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Enciclopédia Itaú Cultural
Dança

Christine Greiner

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.11.2024
16.01.1961 Brasil / São Paulo / São Paulo
Christine Greiner (São Paulo, São Paulo, 1961). Professora universitária, pesquisadora e jornalista. Inicia-se em dança moderna com Renée Gumiel (1913-2006), em 1965, com quatro anos, com a qual permanece até 1981. Em seguida, faz treinamento prático de teatro nô, de 1983 a 1987, com Noburo Yoshida. Nesse ano, gradua-se em jornalismo pela Faculd...

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Christine Greiner (São Paulo, São Paulo, 1961). Professora universitária, pesquisadora e jornalista. Inicia-se em dança moderna com Renée Gumiel (1913-2006), em 1965, com quatro anos, com a qual permanece até 1981. Em seguida, faz treinamento prático de teatro nô, de 1983 a 1987, com Noburo Yoshida. Nesse ano, gradua-se em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (São Paulo). Como jornalista, trabalha na Editora Abril: primeiro, na revista Capricho, em 1983, transfere-se dois anos depois para a revista Veja e, em seguida, retorna à Capricho (1986-1987), período em que permanece contratada entre as editorias de comportamento e saúde.

Simultaneamente, nos anos 1980, realiza trabalho como free lancer para as revistas Quatro Rodas, Desfile e, por oito anos, trabalha na extinta revista Dançar, na qual é editora. Em 1991, escreve críticas de dança para O Estado de S. Paulo. Obtém o mestrado em 1991, com a dissertação O Diálogo Estético entre a Dança Tradicional Japonesa e a Dança Moderna Ocidental, o Exemplo de At the Hawk's Well, no Programa de Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Doutora-se, em 1997, com a dissertação Dança Butô, Pensamento em Evolução, que se transforma em livro no ano seguinte. Cria, em 1999, com Haroldo de Campos, o Centro de Estudos Orientais da PUC/SP. Entre 1997 e 1999, atua como colaboradora do Caderno 2 de O Estado S. Paulo.

Organiza a publicação Etnocenologia, Textos Selecionados (1998), com Armindo Bião;  Leituras do Corpo (2003), Leituras do Sexo (2006) e Leituras da Morte (2007), com Cláudia Amorim; Tokyogaqui, um Japão Imaginado (2008), com Ricardo Fernandes; Imagens do Japão, Pesquisas, Intervenções Poéticas, Provocações (2011), com M. de Souza; e Arte Agora, Pensamentos Enraizados na Experiência, com Sofia Neuparth. Publica O Teatro Nô e o Ocidente (2000); O Corpo, Pistas para Estudos Indisciplinares (2005) e O Corpo em Crise, Novas Pistas e o Curto-Circuito das Representações (2010). Pós-doutora-se pelas seguintes universidades: Universidade de Tóquio (2003)  International Research Center for Japanese Studies (2006) e New York University (2007). Desde 1999, é assistente-doutora da PUC/SP como professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica e da graduação Comunicação e Artes do Corpo. É membro do conselho editorial do periódico espanhol Cairon, Revista de Estudios de Danza (desde 2007), do argentino Telondefondo, Revista de Teoria y Critica Teatral (desde 2008) e Sala Preta (Universidade de São Paulo, desde 2001). Em 2007, publica o artigo Researching Dance in the Wild no prestigiado periódico Theatre Drama Review (TDR, Cambridge).

Como curadora, organiza, nos anos 2000, exposições e eventos como A Revolta da Carne (2009) e Tokyogaqui (2008), ambos com Ricardo Fernandes e Hideki Matsuda; e O Butô de Yukio Waguri (2004), com o próprio Waguri. Em 2010, realiza a curadoria do Panorama Sesi de Dança, que lhe vale o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).

Análise

A professora e pesquisadora Christine Greiner é responsável pela abertura e incremento teórico, no Brasil, sobre os estudos da dança japonesa, em especial a dança butô,  pelo estudos interdisciplinares das relações entre corpo, comunicação e dança, e pela divulgação de um novo viés epistemológico do entendimento do pensamento e das ações do corpo que dança, como o conceito de corpomídia, proposto com Helena Katz (1950).

