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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Toninho Carrasqueira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.10.2024
09.09.1952 Brasil / São Paulo / São Paulo
Antonio Carlos Moraes Dias Carrasqueira (São Paulo SP 1952). Flautista. Nascido no Bairro da Lapa, em São Paulo, encontra na família suas principais referências artísticas. Seu pai, João Dias Carrasqueira, funcionário da Estrada de Ferro São Paulo Railway, é um dos principais professores de flauta da cidade, conhecido como o "Canarinho da Lapa"....

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Biografia

Antonio Carlos Moraes Dias Carrasqueira (São Paulo SP 1952). Flautista. Nascido no Bairro da Lapa, em São Paulo, encontra na família suas principais referências artísticas. Seu pai, João Dias Carrasqueira, funcionário da Estrada de Ferro São Paulo Railway, é um dos principais professores de flauta da cidade, conhecido como o "Canarinho da Lapa". Suas duas irmãs estudam piano, e suas primas, acordeom e violão. Nos saraus que seu pai realiza em casa participam músicos importantes do choro, como Pixinguinha e Jacob do Bandolim.

Inicia a carreira de jogador de futebol em alguns clubes - o maior deles é o Nacional Atlético Clube, ligado à SPR - mas troca paulatinamente essa carreira pela de músico profissional. Aos 14 anos de idade, estreia ao lado do pai e da irmã, a pianista Maria José Carrasqueira, com quem mantém um duo ainda hoje. Aos 15, ingressa na Orquestra de Câmara Jovem de São Paulo, comandada por Beatriz Dietzius, e, três anos mais tarde, participa da Orquestra Filarmônica de São Paulo, sob a regência do maestro argentino Simon Blech. Frequenta o curso de comunicação da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), que abandona no segundo ano para dedicar-se mais ao estudo de música.

Com 20 anos, conquista o primeiro prêmio do Concurso para Jovens Instrumentistas de Piracicaba, recebendo um mês depois uma bolsa de estudos do governo francês, por recomendação do maestro Ernest Bour. Em Paris, tem aulas particulares com Christian Lardé e, no Conservatório Nacional de Versailles, com Roger Bourdin, onde ao se formar alcança o primeiro prêmio. Ingressa então na École Normale de Musique de Paris (ENMP), e tem aulas com Fernand Caratgé. Em 1975 vai à Irlanda estudar com o flautista James Galway, e volta ao Brasil, em 1979, como primeiro flautista da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo.

Insatisfeito com a organização da orquestra pede demissão em 1986, e dedica-se então à carreira solo. Lança nesse ano o primeiro disco em duo com a irmã Maria José, dedicado à obra do compositor Oswaldo Lacerda, além de iniciar um trabalho com o músico e dançarino Antonio Nóbrega. Aproximando-se da música popular integra a Banda Mexe com Tudo, que realiza shows de gafieira no Bar Avenida, em São Paulo. Ainda em 1986 ingressa como professor no Departamento de Música da Universidade de São Paulo (USP). Em 1990 passa a compor a recém-formada Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo, como chefe do naipe de flautas, e em 1994 lança seu primeiro disco solo, com repertório de compositores latino-americanos. O terceiro disco solo é de 1996, dedicado a Patápio Silva e Pixinguinha. Em 1997 é convidado para atuar como flautista do Quinteto Villa-Lobos, tradicional grupo de sopros sediado no Rio de Janeiro, e segue nesse conjunto, com o qual realiza concertos e gravações do repertório da música brasileira. Grava a série de 15 discos Princípios do Choro, pesquisa do violonista Maurício Carrilho dedicada a compositores brasileiros nascidos antes de 1900, além de 33 faixas da coletânea Joaquim Callado, o Pai dos Chorões, de 2002, ao lado de Nailor Proveta, Eduardo Neves, Água de Moringa, Izaías e Seus Chorões, Hermeto Pascoal, Déo Rian, Galo Preto, Odette Ernest Dias, Pedro Amorim, Sivuca e Marcelo Bernardes, contendo cinco CDs com a obra de Joaquim Antonio da Silva Callado Jr. No mesmo ano, participa do coletivo Mulheres do Choro, do selo Acari Records, mesmo selo do projeto anterior, dirigido por Mauricio Carrilho e Luciana Rabello.

 

Comentário crítico

A história da flauta no Brasil já conta com grandes nomes e uma tradição constituída. Desde Joaquim Callado, a flauta brasileira vem ganhando novos intérpretes que vêm escrevendo essa história, e entre Viriato Silva, Patápio Silva, Pixinguinha, Benedito Lacerda, João Dias Carrasqueira, Altamiro Carrilho, e outros, existe uma continuidade e cooperação mútua que dão à flauta no Brasil uma tradição recente mas segura. Toninho Carrasqueira aparece como o principal intérprete de música erudita dessa linhagem, tendo concluído sua formação dentro da tradicional escola de flauta francesa.

Da escola erudita trouxe para si a leitura musical impecável e a sonoridade delicada e cristalina, bem diferente daquela que estava sendo desenvolvida pelos flautistas mais ligados à música popular do Brasil. Aliando a essa sonoridade um vibrato1 vigoroso chega a um resultado bastante pessoal, podendo ser identificado em gravações com facilidade. Se a tradição da flauta dos chorões é mais ligada a bares e coretos - o que exige uma sonoridade mais incisiva e mais "suja" -, a sonoridade trazida por Toninho Carrasqueira é a exigida pela sala de concerto, que mostra maior variedade de timbres e dinâmicas. Seu estilo muito pessoal de tocar faz escola, e atuando como professor em universidades e orquestras orienta uma nova geração de flautistas brasileiros.

