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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Claudius

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.04.2024
02.12.1937 Brasil / Rio Grande do Sul / Garibaldi
Claudius Sylvius Petrus Ceccon (Garibaldi, Rio Grande do Sul, 1937). Arquiteto, designer, jornalista, desenhista, ilustrador e cartunista. Trabalha no jornal O Cruzeiro como auxiliar de paginador, em 1954. Três anos mais tarde, faz caricaturas para o Jornal do Brasil. No início década de 1960, cursa desenho industrial na Escola Superior de Desen...

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Claudius Sylvius Petrus Ceccon (Garibaldi, Rio Grande do Sul, 1937). Arquiteto, designer, jornalista, desenhista, ilustrador e cartunista. Trabalha no jornal O Cruzeiro como auxiliar de paginador, em 1954. Três anos mais tarde, faz caricaturas para o Jornal do Brasil. No início década de 1960, cursa desenho industrial na Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), no Rio de Janeiro. Na mesma cidade, trabalha na revista Pif Paf. Passa a integrar, em 1969, a equipe do jornal O Pasquim, no qual também trabalham os desenhistas e humoristas Millôr Fernandes (1923-2012), Jaguar (1932), Ziraldo (1932) e Fortuna (1931-1994).

Após ser preso pelo regime militar brasileiro,1 em 1971, exila-se em Genebra. Lá, tem contato com o educador Paulo Freire (1921-1997), com quem funda - juntamente com Rosiska Darcy de Oliveira, Miguel Darcy de Oliveira e Babette Harper - o Instituto de Ação Cultural (Idac), por meio do qual trabalha em projetos de alfabetização em países africanos de língua portuguesa até 1975. Ao voltar para o Brasil, em 1978, trabalha com alfabetização em bairros carentes de São Paulo, também pelo Idac, junto ao arcebispo dom Paulo Evaristo Arns (1921).

Após desligar-se do instituto, funda, com o cineasta Eduardo Coutinho (1933-2014), Paulo Freire, a escritora Ana Maria Machado (1941) e outros, o Centro de Criação da Imagem Popular (Cecip), no ano de 1986. O centro produz o programa de televisão TV Maxabomba e cria materiais educativos, voltados para a democratização da mídia e da informação no Brasil. Ao longo de sua trajetória, faz ilustrações para diversos periódicos, como O Diário Carioca, o Correio de Manhã, o Estado de S. Paulo e a revista Piauí. Também trabalha como jornalista na revista Caros Amigos e dedica-se a projetos de educação, como a confecção do livro didático Brasil Vivo, publicado na década de 1980. Atualmente, realiza charges, faz ilustrações para livros infantis e é diretor do Cecip, que realiza campanhas de interesse público e desenvolve projetos de inclusão digital com alunos de escolas pública.

Análise

Na série de livros Mico Maneco, Claudius ilustra as histórias da escritora Ana Maria Machado. Voltada para crianças pequenas, a obra foge dos formatos tradicionais para alfabetização infantil e propõe a literatura como instrumento de aprendizado da leitura e escrita. As ilustrações auxiliam a criança, que decodifica o texto com a ajuda dos desenhos. O traço simples e forte e a clareza das ilustrações de Claudius para livros infantis são elementos recorrentes no seu trabalho. Suas propostas unem didatismo e humor de maneira leve e atingem diferentes públicos.

Sua obra também é marcada pela crítica e pelo engajamento político, que o acompanham desde o início da carreira. Aos 32 anos, o artista integra a equipe do jornal O Pasquim, no Rio de Janeiro. O veículo se torna conhecido como porta-voz da oposição ao regime militar brasileiro. Com o endurecimento do regime, após o AI-5 em 1968,2 a repressão e a censura aumentam. Após publicar charge que trata com ironia a independência do Brasil, a equipe do Pasquim é presa, em 1970. Ao sair da prisão e exilar-se em Genebra, Claudius dedica-se a diversos projetos voltados à educação e ao acesso à informação no Brasil.

No livro didático Brasil Vivo, por exemplo, o texto escrito e as ilustrações se aliam para narrar a história do Brasil a partir de perspectiva diversa daquela comumente exposta em materiais escolares. No lugar do olhar do colonizador, há a visão dos índios colonizados. Enquanto o texto descreve as atividades indígenas e as mudanças causadas pela chegada dos portugueses, a figura do português é apresentada de forma irônica nos desenhos. Ilustrando os episódios históricos com humor, as charges de Claudius narram a formação do país a contrapelo, dando voz aos oprimidos e representando de maneira nova os opressores. A violência dos portugueses, a brutalidade como são tratados os escravos africanos, a forma autoritária da educação jesuíta e o machismo da cultura colonial são alguns dos temas focados.

Um exemplo do engajamento na democratização da informação é a cartilha A Informação É o Melhor Remédio, da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), que é ilustrada por Claudius e tem como objetivo defender a população da excessiva propaganda de medicamentos na televisão. Já nas charges publicadas em jornais e outros periódicos, a maioria dos conteúdos se refere a fatos políticos. No ano de 2013, por exemplo, marcado por diversas manifestações de rua no país,3 Claudius publica série de charges no site do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), nas quais ilustra temas ligados aos protestos populares. Uma pessoa que sonha com a presidenta do país, Dilma Rousseff, na linha de frente das passeatas, uma caixa preta que guarda palavras como “propina”, um homem que segura cartaz com os dizeres “é muito motivo, não cabe aqui”. Novamente, Claudius narra os acontecimentos políticos a partir da perspectiva do oprimido e retrata de forma irônica o opressor, como é o caso do policial que se envergonha ao apontar arma para mulher cujo cartaz diz “não atire contra meus sonhos”.

Notas

1. A ditadura militar se instaura em 1º de abril de 1964 e permanece até 15 de março de 1985. Os direitos políticos dos cidadãos são cassados e os dissidentes perseguidos.

2. O Ato Institucional n° 5 autoriza o presidente a fechar o Congresso Nacional, cassar os direitos políticos dos cidadãos e mandatos de parlamentares e suspender o habeas corpus, entre outros.

3. A prefeitura de São Paulo planeja aumentar o preço das passagens de ônibus em junho de 2013. O Movimento Passe Livre (MPL) promove manifestação contra o aumento tarifário e desencadeia protestos por todo o país que têm como pauta reivindicações mais amplas, como saúde, educação e ética política.

Exposições 3

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Fontes de pesquisa 5

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  • BRAGA, José Luiz. O Pasquim e os anos 70: mais pra epa que pra oba... Brasília: UnB, 1991. 070.4440981 B813p
  • FONSECA, Joaquim da. Caricatura: a imagem gráfica do humor. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999. 741.5981 F6764c
  • LAGO, Pedro Corrêa do. Caricaturistas brasileiros: 1836-1999. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999. 741.5981 L1777c
  • LEMOS, Renato (org.). Uma história do Brasil através da caricatura: 1840/2001. Rio de Janeiro: Bom Texto: Letras e Expressões, 2001.
  • REGO, Norma Pereira. Pasquim: gargalhantes pelejas. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996. 127 p., il. p&b. (Arenas do rio, 6). 070.9 Re343p

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