Parque do Ibirapuera
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A convite do industrial Ciccillo Matarazzo (1898 - 1977), o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) elabora, em 1951, o anteprojeto para o complexo do Parque do Ibirapuera em São Paulo, em associação com os arquitetos Hélio Uchôa, Zenon Lutofo (1911-1985) e Eduardo Kneesse de Mello (1906-1994). A ideia do parque surge como uma forma de recuperação de imensos e vagos terrenos de mangue, nos quais seriam construídos pavilhões para exposições permanentes e temporárias, além de outros edifícios administrativos, a fim de marcar as comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo em 1954. Após um certo número de modificações, é aprovado o projeto definitivo que não chega a ser completamente realizado, faltando construir o auditório que foi iniciado apenas em 2004.
O complexo arquitetônico do Parque do Ibirapuera é formado por cinco prédios, interligados por uma ampla marquise. Na produção de Niemeyer, o projeto configura-se como a primeira tentativa, em matéria de criação, de um vasto conjunto monumental. Além disso, ele sintetiza os três componentes de seu estilo arquitetônico antes de sua fase de amadurecimento, a partir de 1955: pesquisas estruturais dinâmicas, exploração de formas livres e o jogo de volumes puros, muitas vezes em contraste, mas equilibrando-se mutuamente.
Neste sentido, a forma livre da marquise de concreto armado, de traços sinuosos e curvas caprichosas, é apontada como o elemento de base da composição. Além de servir de elo entre os edifícios, a plástica e a disposição desses foram pensadas a partir desse elemento central. Sua forma de linhas fluidas oferece uma perspectiva dinâmica em contraste com a estabilidade dos pavilhões; esses, por sua vez, estão em grande equilíbrio arquitetônico, sendo que a originalidade plástica de uns é compensada pela massa maior, porém mais clássica, de outros. No projeto nenhum pavilhão sobressai aos demais e todos existem em função do todo.
Os Palácios das Nações e dos Estados (1951) - que abrigaram por longo tempo as instalações da Prefeitura do Município de São Paulo - foram destinados originalmente a exposições de artes plásticas, sendo que as Bienais Internacionais de São Paulo de 1953 e 1955 foram realizadas ali. São caracterizados pela simplicidade e leveza, para as quais os suportes desempenham papel essencial. As colunas e consolos criados por Niemeyer como sustentação da massa de concreto remetem conscientemente a um ramo nascendo do tronco.
No Palácio das Indústrias (1953; atual sede da Fundação Bienal de São Paulo e do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC/USP), o esquema geral praticamente se repete: um bloco retangular de vidro e concreto sustentado por colunas. Contudo, por ter sido originalmente destinado a exposições de máquinas e produtos industriais, é bem maior do que os dois primeiros. Esse pavilhão cobre uma área de 250 x 50m, construído sobre um terreno inclinado que permite um pé-direito, em uma das extremidades do andar térreo, de 8,6m. A comunicação entre os andares é feita por escadas rolantes e rampas externas e internas. Essas rampas constituem elementos arquitetônicos de indiscutível valor estético. Elas formam um jogo contrastante com a sobriedade e simplicidade do exterior e atribuem ao interior do edifício um caráter imaginativo e espetacular, ao mesmo tempo em que dão movimento à massa estática geométrica de concreto e vidro.
O Palácio das Artes, atual OCA (1954), com sua forma que esférica emerge diretamente do chão, contribui para o jogo de volumes no conjunto monumental. Em sua origem, o local é projetado para abrigar exposições de escultura. O aspecto monolítico do exterior é contrabalançado pelas rampas internas em forma de ferradura que conectam os quatro andares do edifício e proporcionam perspectivas cambiantes do espaço. Nota-se, no entanto, que o traçado extravagante desse edifício deveria ser equilibrado pela construção anexa do auditório em prisma triangular de aspecto aerodinâmico.
O último edifício a ser realizado, e que hoje se encontra fora do parque do Ibirapuera, é o Palácio da Agricultura (1955, atual sede do Detran-SP). Bem mais alto do que os outros, o edifício de sete andares segue o desenho dos três primeiros pavilhões. O destaque arquitetônico fica por conta dos pilotis em forma de "V", cujo valor estético deve-se às suas proporções exatas em oposição dinâmica ao retângulo puro que os encima.
Fontes de pesquisa 5
- BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. Tradução Ana M. Goldberger. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999.
- CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era moderno: Guia de Arquitetura 1928-1960. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.
- MINDLIN, Henrique. Arquitetura moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999.
- PETIT, Jean. Niemeyer: poeta na arquitetura. S.l.: Fidia Edizione d'Arte, c.1995.
- PUPPI, Lionello. A Arquitetura de Oscar Niemeyer. Tradução Luiz Mario Gazzaneo. Rio de Janeiro: Revan, 1988.
Como citar
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PARQUE do Ibirapuera.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/obra69087/parque-do-ibirapuera. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7