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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Haydil Linhares

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.09.2024
1935 Brasil / Bahia / Itapicuru
03.10.2010 Brasil / Bahia / Salvador
Haydil Linhares (Ribeira do Pombal BA 1935 - Salvador BA 2010). Atriz, dramaturga e arte-educadora. Criada em Itapicuru, cidade do interior baiano, muda-se para Salvador, ainda adolescente, para cursar o ensino médio. Inicia estudos de interpretação na Escola de Teatro da então Universidade da Bahia (ETUB), no fim dos anos 1950, quando esse espa...

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Biografia

Haydil Linhares (Ribeira do Pombal BA 1935 - Salvador BA 2010). Atriz, dramaturga e arte-educadora. Criada em Itapicuru, cidade do interior baiano, muda-se para Salvador, ainda adolescente, para cursar o ensino médio. Inicia estudos de interpretação na Escola de Teatro da então Universidade da Bahia (ETUB), no fim dos anos 1950, quando esse espaço representa o centro do movimento cultural em Salvador.

Depois dos primeiros trabalhos como aluna de interpretação da ETUB - Major Bárbara (1962), Morte e Vida Severina (1963) e A Falecida (1964), entre outros - destaca-se como atriz em Stopem, Stopem (1968), sob a direção de João Augusto (1928 - 1979).  

Nos quarenta anos de profissão, trabalha com vários encenadores, dentre os quais Deolindo Checcucci - O Futuro Está nos Ovos (1970), O Bom Cabrito Berra (1977), O Terceiro Sinal (2007) - e Manoel Lopes Pontes, com quem, além do sucesso do musical Tabaris (1975, 1976) realiza diversos espetáculos infanto-juvenis.

Em 1971, publica um romance intitulado A Enxurrada; parte de sua obra é inédita, composta de contos, poemas e peças para crianças. Estreia como dramaturga em 1972, com A Função do Casamento, peça em um ato que integra o espetáculo Cordel II. Seu texto seguinte, O Pique dos Índios ou A Espingarda de Caramuru, é dirigido por Deolindo Checcucci, em 1973, no Teatro Vila Velha. O mesmo diretor encena A Sombra Assombra, em março de 1987, apresentada na Sala 5 da Escola de Teatro da UFBA.

Em 2000, após 10 anos de afastamento, volta ao palco trazendo interpretação marcante para a personagem muda de Dona Aninha, mãe do protagonista Olegário, no espetáculo A Mulher Sem Pecado, de Nelson Rodrigues (1912 - 1980), sob a direção de Ewald Hackler, na Sala do Coro do TCA.

Ainda como atriz, realiza relevantes incursões no cinema, destacando-se criações como o papel de Norminha, segundo personagem feminino no filme Dona Flor e Seus Dois Maridos (Bruno Barreto, 1976) e a colérica Dona Queca de O Jardim das Folhas Sagradas (Pola Ribeiro, 2010). Na televisão, entre outros trabalhos, participa da novela Renascer, de Benedito Rui Barbosa, exibida pela TV Globo em 1993.

Por mais de quinze anos, participa como arte-educadora do projeto Integração pela Arte, do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), desenvolvido junto às comunidades carentes do Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador. Por esse trabalho, recebe em 1985 o Prêmio Especial do Troféu Martim Gonçalves. É homenageada novamente, por seu conjunto de obra, em março de 2001, na cerimônia de entrega do Prêmio Copene de Teatro.

Análise

Haydil Linhares revela-se como atriz em Stopem, Stopem (1968) espetáculo representativo de uma série de montagens realizadas pelo Teatro Vila Velha, na década de 1960, sob a direção de João Augusto.  Seu talento como intérprete marca-se pela capacidade de improvisação, sobretudo ao dar vida a tipos inspirados na literatura de cordel, que permitem ampla interação com a plateia, em espetáculos como Cordel II e Quincas Berro D'água, ambos de 1972. Por mais de quatro décadas, encarna dezenas de personagens cuja caracterização põe em relevo recursos cômicos extraídos da relação com a cultura popular.

