Hugo Travers
Texto
Hugo Travers (Buenos Aires, Argentina, 1932 – São Paulo, Brasil, 2019). Bailarino e maître de ballet de diversas companhias internacionais, como o Ballet Nacional de Cuba, Ballet de Stuttgart, Ballet Contemporáneo de la Ciudad de Buenos Aires, Grupo Corpo, Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e Balé da Cidade de São Paulo.
A carreira de Hugo Travers é marcada pela participação em grupos de dança, atuando em funções artísticas, de ensino e administrativas. Essa experiência, resultado da trajetória única do dançarino, torna-o valorizado enquanto artista e intelectual.
Desde os 15 anos, decide se dedicar à dança, que conhece por meio do cinema, mas tentativas de prestar audições para escolas de dança são impedidas pela família. Começa a dançar tardiamente e às escondidas, antes de ser chamado para o serviço militar.
Em 1952, ingressa no Ballet Folclórico Nacional Argentino de Santiago Ayala El Chúcaro, do qual se torna primeiro bailarino. Em 1959, durante a turnê do Ballet Nacional de Cuba por Buenos Aires, é convidado pela bailarina e diretora cubana Alicia Alonso (1920-2019) para integrar sua companhia, com a qual faz turnês internacionais por dois anos, sobretudo por países comunistas.
Foge da companhia e parte para o Leste Europeu até chegar à Alemanha Ocidental. É contratado pelo Stuttgart Ballet, onde atuam Márcia Haydée (1937) e Richard Cragun (1944-2012). Cansado da estrutura clássica e do papel masculino reduzido ao carregamento de bailarinas, deixa o grupo, funda o trio Los Gromas e parte em turnê pelo Oriente Médio e Ásia Central.
Durante quatro anos, trabalha ao lado do Pars National Ballet na Televisão Nacional Iraniana. Em 1971, retorna à Argentina e reestabelece o grupo Los Gromas. Em seguida, ingressa no Ballet Contemporáneo de la Ciudad de Buenos Aires, encabeçado pelo coreógrafo Oscar Araiz (1940), reconhecido como um dos inovadores da dança cênica da América do Sul.
Ao passar por Ouro Preto em turnê com a companhia argentina, é convidado pelos irmãos Pederneiras para montar uma escola e um grupo de dança em Belo Horizonte. Com eles, funda o Grupo Corpo. Dança, ensaia e ensina com a companhia até 1980. No ano seguinte, aceita o convite do coreógrafo e diretor Antonio Carlos Cardoso (1939) para atuar como bailarino, professor e assistente de reestruturação do Corpo de Baile Municipal (hoje Balé da Cidade de São Paulo), que, naquele momento, passa por profundas mudanças. A história e a experiência de Travers com dança clássica, popular e contemporânea é parte do alimento necessário aos novos ares ali cultivados.
Travers trabalha com o Balé da Cidade intermitentemente, de 1981 até 2012, em diversas funções. São notáveis em sua carreira a experiência como intérprete do Grupo Experimental em 1982, durante a gestão de Klauss Vianna (1928-1992), a assistência de direção entre 1989 e 1992, sob direção de Rui Fontana Lopes, e a retomada da função de maître em 2001, sob comando de Mônica Mion (1954). Finaliza sua carreira cuidando do acervo da instituição, de 2008 a 2012.
Nos intervalos de seu trabalho em São Paulo, passa pelo Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (1985), reestrutura a companhia mineira de dança do Palácio das Artes (1988) e atua como coordenador e supervisor cenotécnico do Theatro Municipal de São Paulo (2000), além de trabalhar ao longo da carreira como professor e jurado em eventos.
Sua experiência no ensino da dança é reconhecida pelo respeito e delicadeza com que trata alunos e bailarinos sob sua tutela, evitando correções embaraçosas e investindo na serenidade pela qual é elogiado.
Como intérprete, suas marcas são disponibilidade e presença cênica, entrega e paixão pela arte. Por causa de sua formação mista, aborda as diversas vertentes da dança. A experiência clássica – intensa, ainda que iniciada tardiamente – e a proximidade com as danças tradicionais definem o perfil que se alimenta da experimentação contemporânea e da multiplicidade para criar e se expressar ao longo de toda a vida.
Em uma carreira múltipla de espaços, origens e referências, Travers apresenta um perfil único, aliado a suas características como indivíduo e artista. Com sucesso na organização e reorganização de companhias e com participações em momentos notáveis de grupos de grande reconhecimento, Travers ajuda a delinear momentos fundamentais da história da dança.
Espetáculos 2
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5/10/1994 - 12/10/1994
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 7
- CARVALHO, Eduardo. A beleza clássica do ballet cubano. Carta Maior, 6 maio 2006. Disponível em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/A-beleza-classica-do-ballet-cubano/12/10063. Acesso em: 16 set. 2019
- DIAS, Lineu (Coord.). Bolero – Balé da Cidade de São Paulo. Coleção Memória Ativa. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, Centro Cultural São Paulo. Divisão de Pesquisas, 1983. Disponível em: http://www.centrocultural.sp.gov.br/livros/pdfs/BOLERO.pdf. Acesso em: 16 set. 2019
- PONZIO, Ana Francisca. Ana Botafogo estrela "Don Quixote". Folha de S. Paulo, 05 out. 1994. Ilustrada. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/10/05/ilustrada/12.html >. Acesso em: 06 jan. 2019.
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- QUEIRÓS, Amanda. Forrest Gump da Dança. Figuras da Dança 2013 – Hugo Travers. São Paulo Companhia de Dança. Governo do Estado de São Paulo, 2013.
- ROSSI, Patrícia Dias. Espetáculos do Balé da Cidade de São Paulo (1968-2007): Mapeando Quarenta Anos de Arquivo. 397 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
- TRAVERS, Hugo. Entrevista concedida a Inês Bogéa, diretora da São Paulo Companhia de Dança, 4 fev. 2013. Consultada no Acervo de Memória da São Paulo Companhia de Dança, Governo do Estado de São Paulo.
Como citar
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HUGO Travers.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa108988/hugo-travers. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7