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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Rildo Hora

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 28.06.2024
20.04.1939 Brasil / Pernambuco / Caruaru
Rildo Alexandre Barreto da Hora (Caruaru PE 1939). Gaitista, produtor, arranjador, violonista, cantor e compositor. Filho de Misael Sérgio Pereira da Hora e de Cenira Barreto Hora, que lhe dá as primeiras aulas de piano e teoria musical. Aos 6 anos, começa a tocar gaita de boca.1 Nessa época, sem professor, ele tem sua educação musical tirando d...

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Biografia

Rildo Alexandre Barreto da Hora (Caruaru PE 1939). Gaitista, produtor, arranjador, violonista, cantor e compositor. Filho de Misael Sérgio Pereira da Hora e de Cenira Barreto Hora, que lhe dá as primeiras aulas de piano e teoria musical. Aos 6 anos, começa a tocar gaita de boca.1 Nessa época, sem professor, ele tem sua educação musical tirando de ouvido temas que são tocados no rádio. Muda-se com a família para Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, onde tem contato com os sambistas Candeia, Chico Santana e Manacéa da Portela. Na década de 1950, ganha um concurso organizado pela fabricante de gaitas Hering, na Rádio Mauá, e se apresenta em programas de calouros dessa rádio, da Rádio Mayrink Veiga e da Rádio Nacional. Nesta, conhece o maestro e arranjador César Guerra-Peixe, com quem tem aulas de harmonia, contraponto, composição e orquestração. Anos depois, em 1987, Guerra-Peixe compõe Quatro Coisas, para harmônica e piano, dedicada a Rildo Hora.

Em 1962, faz sua estreia em gravação, em disco de 78 rpm, com os temas Anjo (com Alcino Diniz) e Nem uma Luz Brilhou, composta por Gilvan Chaves. No mesmo ano, lança o LP Suave É a Noite e, no ano seguinte, Em Ritmo de Dança, ambos pela gravadora Copacabana. Wilson Simonal grava a canção Menino Triste, de Hora e Gracindo Jr., em 1963, em seu disco Tem Algo Mais. Durante a primeira metade da década de 1960, apresenta-se com frequência no Cangaceiro, boate carioca que ganha destaque na contracapa daquele que é considerado por Hora como seu "primeiro LP pra valer", o Samba Made in Brazil - Rildo Hora e o Clube dos 7. No álbum de 1964, destaque para as composições do gaitista, como Esse Nosso Jeito (com Gracindo Jr.), Um Brasileiro nos States (com Marcos André) e Um Sonho para Dois (com Clovis Mello), além da interpretação de clássicos da bossa nova, como Batida Diferente, de Durval Ferreira e do também gaitista Maurício Einhorn, e Ilusão à Toa, de Johnny Alf.

Ainda nos anos 1960, tem sua primeira composição de sucesso na voz de outros intérpretes, Canção que Nasceu do Amor, registrada na voz de Cauby Peixoto, em 1963, e, no ano seguinte, por Elizeth Cardoso, cantora que é acompanhada por Rildo entre 1964 e 1967. Posteriormente, essa canção é gravada por Altemar Dutra em 1969 e por Aurea Martins e Paulo Mendes Campos em 1972. No fim da década, começa a trabalhar na gravadora RCA Victor, produzindo discos de Orlando Silva, Carlos Galhardo, Vicente Celestino e Luiz Gonzaga.

Cyro Monteiro grava a canção Luciana e o Mar, em 1970. No ano seguinte, a carreira de produtor ganha mais destaque devido ao sucesso com o álbum Memória de um Sargento de Milícias, de Martinho da Vila. Além da produção, Rildo tem em Martinho um de seus parceiros mais constantes. Ainda em 1973, produz o segundo disco da carreira de João Bosco, com quem trabalha até 1979, no LP Linha de Passe.

A partir dos anos 1980, Rildo Hora produz álbuns de sucesso de nomes como Beth Carvalho e Fundo de Quintal. Na década seguinte, inicia uma parceria com Zeca Pagodinho, que resulta em quatro Grammys latinos, em 2001, 2002, 2003 e 2006.

Nota
1.No Nordeste a gaita de boca era conhecida também como realejo.

 

Comentário Crítico

Entre suas diversas facetas artísticas, como a de compositor, cantor e violonista, Rildo Hora obtém maior destaque atuando como gaitista, arranjador e produtor. Nesta função, com mais de 50 anos de carreira, conquista mais de 150 discos de ouro e de platina, a maioria guardada e enquadrada por ele em sua cobertura no Corte do Cantagalo, na zona sul do Rio de Janeiro, onde mora com sua esposa.

Mesmo sem ser extremamente conhecido pelo grande público, entre críticos, especialistas e, principalmente, no meio musical, é considerado um dos maiores gaitistas do Brasil. Em termos de arranjo e produção musical, Rildo é tido quase como uma unanimidade quando se trata de samba. Embora seu nome seja basicamente vinculado ao gênero mais popular do país, o pernambucano atua como produtor de intérpretes e compositores renomados nos anos de atuação na Rádio Nacional e na RCA Victor. Em seus primeiros anos exercendo essa função, enquanto os produtores em início de carreira se interessam pelo estilo do momento, a jovem guarda, cabe a Hora produzir nomes que atingem grande sucesso no passado, mas que andavam esquecidos. Na lista, representantes do bel-canto como Orlando Silva (trabalha com "O Cantor das Multidões" no disco Orlando Silva - O Eterno Seresteiro, de 1969), Vicente Celestino (em Obrigado, Meu Brasil, de 1968) e Carlos Galhardo (em Se Ela Sente Saudade, de 1968).

