova cidade tornam-se os temas mais freqüentes do artista, ao lado dos efeitos da industrialização nascente no âmbito do espaço urbano e as agruras do cotidiano dos seus novos agentes sociais, como o operariado e a pequena burguesia comercial, sem esquecer da velha oligarquia e da igreja.Dá vida gráfica a Juó Bananére, personagem e pseudônimo literário de Alexandre Marcondes Machado (1892 - 1933), tipo ítalo-paulista criado em 1911 para expressar a mistura das duas culturas através da linguagem falada e escrita.

É somente com sua participação na revista carioca O Malho, entre 1908 e 1909, que seu nome torna-se mais conhecido. Contudo, o reconhecimento nacional de Voltolino é consolidado por sua colaboração na revista O Pirralho, entre 1911 e 1917, na qual chega a publicar 20 desenhos por edição, inclusive diversas capas. A publicação, fundada por Oswald de Andrade (1890 - 1954) e Dolor de Brito, dedica-se ao mesmo tempo à crônica mundana, ao comentário político e à crítica da vida cultural de São Paulo, e é considerada por historiadores "o balão-de-ensaio" do modernismo de 22. Em sua redação, Voltolino trava contato com as polêmicas artísticas de seu tempo ao trabalhar com os artistas Di Cavalcanti (1897 - 1976), Ferrignac (1892 - 1958), Guilherme de Almeida (1890 - 1969) e, naturalmente, o próprio Oswald. Por outro lado, reconhece-se que suas charges e ilustrações são responsáveis pela crítica política mais vigorosa da revista, sendo impossível, como observa o crítico Sérgio Milliet (1898 - 1966), "entender o início do século XX paulista sem os desenhos de Voltolino do Pirralho".

Seus desenhos são conhecidos pela audácia, pelo traçado ágil, nervoso e despreocupado, em que o efeito cômico é atingido mediante um grande poder de síntese, no qual a economia gráfica se destaca. A determinação do risco e rapidez da execução dão organicidade a seus personagens. Voltolino desenha-os primeiro a lápis para depois, já totalmente decidido, finalizá-los com contorno a nanquim. Com relação às cores, gosta de usar as puras e intensas, usualmente trabalhadas em contraste. Salvo quando precisa desenhar em papel couché, em que utiliza a aguada em nanquim e a aquarela, suas cores são saturadas.

A linguagem teatral e sua coleção de gestos humanos, a animalização das personagens, os trocadilhos visuais e verbais, a ironia, o disfarce e o simbolismo são típicos de Voltolino. Contudo, deve-se notar que seu humor não é agressivo, ao contrário, por vezes é complacente, principalmente com o imigrante italiano, pelo qual nutre uma relação de afeto. Na verdade, soube distinguir em suas charges aqueles que "fizeram a América", e lutavam por reconhecimento social no Brasil às vezes de forma ridícula, dos que não conseguiram chegar lá.

Em 1914, passa a contribuir para uma nova revista, A Cigarra, conhecida por seu cuidado com a qualidade gráfica. Também colabora com outras revistas importantes como a D. Quixote, Revista do Brasil, Panoplia, O Parafuso, O Queixoso, O Sacy.

Voltolino trabalha também como ilustrador de anúncios e cartazes, além da ilustração de livros. É responsável pelas ilustrações coloridas da primeira edição de A Menina do Narizinho Arrebitado (1920) e Marquês de Rabicó (1922), ambos de Monteiro Lobato (1882 - 1948).

Notas

1. Cara dura era o nome dado na época ao bonde de segunda classe, ou seja, o bonde dos trabalhadores.
2. Fundado em 1907, o semanário humorístico de língua italiana Il Pasquino Coloniale corporifica a colônia italiana de São Paulo, acompanhando tanto a vida do imigrado e seus descendentes na cidade quanto as aventuras da Itália no cenário internacional. O jornal acaba em 1941 por falta de público. Voltolino colabora com o jornal até o ano de sua morte.

Obras 30

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Reprodução fotográfica autoria desconhecida

Cabeça

Lápis e nanquim sobre papel

Exposições 2

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Fontes de pesquisa 9

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  • 150 anos de pintura no Brasil: 1820-1970. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. Voltolino e as raízes do modernismo. 220f. 1980. Dissertação (Mestrado) - Escola de Comunicações e Artes - ECA/USP. São Paulo, 1980.
  • CRUZ, Heloisa de Faria (org.). São Paulo em revista: catálogo de publicações da imprensa cultural e de variedades paulistana 1870-1930. São Paulo: Arquivo do Estado, 1997. (Coleção memória, documentação e pesquisa, 4).
  • FONSECA, Joaquim da. Caricatura: a imagem gráfica do humor. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999.
  • LAGO, Pedro Corrêa do. Caricaturistas brasileiros: 1836-1999. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999. p. 98-99.
  • LEMOS, Renato (org.). Uma história do Brasil através da caricatura: 1840/2001. Rio de Janeiro: Bom Texto: Letras e Expressões, 2001.
  • LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil III. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1963.
  • LOBATO, Monteiro. Obras completas de Monteiro LOBATO - 04: idéias de Jéca Tatú. São Paulo: Brasiliense, 1946. 275 p., il. p.b. (Literatura Geral - Série, 1).
  • LOUZADA, Maria Alice do Amaral. Artes plásticas Brasil 1997: seu mercado, seus leilões. São Paulo: Júlio Louzada, 1997. v. 9.

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