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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Aylton Escobar

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 29.05.2019
1943 Brasil / São Paulo / São Paulo
Aylton Escobar Silva (São Paulo SP 1943). Compositor, regente e educador. Inicia os estudos de piano em 1956, com Carmem Nilde da Fonseca (Escola Chiafarelli), ingressando pouco depois na Academia Paulista de Música, em São Paulo, onde tem aulas de piano com Nair Medeiros e de composição com Osvaldo Lacerda. Prossegue seus estudos de composição ...

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Biografia

Aylton Escobar Silva (São Paulo SP 1943). Compositor, regente e educador. Inicia os estudos de piano em 1956, com Carmem Nilde da Fonseca (Escola Chiafarelli), ingressando pouco depois na Academia Paulista de Música, em São Paulo, onde tem aulas de piano com Nair Medeiros e de composição com Osvaldo Lacerda. Prossegue seus estudos de composição com Camargo Guarnieri no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. No início da década de 1960 muda-se para o Rio de Janeiro, tem aulas de piano com Marília Martins e, posteriormente, com Lúcia Branco e Zulmira Elias (Escola Magda Tagliaferro).

Em 1969, gradua-se em música pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e começa a criar música para teatro. Parte logo depois para os Estados Unidos para estudar música eletroacústica com Vladimir Ussachevsky e Mario Davidovsky na Columbia University, em Nova York, como bolsista do Itamaraty, em 1970. Essa época marca o início de um grande número de premiações, das quais se destacam uma menção da Rádio Nacional da Áustria (1967), os 1º e 2º Festivais de Música da Guanabara (1969-1970), o Prêmio Molière de música para teatro (1969), os prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 1974, 1975 e 1988, o Prêmio Governador do Estado de São Paulo (1975), e o Prêmio do Festival de Cinema Curta-Metragem da Venezuela (1977). É nesse período igualmente que começa a atuar como regente, tem aulas com Alceo Bocchino e Francisco Mignone e rege programas que contêm, entre outras, suas próprias composições. Inicia a carreira no campo do ensino em 1975, tornando-se diretor da Escola de Música Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, até 1979. Desenvolve o mesmo papel entre 1993 e 1997, ao assumir a direção da Universidade Livre de Música Tom Jobim, em São Paulo, e do Festival Internacional de Música de Campos do Jordão.

A partir da década de 1980 torna-se regente titular de diversas orquestras: Paraíba (1984-1985), Minas Gerais (1985-1989), Filarmônica Norte/Nordeste do Brasil (década de 1990) e Campinas (2001-2003). Desde 1989 é professor de orquestração, composição e regência do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em que é regente adjunto da Orquestra Sinfônica e da Orquestra de Câmara da USP. É um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Música Contemporânea e membro da Academia Brasileira de Música. Tem suas obras interpretadas em teatros de cidades como Toledo, na Espanha, Zagreb e Dubrovnik, na Croácia, Nova York, Paris, e editadas nas Américas e na Europa. Desde 2008, recebe encomendas da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), e tem duas obras lançadas nesse período: Salmos Elegíacos para Miguel de Unamuno (2008) e Puñal (2010).

 

Comentário Crítico

A personalidade tanto composicional quanto interpretativa de Aylton Escobar pode ser definida por certas características comuns que podem ser expressas pelos termos liberdade, transgressão, provocação e impulsividade. O amadurecimento dessas qualidades ocorre paulatinamente durante o percurso do músico, sendo impulsionadas por fatos de sua vida. Entre eles, evoca-se a crítica gerada pela audição de sua estreia internacional como compositor, Missa Breve sobre Ritmos Populares Brasileiros, em Nova York, com o conjunto vocal de Roberto de Regina, em 1968. A peça, de caráter nacionalista (decorrente de suas aulas com Osvaldo Lacerda e Camargo Guarnieri), sofre o questionamento do crítico Paul Hume de como um jovem com tanto talento consegue escrever uma música tão antiga. Frustrado, passa a acreditar que não sabe escrever música, apenas copia a já existente de outros. Resolve afastar-se da criação de concerto e começa a realizar música para teatro, trabalhando inicialmente com os diretores de teatro Amir Haddad e Fauzi Arap. Nesse ambiente, totalmente voltado para a experimentação livre, descobre a música contemporânea experimental.

