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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Adelino Moreira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.04.2017
28.03.1918 Portugal / Douro Litoral / Porto
07.05.2002 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Adelino Moreira de Castro (Porto, Portugal, 1918 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002). Compositor, cantor e instrumentista. Chega ao Rio de Janeiro com apenas 1 ano de idade. Filho de joalheiro, na adolescência abandona os estudos para trabalhar com o pai. Não só segue o ofício como também herda o interesse paterno pela poesia e pela música. ...

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Biografia

Adelino Moreira de Castro (Porto, Portugal, 1918 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002). Compositor, cantor e instrumentista. Chega ao Rio de Janeiro com apenas 1 ano de idade. Filho de joalheiro, na adolescência abandona os estudos para trabalhar com o pai. Não só segue o ofício como também herda o interesse paterno pela poesia e pela música. Aos 20 anos começa a aprender a tocar bandolim, passando depois para a guitarra portuguesa. O pai é patrocinador do programa Seleções Portuguesas, na Rádio Clube do Brasil, dirigido pelo maestro Carlos Campos, professor de música de Adelino Moreira. Por intermédio dele, passa a se apresentar na rádio como cantor.

Convidado por João de Barro, diretor artístico da gravadora Continental, Adelino Moreira lança seu primeiro disco em 1945.  Três anos depois vai a Portugal, e grava diversas músicas brasileiras. De volta ao Brasil, deixa de cantar e continua trabalhando com o pai e compondo. Em 1952 é apresentado a Nelson Gonçalves, a quem entrega sua composição Última Seresta (parceria com Sebastião Santana) para ser gravada. Logo se torna compositor favorito e eventual parceiro do cantor. Seus primeiros grandes sucessos gravados por Nelson Gonçalves são os sambas-canções Meu Vício É Você, em 1955, e A Volta do Boêmio, em 1956. Esta canção vende 1 milhão de cópias, cifra impensável no então mercado fonográfico brasileiro.

Na década de 1960 compõe mais sucessos para Nelson Gonçalves, como Fica Comigo Esta Noite, e para outros intérpretes, entre eles Ângela Maria, Carlos Galhardo, Núbia Lafayette, Nora Ney, Aracy de Almeida e Orlando Silva. Sua música mais regravada é Negue (composta com Enzo de Almeida Passos em 1960), que, depois de registrada por Carlos Augusto, Nelson Gonçalves e Cauby Peixoto, reencontra o sucesso em memorável interpretação de Maria Bethânia, no LP Álibi, em 1978. A música também é regravada em 1986, numa versão punk do grupo Camisa de Vênus.

Por conta de desentendimentos, se afasta de Nelson Gonçalves, em 1967. Passa a atuar como disc-jóquei na Rádio Mauá e, em 1970, abre uma churrascaria em Campo Grande, Rio de Janeiro, onde promove diversas apresentações musicais. A parceria com Nelson Gonçalves é retomada na década de 1970, quando se torna também empresário do cantor. Adelino Moreira morre de enfarte em 7 de maio de 2002, em sua residência, em Campo Grande.

Análise

Compositor de grandes sucessos, com talento e cuidado constrói uma carreira que lhe permite viver confortavelmente apenas de direitos autorais. O pai quer vê-lo cantando a música típica de Portugal, mas Adelino prefere viver na boemia dos anos 1940 e 1950. Porém, depois de lançar seus primeiros discos de 78 rpm, volta à ourivesaria do pai e logo monta a própria oficina, pois os LPs não representam uma estabilidade e só se interessa pela carreira musical quando conquista a independência financeira.

Ao retornar ao Brasil após uma temporada em Portugal, convencido de que não tem voz suficientemente boa para se destacar numa época em que surgem vários cantores excepcionais, como Orlando Silva, Silvio Caldas ou Aracy de Almeida, decide não mais ser cantor e passa a se dedicar apenas à composição. Vários cantores gravam suas obras, como Ângela Maria e Orlando Silva, mas é Nelson Gonçalves o seu principal intérprete, com mais de 300 canções lançadas. Compõe músicas bem adequadas ao estilo do cantor, normalmente sambas-canções dramáticos, em voga nos anos 1950 e 1960, num gênero posteriormente denominado brega-romântico, e tem em Adelino Moreira um de seus mais fiéis representantes. O bolero Fica Comigo Esta Noite, parceria com Nelson Gonçalves, explora os graves da voz do cantor nas frases iniciais. Negue, parceria com Enzo de Almeida Passos, um de seus melhores sambas-canções, é outra que sempre ganha veemente interpretação, como pedem seus versos:

"Diga que já não me quer
Negue que me pertenceu
Que eu mostro a boca molhada
E ainda marcada
Por um beijo seu".

De fins dos anos 1930 até meados dos 1950, o governo de Getúlio Vargas intervém na cultura e o samba passa a ser portador do nacionalismo e trabalhismo instituídos pelo Estado Novo (1937-1945). A figura do malandro é modificada, passando a ser honesto e trabalhador, e a boemia é combatida. Com a redemocratização, o fim da Era Vargas, e o plano de metas do governo Juscelino Kubitschek (de 1955 a 1960), que visa modernizar o Brasil, Adelino Moreira compõe, então, A Volta do Boêmio (1957), canção de melodia simples mas bem estruturada, nos moldes do velho seresteiro. Com a peculiar sonoridade brasileira da voz de Nelson Gonçalves, a canção trata da romântica vida boêmia, e faz muito sucesso.

Sua forma de fazer música popular de linguagem simples e fácil aceitação é raramente alterada. Nos últimos anos de vida, Adelino Moreira revela sentir-se orgulhoso por nunca ter mudado seu estilo. As diversas gravações de suas músicas por cantores de diferentes épocas e estilos atestam o prestígio de sua obra, como Negue, que tem interpretação de Nelson Gonçalves, Maria Bethânia, Pery Ribeiro, Ney Matogrosso e do grupo de rock Camisa de Vênus.

Adelino é considerado por boa parte da crítica um autor brega, apesar de em letras como Escultura (interpretado por Nelson Gonçalves), com citação de figuras e personagens femininas consagradas na pintura, literatura e história, demonstrar certa erudição. Nessa composição tenta criar uma mulher idealizada com base em características de Dulcineia, Firineia, Gioconda, madame Du Barry e Pompadour:

"Dei-lhe a voz de Dulcineia
A malícia de Firineia
E a pureza de Maria
Em Gioconda fui buscar
O sorriso e o olhar
Em Du Barry o glamour
E para maior beleza
Dei-lhe o porte de nobreza
De madame Pompadour".

Apesar de reconhecido como autor de diversas composições que tocam o imaginário brasileiro e ainda hoje ecoam na memória de muitos, no fim dos anos 1970, Adelino Moreira afasta-se gradativamente da música, com que se torna economicamente bem-sucedido com recebimento de direitos autorais. Seu prestígio o leva à direção da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (Sbacem).

Obras 28

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Fontes de pesquisa 5

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  • AZEVEDO, Miguel Angelo de. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
  • BRAGA, Antonio. A história vitoriosa de Adelino Moreira. In: Jornal das Gravadoras, edição 40, set. 2000.
  • GONÇALVES, Maria das Graças da Silva Ramos. Entrevista concedida pela filha do cantor Nelson Gonçalves ao jornalista Leandro Souto Maior, de Lisboa, por telefone. Rio de Janeiro, 22 set. 2009.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
  • SOUZA, Tárik de. Tem Mais Samba: das raízes à eletrônica. São Paulo: Editora 34, 2003. (Coleção Todos os Cantos).

Como citar

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