George Love
Texto
Biografia
George Leary Love (Charlotte, Carolina do Norte, EUA, 1937 - São Paulo, SP, 1995). Fotógrafo. Filho da escritora Rose Leary Love, vive parte da infância no extremo Oriente. Estuda na New School for Social Research, em Nova York. Começa a fotografar em 1957, interessado nas relações entre ambientes e diferentes culturas. No mesmo ano, trabalha para a Divisão de Educação da United States International Cooperation Administration, na Indonésia. Em 1963, funda com amigos The Association of Heliographers, da qual se torna presidente de 1963 a 1965 e também gerente da Heliography Gallery. Na associação, leciona fotografia, organiza exposições e orienta o trabalho de fotógrafos. Produz filmes para televisão em Nova York e Lima, no Peru.
Viaja para a América Latina em 1966, estabelecendo-se em São Paulo. No ano seguinte trabalha na Editora Abril no setor de esportes, nas revistas Claudia e Quatro Rodas e na Realidade até 1971. Depois de sobrevoar a Bacia Amazônica em 1966, retorna em 1971 a serviço da revista Realidade. Passa a fotografar a região e produz cerca de 50 mil fotos, sobrevoando-a com a ajuda do Correio Aéreo ou em aviões alugados de fazendeiros. Entre 1969 e 1971 é editor da revista O Bondinho. Coordena o laboratório e o curso de fotografia do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) durante a década de 1970 e, ao lado da fotógrafa Claudia Andujar (1931), organiza no museu a 1ª Semana Internacional de Fotografia, em 1974. Edita as revistas Novidades Fotoptica, em 1970, e a Revista de Fotografia, entre 1971 e 1973. Em 1972, participa da comissão organizadora da mostra O Fotógrafo Desconhecido, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP).
Em 1973, expõe fotografias com Andujar na mostra Hiléia Amazônica, em colaboração com os setores de arqueologia e etnologia do Museu Paulista (MP/USP), no Masp. Na revista Aqui São Paulo é editor de fotografia entre 1976 e 1977. Fotografa obras de engenharia civil que resultam numa série de serigrafias sobre chapas de alumínio. Publica os livros Water (1978) e, em parceria com Andujar, Amazônia (1978). Entre 1980 e 1982, organiza e restaura a documentação fotográfica da Eletropaulo sobre a cidade de São Paulo relativa ao século XX e publica o livro São Paulo: Anotações (1982). Em 1984, ministra o ciclo de palestras Metade do Mínimo, no Masp, sobre fotografia com baixo custo de produção.
Ao retornar aos Estados Unidos, trabalha como consultor da Sony na área de fotografia eletrônica, entre 1988 e 1989. Torna-se membro da Larchmont Mamaroneck Cable TV (LMC/TV), desenvolvendo programas, como o vídeo Mouth of the Amazon River is in Rye (1993). De volta à São Paulo, publica o livro Alma e Luz: Sobre a Bacia Amazônica (1995). Em 2010, sua produção fotográfica tem destaque na 18ª edição da Coleção Pirelli/Masp de Fotografia.
Comentário crítico
George Love imprime um caráter autoral até mesmo às fotografias destinadas a reportagens e ensaios jornalísticos. Em artigos da revista Realidade como “A Briga: Ferrovia ou Rodovia?” (1967) ou “Vem Cação!” (1969) o interesse formal das imagens estabelece uma relação inusitada com o contexto informativo. Ao mesmo tempo em que preservam sua independência, as imagens ampliam o sentido da informação. Já a edição especial sobre a Amazônia (1971) permite o intenso envolvimento do artista com a região.
A pesquisa formal torna-se mais aguda nos livros que produz. Em Amazônia, publicação com mais de 150 fotografias, Love explora os matizes da região amazônica em vistas aéreas que planificam a paisagem, por vezes se concentrando sobre detalhes e formas cambiantes. O livro propõe a imersão direta nas imagens, num percurso marcado pela autorreferência à linguagem fotográfica. Uma fotografia parcialmente velada inicia o livro, seguida por imagens aéreas, quase indecifráveis, até o mergulho no interior da floresta e seus habitantes. Imagens abstratas cadenciam as sequências, indicando o cromatismo que se segue.