Sua dupla formação na escola da flauta brasileira - sendo herdeiro direto de João Dias Carrasqueira - e na tradicional escola de flauta francesa está cristalizada em seu primeiro disco solo, In Concert, gravado com Maria José Carrasqueira ao piano e lançado pela gravadora Paulinas Comep. O repertório traz peças de compositores franceses (C. Chaminade, G. Fauré, C. Debussy, F. Poulenc, H. Duttilleux) e brasileiros (Patápio Silva e H. Villa-Lobos), todos compositores da primeira metade do século XX. Com esse repertório Toninho Carrasqueira pode explorar e exibir a síntese que procura realizar entre as duas escolas. Na gravação de Syrinx, famosa peça para flauta solo de Debussy, o flautista toma a liberdade de adicionar sons captados na Mata Atlântica ao fundo de sua interpretação, não sem algum espanto da crítica especializada.

Deixando mais claro seu caminho de volta da Europa, realiza o segundo disco solo, El Canto de Guirahú - Concerto Latino-Americano, apresentando uma seleção de compositores latino-americanos do século XX. Evita o repertório tradicional europeu em favor de compositores latinos eruditos e semieruditos, apontando já sua ligação com a música popular. O hibridismo da polaridade popular-erudito está presente no disco tanto nas peças mais tradicionais La Historia del Tango, do argentino Astor Piazzolla, e Valsa Choro, do brasileiro Francisco Mignone, quanto composições mais abertas como La Région mas Transparente, do cubano Leo Brouwer, ou ainda a improvisativa Encanto Crescente, de autoria do próprio Carrasqueira, que utiliza técnicas de improvisação livre. O disco inclui peças dos compositores Andres Sas, Camargo Guarnieri, Cyro Pereira e Alberto Ginastera.

A "volta artística" ao Brasil se dá definitivamente em seu terceiro disco solo, Toninho Carrasqueira Toca Pixinguinha e Patápio Silva. Sem esquecer sua formação com os mestres da flauta francesa, opta por gravar nesse disco os mestres da flauta brasileira, grandes referências do choro no Brasil. Patápio Silva é um grande virtuose da flauta no país, com muitas aspirações eruditas. Como compositor, explora também a região híbrida popular-erudito, embora esteja mais ligado à música popular. Pixinguinha, igualmente grande virtuose da flauta, é diretamente ligado à música popular urbana, sem aspirações eruditas. No disco de Toninho Carrasqueira isso está formalmente claro: as composições de Pixinguinha são executadas com acompanhamento do conjunto regional dos chorões, e as de Patápio Silva, com conjunto de câmara com cordas, madeiras e harpa, tocadas com arranjos de Adhemar de Campos Filho e regência de Gil Jardim. Com esse disco, ganha os Prêmios Pesquisa de Música Brasileira, do Jornal Movimento, e o Melhores de 1996 da Rádio Trianon.

Entrando mais a fundo na experiência da improvisação e composição coletiva, participa do disco A Terra e o Espaço Aberto, do pianista e compositor Benjamim Taubkin, que conta ainda com os músicos Lui Coimbra e Marcos Suzano. O reencontro com o repertório erudito tradicional está em W. A. Mozart - The Flute Quartets, primeira gravação brasileira dos quartetos de flauta do compositor austríaco, feita ao lado do Quarteto de Brasília. A estreia de Carrasqueira no Quinteto Villa-Lobos se dá no disco Quinteto em Forma de Choros, gravado em 1997 e distribuído como brinde pela empresa Alcoa, com o título Quinteto Villa-Lobos 35 Anos de Música Brasileira. Esse disco é lançado comercialmente três anos depois pela gravadora Kuarup, com o título Quinteto em Forma de Choro, e traz, além de Villa-Lobos, peças dos compositores Mario Tavares, Ronaldo Miranda, Radamés Gnattali, Edino Krieger e Rafael Batista. Com esse quinteto lança Fronteiras (2000), Quinteto Villa-Lobos Convida (2002), Quinteto Villa-Lobos Toca Ernesto Nazareth (2003), Obra de Câmara para Sopros de Heitor Villa-Lobos (2006), Sopro Novo (2006), Compositores Brasileiros (2007), Villa-Lobos, um Clássico Popular (2009) e Rasgando Seda (2012), sobre a obra de Guinga.

O ecletismo de Toninho Carrasqueira está exposto ainda em diversas gravações como convidado, realiza a primeira gravação de Parcours de l'Entité para flauta, percussão e fita magnética, do compositor Flô Menezes; A Dança Lúgubre e A Última Dança, de Eduardo Seincman; Três Improvisações para Flauta Solo e Sonatina, para o disco Lina Pires de Campos Universo Sonoro, bem como Salve Patápio Silva, de E. Villani-Côrtes, em CD da Orquestra Jazz Sinfônica e todas as peças para flauta do CD Osvaldo Lacerda Música de Câmara.

Nota
1 Técnica com a qual o flautista produz uma oscilação constante no sopro através do diafragma. Também utilizado, de formas diferentes, na voz e em instrumentos de corda.

Espetáculos 1

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