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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Tata Amaral

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 09.10.2024
1960 Brasil / São Paulo / São Paulo
Márcia Lellis de Souza Amaral (São Paulo, São Paulo, 1960). Diretora de cinema. Dirige filmes e séries sobre dramas sociais e políticos, dando voz a mulheres por meio de suas protagonistas e contribuindo para o resgate da memória do país.

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Márcia Lellis de Souza Amaral (São Paulo, São Paulo, 1960). Diretora de cinema. Dirige filmes e séries sobre dramas sociais e políticos, dando voz a mulheres por meio de suas protagonistas e contribuindo para o resgate da memória do país.

Tata Amaral, como é conhecida, estuda no Colégio Equipe, tradicional reduto de pensamento crítico e resistência durante a ditadura militar (1964-1985)1. Passa a frequentar as aulas de cinema na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). No fim dos anos 1970, integra o grupo político de esquerda Libelu (Liberdade e Luta) e acompanha os movimentos de greves da época, como as do ABC paulista e da ECA. 

Começa a carreira cinematográfica nos anos 1980, realizando curtas-metragens. O contexto é propício, pois as salas de cinema eram obrigados a exibir curtas nacionais antes da exibição de filmes estrangeiros. Dois trabalhos da diretora se destacam neste período. Queremos as Ondas do Ar (1986), em parceria com Francisco César Filho (1958), ganha o prêmio principal no festival de Oberhausen, Alemanha. O curta defende a liberdade nas telecomunicações e discute o monopólio do Estado na concessão de outorgas de emissoras de TV. Viver a Vida (1991), que aborda a rotina de um office boy, recebe o prêmio de melhor roteiro, no Festival de Cinema Gramado  e melhor curta e direção do festival de Brasília.

Nos anos 1990, com a extinção da Embrafilme, a indústria cinematográfica passa por momento crítico. A retomada se dá apenas na segunda metade da década. Em 1997, Tata lança seu primeiro longa-metragem: Um Céu de Estrelas. O filme conta a história de uma jovem cabeleireira impedida pelo ex-noivo desempregado de viajar para receber um prêmio. Com este filme, inicia-se a longa parceria entre a diretora e o escritor Jean-Claude Bernardet (1936), autor do roteiro ao lado de Roberto Moreira (1961).

A crítica destaca a linguagem crua e a direção vigorosa. O recurso da câmera bem próxima dos atores transforma o espectador em “cúmplice da catarse”, na definição de Carlos Reichenbach (1945-2012). O cineasta considera que Tata dignifica a função de diretora ao conduzir o casal de atores a uma entrega total aos personagens. O crítico de cinema Amir Labaki (1963) vê no filme uma longa descida aos infernos, com uma curva ascendente de tensão com poucos paralelos na produção cinematográfica recente.

Toda a história se passa no apartamento da protagonista, cenário inspirado na peça Huis Clos (1944), de Jean-Paul Sartre (1905-1980). A motivação inicial é o baixo orçamento, mas também porque Tata se interessa por realizar filmes em espaços enclausurados, por achar a tarefa desafiadora. 

A  diretora tem interesse por narrar tragédias. Depois de Um Céu de Estrelas, ela continua especulando sobre a estrutura trágica, sobre o que há de irreconciliável entre o velho e o novo. A pedidos da cineasta, Bernardet escreve o argumento de Através da Janela (2000). Também filmado entre quatro paredes, o longa retrata novamente a intimidade entre dois personagens, dessa vez uma mãe viúva e o filho de 24 anos. Eles vivem juntos, numa relação quase incestuosa. Quando o comportamento dele muda, ela se desespera achando que o rapaz está em uma relação amorosa.

Naquela época, Tata tem a intenção de realizar uma trilogia com momentos distintos da trajetória humana. Nesse sentido, Um Céu de Estrelas representa a fase de amadurecimento, quando a protagonista decide mudar de vida. Em Através da Janela, o comportamento da mãe simboliza a morte. A fase do nascimento chega com Antônia (2006), seu terceiro longa. Não se trata do nascimento biológico, mas o despertar para a vida em sociedade que acontece durante a juventude.

Nos anos seguintes, Tata, dedica-se à realização de documentários e séries. Nesse momento, começa a abordar a memória política do país, sobretudo a repressão durante os anos de ditadura militar. Nova durante os anos de chumbo, decide estudar o assunto. Ao conhecer presos políticos e suas histórias, impressiona-se com a falta de memória da sociedade brasileira.  Para a diretora, conhecer o passado é um direito fundamental.

Em 2011, com o filme Hoje, a diretora leva seu interesse pela memória para as telas do cinema. Baseado em texto do escritor Fernando Bonassi (1962), o longa narra a chegada de uma mulher ao novo apartamento, adquirido com a indenização recebida pelo desaparecimento do marido nos anos da repressão. O imóvel antigo funciona como personagem. Segundo a crítica, o despojamento do lugar desocupado, sem móveis ou decoração, reafirma o caráter da protagonista, mulher e não heroína, como as personagens da obra da diretora. Outro aspecto elogiado é o roteiro, pelo mérito de não simplesmente reconstituir o passado, mas exumá-lo como modo mais eficaz de enterrá-lo e esquecê-lo. 

Em 2016, a telessérie Trago Comigo é adaptada para o cinema. O longa narra a angústia de um diretor de teatro atormentado pela falta de lembranças a respeito de uma relação amorosa interrompida pela violência da ditadura. 

Tata Amaral destaca em seus filmes dramas sociais e políticos, trabalhando para a preservação da memória da luta política de grupos sociais, especialmente das mulheres, por meio de suas protagonistas.

Nota

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

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