Borgomainerio
Texto
Biografia
Luigi Borgomainerio (Como, Itália, ca.18341 - Rio de Janeiro, RJ, 1876). Pintor, desenhista e caricaturista. Em 1848, segue para Milão para estudar pintura na Accademia Belle Arti di Brera [Academia de Belas Artes de Brera], onde convive com pintores de história e costumes, engajados nos movimentos de libertação da Itália, como os irmãos Domenico (1815-1878), Gerolamo Induno (1825-1890) e Sebastiano de Albèrtis (1828-1897). Estabelece conexões com o movimento republicano e com artistas vinculados à boemia, denominados scapigliati. Trabalha desempenhando atividades ligadas ao teatro e à imprensa, especializando-se na realização de caricaturas, gênero em expansão em todo o mundo desde a década de 1830. Colabora com publicações italianas como o Spirito Folletto (que dirige por sete anos), o Mefistófeles, o Pasquino e o Fischietto; e com as francesas L'Illustration e Figaro.
Em 1874, migra para a América do Sul, segundo o historiador italiano Luciano Caramel por sugestão do amigo brasileiro Carlos Gomes (1836-1896). Instala-se originalmente na Argentina, onde há forte tensão política, mudando-se no mesmo ano para o Rio de Janeiro. É apontado como um dos mais talentosos caricaturistas a atuar no país em sua época pelos gravuristas Angelo Agostini (1843-1910) e Joseph Mill - que publica em 1876 uma das primeiras análises sobre o gênero - e o crítico Gonzaga Duque (1863-1911). Em janeiro de 1875, assume a direção da revista Vida Fluminense, publicando uma série de trabalhos, como a Galeria de Homens Grandes e Pequenos, e conduz o projeto de transformação da publicação, que passa a se chamar O Figaro, em janeiro de 1876.
Comentário crítico
Vindo da Itália onde já desempenhava uma carreira de sucesso, Luigi Borgomainerio é louvado por seus colegas e pela crítica como um dos desenhistas mais requintados a exercer seu ofício na imprensa ilustrada do Brasil oitocentista. A qualidade e a sofisticação de seu trabalho o leva a ser considerado por alguns como o maior dos mestres nessa arte, superando outros criadores de destaque como o alemão Fleiuss (1823-1882), o italiano Angelo Agostini e o português Bordalo Pinheiro (1846-1905). Segundo o historiador Herman de Lima, ele é "o melhor de quantos, no seu tempo, manejaram o lápis entre nós".2
É, aliás, na companhia dos dois últimos que se dá o capítulo mais conturbado de sua presença no Brasil. As ácidas imagens criadas pelos três contra questões polêmicas do período imperial, como por exemplo, a relação entre o Império e o clero, levam o jornalista Ferreira de Menezes a atacá-los em um editorial do Jornal do Commercio, publicado em fevereiro de 1876, dizendo que os artistas estrangeiros fariam melhor indo embora para Paris. Rapidamente, os três respondem ferinamente ao atacante em suas respectivas publicações.
"Seu desenho, sobretudo voltado a temas políticos e de costumes, se caracteriza por um traço veloz, incisivo ao mesmo tempo que controlado e preciso, capaz de uma atenta caracterização fisionômica"3, sintetiza o historiador italiano Luciano Caramel. Tal talento lhe garante rápido reconhecimento no Brasil. Como afirma Herman de Lima, "só a preciosa colaboração desse mestre do traço deformante, estendida de fins de 1874 a março de 1876 (quando a revista se transforma no Fígaro) bastaria para dar-lhe um lugar de relevo imperecível entre as nossas publicações do gênero".4 O crítico destaca sobretudo os números da revista publicados ao longo de 1875 exclusivamente ilustrados por Borgomainerio. Dentre as obras mais citadas pelos comentadores estão, além daqueles relativos à "questão religiosa", um autorretrato preparando uma pedra litográfica.
Notas
1 A data de seu nascimento é incerta, as fontes indicam o período entre 1834 e 1836.
2 LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Ed., 1963. 3 vol.
3 CARAMEL, Luciano. Dizionario biografico egli italiani. Vol. 12. Roma, Istituto della Enciclopedia Italiana, 1971. Disponível em: 10 out. 2012, em: http://www.treccani.it/enciclopedia/luigi-borgomainerio_(Dizionario-Biografico)/.
4 LIMA, Herman. História da caricatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Ed., 1963. 3 vol.
Exposições 2
Fontes de pesquisa 15
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- TRAÇO, Humor & Cia. Curadoria Denise Mattar; versão em inglês Angela Melim. São Paulo: FAAP, 2003.
Como citar
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BORGOMAINERIO.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa22685/borgomainerio. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7