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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 19.10.2017
1999
Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos (1999) é um longa-metragem documental dirigido por Marcelo Masagão (1958). O filme é uma antologia audiovisual do século XX, intercalando e sobrepondo imagens de filmes antigos, fotos, reportagens de televisão e de arquivos. O trabalho de montagem, assinado também por Masagão, cria narrativas, simultaneamen...

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Análise

Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos (1999) é um longa-metragem documental dirigido por Marcelo Masagão (1958). O filme é uma antologia audiovisual do século XX, intercalando e sobrepondo imagens de filmes antigos, fotos, reportagens de televisão e de arquivos. O trabalho de montagem, assinado também por Masagão, cria narrativas, simultaneamente, reais e ficcionais, construídas com ausência de depoimentos dos personagens apresentados, sendo as legendas utilizadas como recurso para a locução. Silêncios e efeitos sonoros intercalam-se para a construção da narratividade. A música é assinada por Wim Mertens (1953) com direção musical do próprio diretor.
 
O título Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos refere-se à frase encontrada pelo diretor, no portal do cemitério de Paraibuna, interior de São Paulo1, uma frase proverbial que entrelaça morte e vida, motivo central do filme. Masagão recebe uma bolsa da Fundação MacArthur e, durante três anos, pesquisa acervos de imagens do século XX. Para o diretor, é uma época que manifesta de maneira potencializada o binômio destruição/ criação. De acordo ele, o fato que mais chama a atenção é a banalização da morte e da vida. Masagão passa a visitar cemitérios e imaginar recortes biográficos da vida de pessoas desconhecidas2. Nicolau Sevcenko (1952-2014) - um dos consultores de História do filme, ao lado de Eduardo Valadares - afirma: “com base na história e na psicanálise, Marcelo Masagão compôs um complexo mosaico de memórias do século 20. Seu recurso à justaposição de imagens e sequências fragmentadas, ao invés de uma narrativa contínua e linear, capturou o âmago mesmo desse tempo turbulento”3. Nessa mesma direção, Denise Lopes considera que o estilo compilatório e contemplativo lembra o de “Godfrey Reggio em Koyaanisqatsi e Powaqqatsi - que tem um trecho utilizado no filme - e as disfunções temporais e espaciais de justaposições de frames de um Peter Greenaway, os flashes do século 20 mostrados por Masagão são, no mínimo, um bom momento reflexivo”4.

O som de um Lá tocado em um Piano acompanha a frase “O Historiador é o rei”. Há uma repetição da nota, e o texto que surge é: “Freud a rainha”. Escritas em letras brancas sobre um fundo branco, essas palavras iniciam o filme de Masagão, e apontam as bases nas quais a pesquisa se apoia: a história e a psicanálise. Um filme-memória, como denomina o diretor, em que não há respeito por linearidade temporal, tampouco uso de recursos enciclopédicos, como a apresentação de estatísticas ou o uso de um narrador. A poética construída em Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos ganha singularidade e força com a opção de não incluir um narrador - recurso comum em filmes documentais. Para o diretor, a presença de um locutor traz a ideia de que a realidade precisa do aval da palavra para ser legítima. “O locutor limita e comunica muito pouco e parece querer sistematizar o buraco não compreendido”5.

De acordo com Arlindo Machado (1949), o século XX recuperado pelo diretor, traz um “frescor” não habitual em edições de materiais de arquivo. Para Machado, a maneira como as imagens são associadas evidencia uma montagem espirituosa e inteligente. Estruturado em pequenas unidades de montagem, tal como haicais audiovisuais, tempo e espaço “são comparados, confrontados e explorados em todas as suas possibilidades plásticas, poéticas e conceituais”. Um dos exemplos mais notáveis dessa comparação entre tempo e espaço está na intersecção das imagens do artista estadunidense Fred Astaire (1899-1987) e o do jogador de futebol Manuel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha (1933-1983). A cena inicia-se com a imagem de um cemitério, sobre a qual se lê, os números 1, 2, 3 e 4 acompanhados da palavra “pernas”. Na sequência, as imagens de Astaire e Garrincha são intercaladas pelo som crescente da música, criando uma coreografia de quatro pernas.

Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos é realizado com um orçamento baixo, de 140 mil reais, dos quais 80 mil são utilizados para o pagamento de direitos de imagens. Ganha, entre outros, prêmios de Melhor Filme pelo júri oficial, Melhor Filme pelo Júri popular, Melhor Roteiro e Melhor Montagem no Festival de Cinema Nacional de Recife; Melhor Documentário no Festival Internacional do Uruguai, e Melhor Montagem no Festival de Gramado.

Notas

1 SANTOS, Carlos. Inscrição em portal de cemitério intriga visitantes em Paraibuna, SP.  Portal G1, 2 nov. 2012. Disponível em: < http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2012/11/inscricao-em-portal-de-cemiterio-intriga-visitantes-em-paraibuna-sp.html >. Acesso em: 5 out. 2016.

2 MASAGÃO, Marcelo. Carta de apresentação. s/d. Disponível em: < http://www2.uol.com.br/filmememoria/apresentacao.htm >. Acesso em: 5 out. 2016.

3 SEVCENKO, Nicolau. Nós que aqui estamos por vós esperamos. São Paulo, 22 dez. 1999. Disponível em: < http://www2.uol.com.br/filmememoria/txt-nicolau.htm >. Acesso em: 8 out. 2016.

4 LOPES, Denise. O século do homem comum: documentário de Marcelo Masagão mostra personagens anônimos nos tempos da banalização da vida. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23 jul. 1999. Caderno B. Disponível em: < http://www2.uol.com.br/filmememoria/txt-denise.htm >. Acesso em: 8 out. 2016. 

5 MASAGÃO, Marcelo. Carta de apresentação. s/d. Disponível em: < http://www2.uol.com.br/filmememoria/apresentacao.htm>. Acesso em: 5 out. 2016.

Fontes de pesquisa 5

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