Em O Assalto, com Arap, começa a compor música eletroacústica, gravando sons da cidade e sons não usuais instrumentais, como o timbre das cordas do piano tocadas diretamente. É pelo teatro que Escobar percebe que seu modo de compor não corresponde em nada à escola de Guarnieri. A partir daí, adota a filosofia de que o erro não existe, existe a veracidade do desejo de se expressar e a lealdade a esse desejo. Abole então todas as fronteiras possíveis da expressividade artística: entre as artes (música, teatro, artes plásticas, poesia), entre as técnicas de escrita utilizadas (mistura tonalismo, dodecafonismo, atonalismo livre etc.), entre o popular, o folclórico e o erudito (trabalha indistintamente com guitarra, berimbau, instrumentos convencionais de orquestra, canto dos índios e técnicas de vanguarda europeia, defendendo que essa separação é originariamente social e preconceituosa), entre o intérprete, o público e o criador (como na peça Cromossomos, com a participação do público, ou Assembly, que tem partes de improvisação instrumental). A única coisa que conta é a liberdade de "se colocar por inteiro na obra", de "estar à beira do abismo", como diz o compositor. "O importante disso tudo é saber que você está expressivamente dizendo alguma coisa, e não belamente, do ponto de vista estético. Você mostra o que você é realmente. É a nudez no sentido da beleza absoluta. Eu convido o músico a esta nudez."1 Dessa liberdade surge a necessidade de transgressão. Criar é transgredir: a música, a forma, os conceitos preestabelecidos.

Escobar submete a potencial elegância ou perfeição formal à expressividade da mesma, e para isso utiliza-se de toda a palheta de ferramentas estéticas possíveis: "Para você criar alguma coisa num momento de grande revolução é preciso que você bagunce e despreze tudo, e crie alguma coisa nova, ainda que sob riscos. Então o ecletismo [estético] faz com que você use à vontade aquilo que está à disposição, e com isso acabe criando alguma coisa da sua própria maneira de fazer". De toda forma, conserva o caráter lírico que possui desde o início de sua carreira, que é um traço constante em suas composições. Da mesma maneira, surge a necessidade de provocação, utilizada como artifício para "acordar" seus interlocutores e, num ato quase político, instigar a curiosidade deles para a experimentação da vida por outro viés. Isso pode tanto ser visto na sua escrita composicional como na atividade como pedagogo ou regente. Em 1968, por exemplo, sua obra Poemas do Cárcere, baseada no texto do revolucionário vietnamita Ho Chi Minh, é proibida pelo governo de receber o prêmio do Festival da Guanabara por ser considerada subversiva. Ao assumir a direção da Escola Villa-Lobos, em 1975, coloca 37 cargos à disposição e manda todos os alunos embora, modificando o quadro de professores e todo o processo de ensino estabelecido até ali. Da década de 1980 em diante, seu comprometimento com a regência e o ensino o obriga a uma dedicação cada vez menor à composição, situação que vem se revertendo nos últimos anos, notoriamente pelas encomendas feitas pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) ao compositor.

 

Nota

1 DEL POZZO, Maria Helena Maillet. Questões sobre o universal e o paradoxal na obra para piano de Aylton Escobar. Dissertação de mestrado sob a orientação de Maria Lúcia Senna Machado Pascoal e Mauricy Matos Martin. Campinas: Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas, 2001, p. 53.

Espetáculos 12

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Exposições 1

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Fontes de pesquisa 11

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  • Bomfim, Cássia Carrascoza. A flauta solista na música contemporânea brasileira: três propostas de análise técnico-interpretativas. Dissertação de mestrado sob a orientação de Rogério Luiz Moraes Costa. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009.
  • Del Pozzo, Maria Helena Maillet. "Análise e interpretação da obra para piano de Aylton Escobar". ICTUS (PPGMUS/UFBA), vol. 1, 2005; pp. 105-121.
  • Del Pozzo, Maria Helena Maillet. Questões sobre o Universal e o Paradoxal na Obra para Piano de Aylton Escobar. Dissertação de mestrado sob a orientação de Maria Lúcia Senna Machado Pascoal e Mauricy Matos Martin. Campinas: Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas, 2001.
  • EICHBAUER, Hélio. [Currículo]. Enviado pelo artista em: 24 abr. 2011. Não catalogado
  • Kater, Carlos. "Encontro com Aylton Escobar". Entrevista exclusiva in: Cadernos de estudo: análise musical. n°5. São Paulo, fev-ago. 1992. pp. 97-106.
  • Lovaglio, Vania Carvalho. "Festival de Música da Guanabara: música contemporânea e latino-americanismo no Rio de Janeiro". Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP - USP. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008.
  • Maués, Igor. Música eletroacústica no Brasil (1956-1981). Dissertação de mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1989.
  • Moschella, Alexandre. « Entrevista com o maestro e compositor Aylton Escobar ». Entrevista realizada para o Jornal da Tarde (SP) em dezembro de 1994. Disponivel em: <<http://www.alexandremoschella.com/ensaios/aylton.htm>>. Consulta em: 30/11/2011.
  • Programa do Espetáculo - Amadeus - SP. Não catalogado
  • Silva, Aylton Escobar. "Dono de um brilhante...". Entrevista a Nelson Rubens Kunze. Concerto: Guia Mensal de Música Erudita, São Paulo, v. 6, n. 63, jun. 2001. p. 14‑15.
  • Silva, Aylton Escobar. Memória Compositor Contemporâneo - Depoimento do compositor em vídeo ao Museu da Imagem e do Som. MIS, Série História Oral. São Paulo: Acervo do museu da Imagem, 1990.

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