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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Adalton Lopes

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 02.08.2022
12.10.1938 Brasil / Rio de Janeiro / Niterói
2005 Brasil / Rio de Janeiro / Niterói
Adalton Fernandes Lopes (Niterói, Rio de Janeiro, 1938 – idem, 2005). Ceramista. É um artista autodidata e mestre na arte do barro. Cronista da vida urbana na segunda metade do século XX, cria figuras que representam as mais diversas atividades profissionais, culturais ou de lazer, assim como imagens de santos e passagens da Bíblia. Seu trabalho...

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Adalton Fernandes Lopes (Niterói, Rio de Janeiro, 1938 – idem, 2005). Ceramista. É um artista autodidata e mestre na arte do barro. Cronista da vida urbana na segunda metade do século XX, cria figuras que representam as mais diversas atividades profissionais, culturais ou de lazer, assim como imagens de santos e passagens da Bíblia. Seu trabalho se distingue pela capacidade de conferir movimento às figuras de barro.

Nasce na favela do Maruí, no bairro de Barreto, em Niterói, onde vive até o final da vida. Desde os 12 anos, modela pequenas figuras de barro por lazer, mas apenas a partir dos 23 essa prática começa a adquirir o aspecto de uma atividade artística profissional. No início dos anos 1970, monta um espaço improvisado, separado do ambiente doméstico, que permite que ele se concentre no desenvolvimento do trabalho com barro. Até aquele momento, desconhece as técnicas de modelagem e queima do material e não conta com uma feira na qual possa vender sua produção.

Com um vizinho que trabalha em uma olaria, aprende a queimar as peças, mas é o contato com o trabalho de Mestre Vitalino (1909-1963), por meio de jornais e revistas, que o estimula a perseguir um lugar de artista, abandonando gradativamente a condição de trabalhador temporário. A admiração pelo mestre pernambucano é explícita e Adalton retoma temas consagrados do repertório de Vitalino, como os boizinhos, a rendeira e o homem à cavalo. Outra referência importante na produção de Adalton é o trabalho do mineiro Antonio de Oliveira (1912-1996), que expõe no morro da Urca suas engrenagens de madeira e bonecos articulados movidos a motor.

A relação que estabelece com especialistas, instituições museológicas e colecionadores é fundamental na trajetória do artista. É o caso do encontro com as arte-educadoras Maria Líbia Assef e Amélia Zaluar, responsáveis pelas primeiras exposições de Adalton em Niterói e no Rio de Janeiro, respectivamente. E também com o colecionador Jacques van de Beuque (1922-2000), fundador do Museu Casa do Pontal, no Rio de Janeiro, que se torna a instituição com a maior coleção de trabalhos do artista.

Quanto à temática, o hábito de leitura da Bíblia se reflete na produção de figuras de santos e cenas da vida de Cristo. Nos livros de história dos filhos, encontra inspiração para modelar as figuras de jagunços, soldados, indígenas e reis. O aspecto singular de sua produção, no entanto, não está nas figuras históricas ou nas imagens religiosas, mas sim no retrato dos tipos sociais: sorveteiros, vassoureiros e amoladores de facas; jogadores de damas, cartas ou sinuca; músicos e brincantes. Da mistura entre a experiência vivida e as referências de livros, cria uma peça inspirada na gravura Le dîner. Les délassements d'une après dîner (1835), do pintor Jean Baptiste Debret (1768-1848). Enquanto a gravura de Debret apresenta um casal de pessoas brancas, no século XIX, sendo servidos por negros escravizados, a escultura de Adalton reproduz a cena no século XX, mostrando como a condição das personagens negras continua próxima ao que ocorria durante o período da escravidão.

Entre os temas abordados, a produção do artista conta também com cenas eróticas. Pouco valorizadas pelo artista e mantidas em segredo por longo período, essas peças despertam o interesse de Jacques, que adquire 65 dessas esculturas para o Museu Casa do Pontal. A criança que se balança em uma cadeirinha pendurada no pênis do pai e a mulher que tenta ajudar um homem a levantar seu membro são algumas das peças de caráter satírico ou burlesco que dão continuidade a uma tradição cômica de origem popular.

No tocante à estrutura dos trabalhos, a fase inicial da produção é caracterizada por figuras isoladas, como as diversas versões de palhaços e ambulantes. Mas é a fase seguinte que o consagra, apresentando grandes conjuntos articulados que buscam dar vida às cenas por meio do movimento. Como um documentarista interessado nos flagrantes da vida cotidiana, o artista retrata a animação de uma roda de samba, crianças empurrando carrinhos, as festas religiosas e o carnaval, entre tantas outras cenas. Para dotar as figuras de movimento, utiliza materiais, como arames e fios, mecanismos de relógios, pilhas e manivelas, adaptados em caixas sob as peças. Com o propósito de construir suas cenas movimentadas, Adalton dedica anos de pesquisa em busca de uma composição ideal de barro, que apresente a resistência necessária para suportar o movimento constante de suas instalações.

Um exemplo dessa segunda fase, identificada como monumental pelos pesquisadores, é o trabalho Circo (1986), feito por encomenda do Instituto Nacional do Folclore para a exposição Circo: tradição e arte, em 1987, na Galeria Mestre Vitalino. O conjunto apresenta três picadeiros, um ao lado do outro, onde ocorrem apresentações distintas, como domadores de leões, mágicos e palhaços. Sobre os picadeiros, diferentes modalidades de malabarismo são executadas e, ao fundo, a plateia, com três conjuntos de músicos, um para cada cena, indicam que se trata do mesmo picadeiro em momentos distintos. O movimento dos bonecos e a música da instalação são os meios escolhidos por Adalton para dar vida a sua criação.

A produção de Adalton Lopes propõe uma forte comunicação entre os campos do sagrado e do profano, na qual arte e engenho se combinam com o propósito de dotar de movimento e, portanto, de vida as cenas cotidianas ou do imaginário do artista. Um trabalho original e bem elaborado plasticamente, que ocupa espaço de destaque no vasto campo da chamada arte popular brasileira.

Exposições 7

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Fontes de pesquisa 4

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  • CATÁLOGO da exposição "Presépios". Rio de Janeiro: IPHAN, 1986.
  • MASCELANI, Angela. Adalton Fernandes Lopes, em busca do homem integral. In: MUSEU CADA DO PONTAL. Catálogo da exposição “Adalton: o senhor do barro". Rio de Janeiro: Museu Casa do Pontal, 2007.
  • MATTOS, Juliana Paula Lima de. A construção do artista popular e sua obra: a trajetória de Adalton Fernandes Lopes no Museu Casa do Pontal. 2013. Dissertação (Mestrado em Memória Social) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
  • ZALUAR, Amelia. Adalton: a magia das mãos. In: MUSEU CASA DO PONTAL. Catálogo da exposição “Adalton: o senhor do barro". Rio de Janeiro: Museu Casa do Pontal, 2007.

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