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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Artacho Jurado

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.08.2024
03.09.1907 Brasil / São Paulo / São Paulo
18.10.1983 Brasil / São Paulo / São Paulo
Foto de autoria desconhecida/Acervo família Jurado

Artacho Jurado, s.d.

João Artacho Jurado (São Paulo, São Paulo, 1907 - Idem, 1987). Arquiteto. Reconhecido por uns como um profissional inventivo, do porte do arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926), criticado por outros como ícone do mau gosto1, é uma das figuras mais controversas do cenário arquitetônico paulistano dos anos de 1940 e 1950.

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João Artacho Jurado (São Paulo, São Paulo, 1907 - Idem, 1987). Arquiteto. Reconhecido por uns como um profissional inventivo, do porte do arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926), criticado por outros como ícone do mau gosto1, é uma das figuras mais controversas do cenário arquitetônico paulistano dos anos de 1940 e 1950.

Filho de imigrantes espanhóis, frequenta a escola durante pouco tempo. Seu pai, um anarquista convicto, força-o a abandonar os estudos ainda no primário para não ter que jurar à bandeira. Autodidata, seu aprendizado se constrói a partir da prática. Inicia a vida profissional produzindo letreiros para feiras expositivas nos anos 1920, quando se transfere para o Rio de Janeiro. Em 1934, de volta a São Paulo, abre uma empresa de letreiros luminosos a gás neon e os fornece para feiras, além de realizar feiras expositivas em sociedade com o irmão, Aurélio Artacho Jurado, braço direito em suas empreitadas.

A participação nessas feiras é fundamental para sua carreira. É isso que o aproxima da arquitetura e proporciona ampla experiência no ramo da construção civil. Os estandes executados por ele não são obras transitórias, mas verdadeiros edifícios. O trabalho primoroso e a inventividade fazem com que ele se torne cada vez mais conhecido, abrindo-lhe novas portas. A Feira do Centenário de Santos, inaugurada em 1939, coloca-o em contato com o então governador de São Paulo, Ademar de Barros (1901-1969) e com o industrial Roberto Simonsen (1889-1948), que o convidam para organizar a primeira e a segunda edições da Feira Nacional de Indústrias de São Paulo, realizadas no Parque Antártica, em 1940 e em 1941.

Nessa época, a cidade de São Paulo vive intenso processo de transformações urbanas, entre elas a verticalização. Atento a isso, em 1944, funda com seu irmão Aurélio a Construtora Anhanguera Ltda. Os primeiros trabalhos são casas térreas e sobrados nos bairros paulistanos Pompeia, Vila Romana, Água Branca e Perdizes, além de edifícios verticais no centro expandido. A partir de 1946, concentra os investimentos no mercado imobiliário, com a fundação da Imobiliária Monções Ltda., durante a construção do empreendimento Cidade Monções, conjunto de casas no bairro Brooklin Paulista.

Nos primeiros trabalhos, ainda não é claro o estilo que consagraria Artacho Jurado, mas já é possível notar seu caráter eclético. Na contramão dos princípios modernistas, esbanja ornamentação, explorando texturas, superfícies e cores, em uma linguagem extrovertida que contrasta com a sobriedade moderna. O primeiro projeto que chama atenção é o Edifício Piauí (1948). Nele, rampas de concreto sinuosas, apoiadas em grandes pilares revestidos por pastilhas coloridas, conectam a calçada à entrada, sobre a qual se encontra um brasão. Construído em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo, o projeto inova ao dispor de apartamentos de metragem menor e de uma área de lazer comum aos moradores no térreo do edifício, atendendo aos anseios de uma classe média emergente da cidade.

Em 1951, os irmãos Jurado se associam a Sílvio Brand Corrêa e José de Castro Tibiriçá, criando a Construtora e Imobiliária Monções S.A., que substitui as duas primeiras empresas. Sob responsabilidade da nova empresa, Artacho Jurado lança suas obras mais famosas, como os edifícios Viadutos (1950) e Bretagne (1952). Este apresenta outra inovação: é o primeiro condomínio a dispor de piscina para seus moradores. A inclusão nos edifícios de áreas de lazer e de outros espaços – como terraços-jardins com vistas panorâmicas da cidade, lojas e subsolos com garagem – é uma inovação constante nos projetos do arquiteto. Visando atrair uma clientela ainda desconfiada das vantagens de se morar em edifícios verticais e não em casas isoladas, constrói um ideal de “bem morar”, o que lhe confere fama no mercado imobiliário. 

Na década de 1950, certas características particulares de seus primeiros projetos, como o destaque das varandas, o desenho rebuscado das balaustradas e sancas, a volumetria e o desenvolvimento inusitado de formas eruditas da arquitetura clássica, ganham expressão e força ao serem assimiladas a elementos da arquitetura moderna carioca de Oscar Niemeyer (1907-2012), como pilotis em “V”, abóbadas e marquises sinuosas. Seus projetos ganham também um colorido vibrante em que predominam os tons rosa, azul e amarelo. O Edifício Parque Verde Mar (1951), erguido em Santos, é um exemplo dessa mistura de características avessas ao modernismo, com elementos do próprio modernismo, formulando assim um estilo único. 

O aspecto cênico e pouco ortodoxo de sua arquitetura contribui para colocá-lo em posição de destaque no cenário arquitetônico paulistano, mas não explica totalmente o sucesso de seus empreendimentos. Fiel ao aprendizado em feiras e exposições, investe na promoção de seus edifícios com estratégias de marketing pouco comuns à época, como a promoção de eventos com participação de artistas e o sorteio de prêmios a cada novo lançamento. Apesar da fama, é alvo principal das críticas de arquitetos modernos no período, especialmente quanto à estética e à eficiência de seus projetos. Além disso, é criticado, e inclusive denunciado algumas vezes, por exercer a profissão sem ter diploma de arquiteto. 

As obras de Artacho Jurado são peças essenciais da paisagem de São Paulo e contam a história da própria cidade. Apesar da discordância quanto ao seu valor estético, é inegável sua contribuição para a transformação dos modos de morar no Brasil.

Notas

1. SANTO, José Marcelo do Espírito. Intrigante desafio dos meio-tons. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n. 26, p. 80-87, out./nov. 1989.

Exposições 3

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Fontes de pesquisa 5

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  • AZEVEDO, Ricardo Marques de. Sobre historiografia. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n. 26, pp. 88-89, out./nov. 1989.
  • CARTUM, Marcos. Artacho Jurado, Arquiteto?. Museu da Cidade de São Paulo, 4 nov. 2021. Exposição. Disponível em: https://www.museudacidade.prefeitura.sp.gov.br/artacho-jurado-arquiteto/. Acesso em: 1 jun. 2023.
  • FRANCO, Ruy Eduardo Debs. Artacho Jurado: arquitetura proibida. São Paulo: Editora Senac, 2008.
  • SANTO, José Marcelo do Espírito. Intrigante desafios dos meios-tons. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n. 26, pp. 80-87, out./nov. 1989.
  • TEPERMAN, Sergio. Brega e Kitsch. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, n. 26, pp. 90-91, out./nov. 1989.

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