Estreia como dramaturga em 1972, com A Função do Casamento, peça em um ato que integra o espetáculo Cordel II. Com esse texto, a autora inaugura uma escrita dramática cuja força e colorido vêm da linguagem característica do contexto cultural nordestino, aliada à capacidade de traçar, através da ação, um quadro vivo de costumes. A palavra "função" do título é usada na acepção popular de "festa". O texto apresenta, com desenho expressivo, um quadro social típico em que injustiça e abuso de poder são males que oprimem o homem do campo tanto quanto a seca e a escassez de recursos; significativamente, a peça abre-se com um cortejo de casamento e fecha-se com um cortejo fúnebre, caracterizando uma situação que alterna momentos de densidade dramática com elementos cômicos.

Seu texto seguinte, O Pique dos Índios ou A Espingarda de Caramuru, encenado sob a direção de Deolindo Checcucci, em 1973, no Teatro Vila Velha, é uma sátira de costumes pontuada por situações que beiram o absurdo. Afastando-se do regionalismo do primeiro texto, a autora, agora em contexto urbano, localiza a ação em um pensionato habitado por tipos cuja excentricidade se anuncia desde seus nomes: Maria Caetana Atrás do Trio Elétrico, Henriqueta Severo Penteado, Ambrosina Embevecida do Arcanjo, entre outros. A fusão de crítica social e visão humorística expõe comportamentos representativos das utopias dos anos 1970, como o hippie e o estudante marxista, além de fazer alusão a personalidades da vida soteropolitana.

Também sob a direção de Deolindo Checcucci, estreia em março de 1987, na Sala 5 da Escola de Teatro da UFBA, a peça A Sombra Assombra. Nesse texto, Haydil Linhares mostra a versatilidade de sua escrita para o palco, ao deixar a ótica da comicidade e produzir um inquietante monólogo dramático. A autora toma como ponto de partida o momento de desabafo de uma mulher no consultório do analista para revelar, num mergulho subjetivo, a cena típica da angústia moderna. A linguagem imita a técnica analítica da livre associação, por meio da qual a personagem "vomita" um fluxo de palavras que, entre a dor e o sarcasmo, libera sua perplexidade diante de si mesma e de seu tempo.

Uma publicação do Teatro Vila Velha, em 2002, inaugura a coleção Cadernos do Vila com as três peças citadas, acompanhadas de Ida e Volta - seu texto de feição mais lírica, expondo conflitos do homem do campo perdido nas metrópoles. Escreve ainda, para o teatro, em parceria com Cleise Mendes, a comédia satírica As Feministas de Muzenza, que estreia em 1990 e realiza várias temporadas de sucesso em Salvador.

O mesmo empenho em explorar as possibilidades do palco orienta seu trabalho como arte-educadora, usando o teatro e a dramaturgia para lidar com jovens em situação de risco social.  Por mais de quinze anos, através do projeto Integração pela Arte, do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), desenvolvido junto às comunidades carentes do Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador, incentiva crianças e adolescentes a criarem seus próprios textos para teatro, como forma de dar expressão aos problemas enfrentados em seu difícil cotidiano.

Espetáculos 1

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Fontes de pesquisa 5

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  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Márcio Freitas]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos.
  • FRANCO, Aninha. O teatro na Bahia através da imprensa: século XX. Salvador: FCJA: Cofic, FCEBA, 1994.
  • LEÃO, Raimundo Matos de. Transas na cena em transe: teatro e contracultura na Bahia. Salvador: EDUFBA, 2009.
  • LINHARES, Haydil. A Enxurrada. Salvador: Editora Mensageiro da Fé, 1971. 62p.
  • LINHARES, Haydil. Haydil Linhares: 4 peças. Salvador: P555 Edições, Teatro Vila Velha, 2002.

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