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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Sérgio Sant'anna

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.05.2020
30.10.1941 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
10.05.2020 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Registro fotográfico Bel Pedrosa/Companhia das Letras

Sérgio Sant'Anna
Bel Pedrosa, Sérgio Sant'anna

Sérgio Andrade Sant'Anna e Silva (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1941 - idem, 2020). Contista, romancista, poeta e professor. Seu trabalho tem como características fundamentais a tendência à experimentação formal, o diálogo com diferentes linguagens artísticas e a mescla de gêneros narrativos. Ao voltarem-se para si mesmos, os textos questionam...

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Sérgio Andrade Sant'Anna e Silva (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1941 - idem, 2020). Contista, romancista, poeta e professor. Seu trabalho tem como características fundamentais a tendência à experimentação formal, o diálogo com diferentes linguagens artísticas e a mescla de gêneros narrativos. Ao voltarem-se para si mesmos, os textos questionam as possibilidades da literatura.

Em 1959, Sérgio muda-se para Belo Horizonte e ingressa na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde se forma em 1966. Cursa pós-graduação no Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Paris entre 1967 e 1968. Na época, viaja também para Praga, República Tcheca, testemunhando os eventos que dão fim à Primavera de Praga, movimento que restituía liberdades democráticas durante o regime soviético. Estreia na ficção no ano seguinte, com uma pequena edição do livro de contos O Sobrevivente. Este lhe rende uma bolsa para participar do International Writing Program, da Universidade de Iowa, Estados Unidos.

Tanto no conto como no romance de Sérgio, a posição do narrador é frequentemente escancarada. Em primeira pessoa, ele revela sua fragilidade, assumindo-se como parcial e limitado. Em terceira, denuncia o próprio caráter arbitrário, em um jogo determinado pela consciência da impossibilidade de narrar.

No conto-título de Notas de Manfredo Rangel, Repórter (1973), o narrador apresenta observações escritas a respeito de Kramer, a quem acompanha por acreditar ser "um possível futuro presidente da República". A trajetória do político, marcada por oscilações em seu posicionamento e em sua relação com o poder dominante ⎼ a qual o leva à prisão e à tortura ⎼, é apresentada em fragmentos, em um formato que dispensa qualquer causalidade. Com o procedimento, o jornalista se isenta da responsabilidade fundamental de seu ofício ⎼ compreender e interpretar os acontecimentos ⎼  ao mesmo tempo que denuncia, pela impossibilidade da visão coesa, o caráter brutal e arbitrário dos eventos políticos brasileiros.

Confissões de Ralfo: Uma Autobiografia Imaginária (1975), o primeiro romance de Sant'Anna, é exemplar quanto à simulação de uma aparente liberdade narrativa. A atmosfera sugerida pelo subtítulo confere ao narrador-protagonista a licença para ignorar os limites entre a declarada ficção e o que se oferece como sua biografia: "Que alívio, portanto, pode trazer para mim o fato de que tais coisas aconteceram apenas ficcionalmente comigo?".

Nos fragmentos que compõem seu discurso, Ralfo se apresenta em diferentes versões ou personalidades: repórter, herói, mágico, ator, escritor, em clara tendência ao escapismo. As razões para que tente fugir da realidade aparecem em chave irônica ou paródica e tornam-se patentes no capítulo em que narra a tortura a que foi submetido. A cena, armada para retratar o interrogatório de um preso político, sugere, ao adotar o nonsense nas perguntas, o recuo da plausibilidade diante de uma realidade violenta.

Também se confundem os diferentes níveis de autoria demarcados no romance. Ralfo, o protagonista, assina o prólogo e o epílogo da autobiografia. O livro se encerra com uma nota final de Sant'Anna, que pertence também ao âmbito ficcional, não correspondendo ao autor de fato: "Entre as várias incoerências deste livro está a de ser guardado ou publicado, uma vez que todas as suas cópias foram supostamente destruídas, no capítulo a que se deu o nome de 'Literatura' ".

A frequente sobreposição dos diferentes níveis discursivos chama atenção, assim, para o falseamento próprio da escrita. Estão em jogo sempre as representações da realidade, jamais a realidade sem mediações, fato ressaltado pelo discurso metalinguístico.

O escritor volta a viver no Rio de Janeiro em 1977, ano em que integra o corpo docente da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde permanece até 1990. A partir de então, dedica-se exclusivamente à literatura, atuando como colunista do jornal O Dia e colaborando em diversos veículos da imprensa, como a revista Cult e os cadernos literários dos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil.

A tendência argumentativa do autor pode ser vista em trabalhos que procuram revelar outra arbitrariedade da escrita: a do próprio discurso ⎼ caso sobretudo das narrativas em terceira pessoa. No conto “A Mulher Nua” [O Voo da Madrugada (2003)], a alta recorrência de conectivos e o uso ostensivo de clichês como "é preciso apontar que" e "tornaremos a isso mais adiante" parodiam a dissertação da crítica de arte: não sem ironia, demonstra-se a falaciosa objetividade das conclusões interpretativas.

Trata-se de tema caro ao autor ⎼ e que é responsável por colocar à prova o depoimento do narrador do romance Um Crime Delicado (1997) ou determina a estrutura do conto “O Duelo” [A Senhorita Simpson (1989)]. No primeiro, o protagonista, um crítico de teatro, torna-se vítima de uma obra de arte; já o escritor, na narrativa breve, oprimido pelas relações de mercado implicadas na feitura de um livro, faz de sua própria escritura uma colagem de best-sellers costurada por clichês cinematográficos ou televisivos.

Em 2008, Sérgio volta a Praga para escrever O Livro de Praga: Narrativas de Amor e Arte, lançado em 2011. A obra integra o projeto Amores Expressos, criado pela editora Companhia das Letras.

Ao longo da carreira, Sérgio Sant’Anna provoca o questionamento sobre o próprio ato de escrever e mostra como a ficção pode ser um mecanismo de denúncia e relato da realidade, camuflada pela fantasia que se propõe ser.

Obras 14

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Espetáculos 5

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Fontes de pesquisa 8

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  • MARTINS, Wilson. A metáfora teatral. In: _____. Pontos de vista: crítica literária. São Paulo: T. A. Queiroz, 1995, v.10. p.403-406.
  • PELLEGRINI, Tânia. A imagem e a letra: aspectos da ficção brasileira contemporânea. Campinas: Mercado das Letras; São Paulo: Fapesp, 1999.
  • PORTO, Ana Paula Teixeira. A literatura e o discurso crítico: Sérgio Sant'Anna em debate. In: Literatura e autoritarismo, nº6, jul-dez de 2005. Disponível em: http://coralx.ufsm.br/grpesqla/revista/num6/ass05/pag01.html. Acesso em: 14 out. 2010.
  • Programa do Espetáculo - Exercício nº 2. Formas Breves - SP 2009.
  • SANTIAGO, Silviano. O caminho circular da ficção. In: _____. Uma literatura nos trópicos. 2 ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. p.176-187
  • SANTOS, Carlos Vinicius Veneziani. O contexto autoritário em Notas de Manfredo Rangel, repórter, de Sérgio Sant'Anna. Dissertação (Mestrado em Literatura Brasileira) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-16102009-145952/publico/CARLOS_VINICIOS_V_S.pdf. Acesso: 14 out. 2010.
  • SILVEMAN, Malcolm. Protesto e novo romance brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
  • SILVERMAN, Malcom. A prosa criativa de Sérgio Sant'Anna. In: _____. Moderna Ficção Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. p. 278-310.

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