Ainda no terreno dos trabalhos discográficos que contêm sambas, mas não apenas esse gênero, Rildo consegue destaque na produção dos álbuns de João Bosco, nos anos 1970. Ele produz o segundo álbum da carreira do compositor, cantor e violonista (João Bosco, de 1973), assinando a produção de LPs dele até o fim da década, com sucessos como Bala com Bala, O Mestre-Sala dos Mares, Dois Pra Lá, Dois Pra Cá, Kid Cavaquinho, Falso Brilhante, Linha de Passe, Incompatibilidade de Gênios e O Bêbado e a Equilibrista, todos compostos por Bosco em parceria com Aldir Blanc. Nesses trabalhos, reconhece-se em Rildo a sensibilidade em dar destaque ao modo sincopado e peculiar de cantar e de tocar violão de João Bosco, levando-se em conta o desafio de gravar tantos temas que também fazem sucesso na voz de Elis Regina.

Com reconhecimento no meio musical, o nome de Rildo Hora é principalmente relacionado com o samba. Artistas como Martinho da Vila, Beth Carvalho, Nelson Sargento, Zeca Pagodinho e integrantes de diferentes formações do Grupo Fundo de Quintal, apontam que a principal virtude de Rildo ao lidar com o samba é respeitar a sua negritude. Além de enriquecer as composições do gênero com um instrumental sofisticado - muitas vezes com cordas, naipes de sopro e coro, como nos dois volumes dos discos acústicos de Pagodinho, gravados para a MTV -, Rildo ressalta a força do "batuque", da percussão e de todos os componentes derivados da matriz africana.

Rildo Hora, produtor de cerca de 30 discos do Fundo de Quintal (desde o quinto álbum deles, O Mapa da Mina), é responsável por uma transformação no samba a partir dos anos 1980. O produtor soube salientar a força da expressão rítmica dos instrumentos tocados em diferentes formações por Neoci, Sereno, Ubirany, Bira Presidente e Ademir Batera, fazendo com que o samba escrevesse um novo capítulo na história da música nacional, bastante diferente do jeito percussivo de se interpretar o estilo, em comparação com o que se faz nas décadas anteriores, por exemplo, nos álbuns de Cartola, Nelson Cavaquinho, Cyro Monteiro.

Tal caminho é pavimentado por Rildo desde os anos 1970, a partir do sucesso de Memórias de um Sargento de Milícias, com Martinho da Vila, passando pelos anos 1980, 1990 e 2000, ao lado de Zeca Pagodinho e Beth Carvalhoos dois com quem ele trabalha até hoje, chegando às gerações seguintes de sambistas, como Dudu Nobre. Com todos eles, o pernambucano também participa nos discos tocando sua gaita. Atualmente, Rildo também tem gravado e feito shows com os filhos Patrícia Hora e Misael da Hora.

Muitos também atribuem tamanho sucesso na produção e nos arranjos à base que ele acumula como gaitista, sendo um virtuose no instrumento desde a infância, quando tira frevos e choros ainda de ouvido, e, como violonista, aprendendo noções de harmonia. Outra escola importante é ter acompanhado na noite e em shows nomes como Elizeth Cardoso, Alaíde Costa, Tito Madi, Dóris Monteiro e Sylvia Telles. Entre seus discos autorais, destaque para os raros Samba Made in Brazil - Rildo Hora e o Clube dos 7, de 1965, A Hora e a Vez de Rildo Hora, de 1971 (com arranjos dele, de Guerra Peixe e de Chico de Moraes), Rildo Hora e Sérgio Cabral, de 1980, com composições da dupla, Sanfona & Realejo - Sivuca & Rildo Hora, de 1987, e O Tocador de Realejo, do mesmo ano.

Outro fator importante nesses trabalhos da carreira de Rildo da Hora é o fato de ele também ser compositor, o que lhe permite dar opiniões construtivas sobre os temas dos artistas com os quais trabalha. Na bagagem como autor, ele tem como parceiros mais constantes Martinho da Vila, Gracindo Jr. e Sérgio Cabral, com quem compõe dois sucessos: Menino da Mangueira, lançado por Ataulfo Junior e regravado por Jair Rodrigues e Sandra de Sá, e Visgo de Jaca, por Martinho da Vila, e, recentemente, integra o repertório da cantora Céu. Tem parceria também com Humberto Teixeira (Clementina, 1974; Eterno Cantador, 1982), Humberto Reis (Adeus Nossa Canção de Amor, 1964), Dona Ivone Lara (Coração Apaixonado, 1985), Luiz Carlos da Vila (Luzes do Prazer, 1984) e Roque Ferreira (Outro Amor Não Quero Não, 1999).

Obras 23

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Espetáculos 1

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Fontes de pesquisa 5

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  • Entrevistas com Rildo Hora, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Beth Carvalho, Nelson Sargento, João Bosco, Dominguinhos, Bira Presidente (Fundo de Quintal), em outubro de 2009, para o Caderno2, do jornal O Estado de S. Paulo (Feitas por Lucas Nobile).
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • MARTINS, Cláudio. “Cartola - O mundo é um moinho” estreia no Rio de Janeiro. A Broadway É Aqui!, Rio de Janeiro, 16 mar. 2017. Disponível em: https://abroadwayeaqui.com.br/2017/03/16/cartola-o-mundo-e-um-moinho-estreia-no-rio-de-janeiro/. Acesso em: 23 out. 2023.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
  • VIANA, Luiz Fernando. Zeca Pagodinho - A Vida Que Se Deixa Levar - Coleção Perfis do Rio. Rio de Janeiro: Rio Arte/ Relume-Dumará, 2003.

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