Thomas Ender (Viena, Áustria, 1793 – Idem, 1875). Pintor, aquarelista, gravador, desenhista. Especialista em retratar paisagens, é artista a serviço do Império Austríaco (1804-1867), em nome do qual realiza várias viagens e produz centenas de obras de arte.

Juntamente com seu irmão gêmeo, Johann Ender (1793-1854), matricula-se na Academia de Belas Artes de Viena, em 1806. Enquanto Johann demonstra interesse pela pintura histórica, Thomas, aos 13 anos, envereda pela pintura de paisagem. Em 1810, candidata-se ao Prêmio Gundel da Academia e vence na categoria desenho de paisagem. 

Por volta de 1812, começa a desenvolver um estilo próprio na aquarela: usa grande variação de nuances de cores, desenha com mais detalhes a área central de seu objeto e sugere um primeiro plano em pinceladas largas. Mais do que qualquer outro viajante do período, domina a pintura de paisagem. Em suas obras, notam-se a observação cuidadosa da vegetação, o cuidado acerca das perspectivas e planos e a fixação do espaço urbano sob diferentes pontos de observação.

Em 1815, recebe da Academia uma bolsa de estudo que lhe possibilita realizar longas viagens. Percorre a região montanhosa de Salzburgo, na Áustria, e pinta diversas aquarelas. Ganha, entre outros, o Grande Prêmio de Pintura, em 1817, na categoria paisagem. O quadro premiado é adquirido pelo príncipe Klemens von Metternich (1773-1859), que se torna seu principal patrocinador. 

Em 1817, por indicação do príncipe, viaja ao Brasil como integrante de uma expedição de história natural que acompanha a comitiva austríaca, por ocasião do casamento da arquiduquesa austríaca Maria Leopoldina (1797-1826) com dom Pedro de Alcântara (1798-1834), herdeiro do trono de Portugal e do Brasil. A expedição é liderada pelos pesquisadores em ciências naturais bávaros Johann Baptist von Spix (1781-1826) e Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868), entre outros. O objetivo é reunir informações sobre o Brasil e constituir um museu brasileiro em Viena. 

Durante sua permanência no Brasil, faz mais de 700 desenhos e aquarelas. A bordo de um navio, realiza um panorama circular da Baía de Guanabara e uma série de vistas em separado. No Rio de Janeiro, registra igrejas, edifícios públicos, praças e seus arredores. Retrata a sociedade brasileira da época e a escravidão, que enfoca de modo crítico, com especial interesse pelas diversas nacionalidades dos escravos. 

Em 1818, adoece gravemente e retorna à Áustria, levando os desenhos e aquarelas, que, em grande parte, são armazenados no Gabinete de Gravuras da Academia de Belas Artes de Viena. O artista não organiza nenhuma publicação com esse material. No entanto, algumas de suas criações aparecem em livros de cientistas naturalistas da época. Um ano após retornar à Áustria, acompanha o imperador Francisco I (1768-1835) em uma viagem à Itália. Recebe, em seguida, uma bolsa de estudos em Roma. Em 1824, é nomeado membro da Academia de Belas Artes de Viena e permanece no cargo até 1850. A partir de 1829, paralelamente às atribuições da Academia, torna-se pintor oficial de câmara a serviço do arquiduque Johann (1782-1859). Nessa atribuição, pinta paisagens dos Alpes austríacos e das viagens do arquiduque.

Com estilo próprio e técnica apurada, Thomas Ender passa boa parte da carreira artística pintando paisagens em viagens patrocinadas pela coroa austríaca, uma delas pelo Brasil, onde retrata a sociedade local e demonstra um olhar crítico sobre a escravidão.