Ao constatar que haviam poucos fotógrafos brasileiros dedicados à paisagem natural, organiza no Masp um ciclo de quatro exposições intitulado A Paisagem Brasileira, em 1979. A paisagem urbana é explorada no álbum São Paulo: Anotações, no qual 92 fotografias compõem, segundo o autor, quatro fases que remetem a relações distintas com a cidade: em uma delas a preocupação está nos aspectos formais, como a exploração do plano, foco, sobreposições de imagens, assimetria e movimento; em outra, assume um caráter jornalístico, documentando o cotidiano da cidade; a introspecção configura a fase em que imperam as impressões abstratas e as sensações motivadas pelo espaço urbano. Há ainda uma fase em que manifesta seu desejo de diálogo com os personagens da metrópole. Nesse álbum, as figuras humanas confundem-se com o próprio movimento e este com o trabalho. Em duas fotografias preenchidas por uma atmosfera densa, encontramos figuras de trabalhadores em contraluz, unidas às estruturas dos edifícios, tais como fantoches, numa continuidade temporal que sugere uma visão arquetípica da cidade.
Love explora diferentes formas expositivas por meio de projeções de slides sobre superfícies não planas e chapas de acrílico transparente em movimento, provocando distorções, recomposições de imagens e ampliando o caráter ambiental com fotoesculturas. No catálogo da mostra Fotógrafos de São Paulo, o artista reflete sobre a oposição, então comum, entre “fotográfico” e “artístico”: “(...) a fotografia tem sido, até certo ponto, prejudicada pela exclusão do diálogo artístico”. Chega a afirmar que “o melhor emprego da fotografia é agora frequente, não nos fotógrafos, mas nos artistas que se apossam dela e de processos afins para resolverem seus problemas”, identificando a presença cada vez mais usual de procedimentos fotográficos na arte contemporânea.
Exposições 17
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17/11/1970 - 3/12/1970
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12/5/1971 - 13/6/1971
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23/11/1972 - 20/12/1972
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28/7/1992 - 30/8/1992
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Fontes de pesquisa 20
- ANDUJAR, Claudia; LOVE, George. Amazônia. São Paulo: Práxis, 1978.
- BONI, Zé de. Verde lente: fotógrafos brasileiros e a natureza. São Paulo: Empresa das Artes, 1994.
- BONI, Zé de. Verde lente: fotógrafos brasileiros e a natureza. São Paulo: Empresa das Artes, 1994.
- BRIL, Stefania. George Love: o habitat e as fotografias. O Estado de S. Paulo. São Paulo: 15 abr. 1980, p. 27.
- CARBONCINI, Anna (coord.). Coleção Pirelli / MASP de Fotografias: v. 2. Versão em inglês Kevin M. Benson Mundy. São Paulo: Masp, 1992.
- CARBONCINI, Anna (coord.). Coleção Pirelli / MASP de Fotografias: v. 2. Versão em inglês Kevin M. Benson Mundy. São Paulo: Masp, 1992.
- DICIONÁRIO brasileiro de artistas plásticos. Organização Carlos Cavalcanti e Walmir Ayala. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973-1980. 4v. (Dicionários especializados, 5).
- FERNANDES JR., Rubens. Os movimentos da fotografia em São Paulo. São Paulo, 17 nov. 2011. Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil. Disponível em http://rpcfb.com.br/wp/os-movimentos-da-fotografia-em-sao-paulo/.
- FOTOGRAFIA em revista. Curadoria Rubens Fernandes Júnior. São Paulo: Abril, 2009.
- FOTÓGRAFOS de São Paulo. São Paulo: MAC/USP, 1971.
- GEORGE Love: imagens entre a realidade e a ilusão. Momento Fuji. São Paulo, jan.-fev.-mar. 1985, ano II, n. 10, p. 2.
- LOVE e o espetáculo da natureza. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 14 mai. 1985, p. 17.
- MACHADO, Arlindo. As luzes e emoções da Amazônia. Jornal da Tarde, São Paulo, 12 maio, 1985. Acontece, p. 41.
- MACHADO, Arlindo. As luzes e emoções da Amazônia. Jornal da Tarde, São Paulo, 12 maio, 1985. Acontece, p. 41.
- MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA. O fotógrafo desconhecido. São Paulo: MAC/USP, 1972.
- MUSEU de Arte de São Paulo: Coleção Pirelli. João da Cruz V. De Azevedo; Guilherme L. Kelly; introd. Rubens Fernandes Junior. São Paulo: Masp, 2010. v. 2.
- OLIVEIRA, Moracy R. de. A fotografia, em três estilos especiais. Jornal da Tarde, São Paulo, 08 abr. 1980.
- OLIVEIRA, Moracy R. de. A fotografia, em três estilos especiais. Jornal da Tarde. São Paulo, 8 abr. 1980.
- OLIVEIRA, Moracy R. de. A imagem da Amazônia: por George Love e Cláudia Andujar. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 19 jan. 1979.
- PERSICHETTI, Simonetta. Um longo olhar para a produção nacional. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 11 ago. 2010, Caderno 2, D5.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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GEORGE Love.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa21677/george-love. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7