Butô: Pensamento em Evolução desmistifica estereótipos sobre essa dança no Brasil nos anos 1990. O butô nasce, em 1959, como um movimento artístico chamado ankoku butô cujo baluarte é Hijikata Tatsumi. Como assinala Greiner, no artigo O Colapso do Corpo a partir do Ankoku Butô de Hijikata Tatsumi: "Mais do que um gênero artístico, a experiência butô foi um operador cognitivo que desestabilizou pressupostos acerca da consciência humana, da relação entre a vida e a morte e da posição do homem frente à natureza, à cultura e aos objetos inanimados".1   A autora amplia a discussão ao apontar que as questões trabalhadas por Hijikata dizem respeito ao colapso do corpo, à exploração da consciência (e do inconsciente cognitivo), ao enfrentamento da morte e à investigação de campos de percepção ainda não suficientemente pesquisados. "Por isso o corpo no butô é sempre processo, inacabado, perecível, indistinto do lugar onde está e eternamente em crise de identidade".2 Mas, ao contrário dos desdobramentos, no caso brasileiro, em que se passa a associar o butô com uma certa precariedade na modelagem de um determinado trabalho artístico, afirma que :" [...] Hijikata abominava a imprecisão, a falta de rigor. Repetiu inúmeras vezes em vida a preferência pelo balé clássico (nutria grande admiração por Vaslav Nijinsky), ao invés de happenings, que considerava sem sentido".3 No entanto, como ela esclarece, há que se constituir um tipo de treinamento sistematizado, mas sem engessamento. De forma geral, os estudos de Greiner se encarregam de dissipar os mitos em torno butô fortemente correntes entre os que desejam filiação a esse sistema.

Pode-se perceber que, ao contrário do que a visão estereotipada do butô tem suscitado, sobretudo fora do Japão, o corpo do butô nunca foi necessariamente suave, lento, transcendente. A tensão era a característica mais marcante de Hijikata e a estratégia mais evidente para investigar o colapso do corpo. Esta qualidade tensionada, de fato um estado primário do butô, evidenciava a preferência do artista para eliminar todos os movimentos ornamentais e trabalhar com contrastes fortes entre formas simples. Os contrastes engendravam a ação.4

Por sua vez, os capítulos de O Corpo: Pistas para Estudos Indisciplinares (2005) são o produto da reflexão de aulas, palestras, viagens de estudos aos Estados Unidos e ao Japão, e, sobretudo, do curto período em que permanece em Paris (entre dezembro de 2003 e janeiro de 2004), quando ministra seminários avançados de Teoria do Movimento no Departamento de Dança da Universidade de Paris 8. Neles, como pano de fundo, o entendimento da necessidade de erguimento de pontes entres diferentes campos de conhecimento - as ciências cognitivas e as teorias da comunicação e da arte - à análise dos processos que interseccionam as principais questões na investigação da tríade corpo, comunicação e dança. Esta é, sobretudo, a principal frente de estudos que desenvolve, desde o final dos anos 1990, tendo em vista uma explicação que dê conta dos fenômenos relativos ao corpo que dança.

Ao se concentrar nos operadores responsáveis pelo gatilho de quaisquer estados corporais, põe à luz os tópicos da metáfora do pensamento e o fluxo de imagens, as ações comunicativas e as dramaturgias do corpo. Isso lhe permite erguer uma discussão inaugural em território brasileiro do corpo artista. Como esclarece: "O que estou buscando [...] é como de alguma forma arte e corpo artista colaboram para os estudos contemporâneos do corpo e a formulação de novas epistemologias".5

Com Helena Katz, apresenta a Teoria Corpomídia (2001) na qual o movimento é entendido como matriz da comunicação. A mídia da teoria diz respeito à compreensão do como a informação se instala no corpo e se torna corpo. O entendimento é que a informação que chega deve negociar com as que lá já estão. Por isso,

O corpo é o resultado desses cruzamentos, e não um lugar onde as informações são apenas abrigadas. É com esta noção de mídia de si mesmo que o corpomídia lida [...] A mídia à qual o corpomídia se refere diz respeito ao processo evolutivo de selecionar informações que vão constituindo o corpo. A informação se transmite em processo de contaminação.6

Uma importante consequência da teoria é a de se pensar a dança como cognição e como conhecimento, o corpo como mídia de si mesmo.7

 Em O Corpo em Crise (2010), a autora estende o âmbito da discussão, tratada na publicação anterior, da comunicação, artes e ciências cognitivas, para o da filosofia política. A crise se refere aos limites do corpo como os dos canibalismos simbólicos e dos processos artísticos resistentes ao status quo dos modelos estéticos em voga. Em síntese, a publicação traz a discussão da partilha de uma estrutura comum, "a do excesso e da produção que não tem uma outra utilidade senão a de produzir conhecimento, fluxo de imagens, pensamentos que nascem da coevolução entre corpo e ambiente"8 

Notas

1 GREINER, C. O colapso do corpo a partir do ankoku butô de Hijikata Tatsumi. 2005. Disponível em: http://www.japonartesescenicas.org. Acesso em: 4 mar. 2012. p. 2

2 Ibid. p. 5

3 Ibid. id.

4 Ibid. p. 6

5 GREINER, C. O Corpo, pistas para estudos indisciplinares. São Paulo: Annablume, 2005. p. 11

6 KATZ, H.; GREINER, C. Por uma teoria corpomídia. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo: Editora Annablume, 2005. p. 131.

7 GREINER, C. Articulações do corpomidia na dança. Revista Ensaio Geral, 2010, UFPA, v. 02. p. 22-29.

8 GREINER, C. O corpo em crise, novas pistas e o curto-circuito das representações. São Paulo: Annablume, 2010. p. 105

Exposições 2

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Fontes de pesquisa 18

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  • GREINER, C. A dança como estratégia evolutiva da comunicação corporal. Logos, Rio de Janeiro, 2003, v. 18. p. 46-59.
  • GREINER, C. A dança e seus novos corpos. Repertório Teatro & Dança, Salvador, 2004, v. 07. p. 54-63.
  • GREINER, C. Articulações do corpomídia na dança. Revista Ensaio Geral, 2010, UFPA, v. 02. p. 22-29.
  • GREINER, C. Butô, pensamento em evolução. São Paulo: Escrituras, 1998.
  • GREINER, C. Corpos em crise uma in-tradução. Repertório Teatro & Dança, Universidade Federal da Bahia, 1999, v. 2. p. 06-11.
  • GREINER, C. Los cuerpos de la danza "contemporanea" japonesa. In Reflexiones en torno a la danza, 2010, v. 04, p. 12-15.
  • GREINER, C. Nomadismo y traducciones culturales: nuevos estudios del cuerpo para hacer/pensar danza contemporánea. Revista de Teoría e Crítica Teatral, 2009, v. 9. p. 1-13.
  • GREINER, C. O colapso do corpo a partir do ankoku butô de Hijikata Tatsumi. 2005. Disponível em: http://www.japonartesescenicas.org. Acesso em: 4 mar. 2012.
  • GREINER, C. O corpo em crise, novas pistas e o curto-circuito das representações. São Paulo: Annablume, 2010.
  • GREINER, C. O corpo em estado de crise. Territórios e Fronteiras da Cena (USP), ECA/USP, 2004, v. 01.
  • GREINER, C. O corpo, pistas para estudos indisciplinares. São Paulo: Annablume, 2005.
  • GREINER, C. Orientalismos e antropofagia: estudos do corpomídia como estratégia para discutir alteridade no campo da cultura. Revista de Estudos Universitários (Sorocaba), 2008, v. 34. p. 13-26.
  • GREINER, C. Researching dance in the wild. TDR (Cambridge), 2007, v. T195. p. 140-155.
  • GREINER, C. Tatsumi Hijikata, o colapso do corpo. Humanidades, Brasília, v. 54. p. 63-70, 2007.
  • GREINER, C. The impact of japanese dance in Brazil. ReVista. Harvard Review of Latin America, 2007, v. 7. p. 33-35.
  • GREINER, C.; KATZ, H. Corpo e processos de comunicação. Fronteiras, Estudos Midiáticos. Rio Grande do Sul, 2001, v. 3, n. 2. p. 65-77.
  • GREINER, C.; KATZ, H. O meio é a mensagem: porque o corpo é objeto da comunicação. Húmus, Caxias do Sul, 2004, v. 01, n. 01. p. 11-20.
  • KATZ, H.; GREINER, C. Por uma teoria corpomídia. O Corpo. Pistas para Estudos Indisciplinares. São Paulo: Editora Annablume, 2005.

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