Aterro do Flamengo
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O aterro da orla da baía de Guanabara - entre o Aeroporto Santos Dumont e a enseada de Botafogo - e a urbanização do parque do Flamengo datam da década de 1950 (o parque é projetado de 1954 a 1959), com as obras iniciadas apenas em 1961, no Rio de Janeiro. Os projetos urbanístico e arquitetônico que definem o aterro e sua ocupação são de responsabilidade do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) do Departamento de Urbanismo da Prefeitura do Rio de Janeiro. O projeto paisagístico é de autoria de Burle Marx (1909-1994). A realização desses projetos contou com a participação decisiva de Lotta Macedo Soares (1910-1967). O parque, que tem 7 quilômetros de extensão e 1.301.306 metros quadrados, inclui jardins para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) (1954) e para o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial (1956), além de incorporar a já existente praça Salgado Filho, em frente ao aeroporto. A ampla área ajardinada integra o centro à zona sul da cidade por vias expressas, compreendendo ainda uma praia artificial de 1.500 metros de extensão, uma pista de aeromodelismo, quadras esportivas, campos de futebol, playgrounds e tanque para nautimodelismo. O aterro propriamente dito é feito com material proveniente do desmonte do morro de Santo Antônio, cujas obras começam entre 1952 e 1954, na administração do prefeito Dulcídio Cardoso, e são concluídas em 1958, na administração de Francisco Negrão de Lima. O desmonte do morro, o grande aterro que acompanha o traçado da antiga avenida Beira-Mar e a construção do parque são concebidos de modo integrado, embora realizados em períodos distintos. O objetivo das três iniciativas é permitir a criação de terrenos valorizados na área central da cidade e, sobretudo, a construção de vias expressas ligando o centro a Copacabana. A idéia de ganhar áreas de mar por meio de aterros é uma tentativa da administração municipal de evitar os altos custos das desapropriações necessárias ao alargamento das principais artérias do Flamengo, Catete, Glória e Botafogo. O projeto de urbanização da área aterrada - concluído em 1965 - envolve amplas pistas para o escoamento do tráfego e diversas áreas de lazer, com três passagens subterrâneas e cinco passarelas de acesso a praias e parques.
O aterro do Flamengo é concebido dentro de uma série de iniciativas que visam resolver o problema viário no Rio de Janeiro. Entre 1950 e 1960, a cidade conhece explosão metropolitana significativa, alimentada por intensos fluxos migratórios. A expansão física da malha urbana se acelera no período e com ela aumentam as distâncias entre o centro e as áreas suburbanas. Datam dessa época o crescimento das favelas e o processo acelerado de verticalização da zona sul, com conseqüente adensamento populacional. O colapso do sistema viário e as dificuldades crescentes de acesso ao centro impõem o aprimoramento das vias de circulação. A febre de construção de viadutos e novas avenidas no governo Carlos Lacerda (1961 - 1965), no Rio de Janeiro - por exemplo, o túnel Santa Bárbara e o túnel Rebouças, o prolongamento da avenida Maracanã, a Rodoviária Novo Rio e a conclusão da via expressa do aterro com a urbanização do parque do Flamengo -, expressa o afã de resolver a questão, que mobiliza administradores, arquitetos e urbanistas. Affonso Reidy participa de diversos desses projetos de urbanização, desde 1929, quando trabalha com Alfred Agache (1875-1959) na elaboração do plano diretor da cidade. Nos anos 1940 envolve-se com soluções para a área central da cidade e com a urbanização da área resultante do desmonte do morro de Santo Antônio. Nesse momento, a circulação, as articulações das zonas comerciais e residenciais, assim como as ligações da zona sul com o centro, são os principais desafios para o urbanista. O aterro e o parque do Flamengo estão entre as principais realizações de Reidy na cidade. Ele não apenas concebeu o projeto em sua integridade como é o responsável pelo projeto do MAM/RJ, pela passarela em frente ao museu, pelo coreto e pelo pavilhão de jogos.
No conjunto do aterro do Flamengo, por sua vez, encontram-se alguns dos mais importantes projetos paisagísticos de Burle Marx. A praça Salgado Filho, uma das primeiras obras do paisagista, se destaca por reunir diferentes espécies naturais, pela concepção do piso mesclando pedra e gramado e pelo banco de pedra sinuoso acompanhando os canteiros. Os jardins ao redor do MAM/RJ apresentam outro perfil: traçado quadrangular, linhas retas e canteiros ortogonais, definindo, segundo alguns estudiosos, uma fase mais construtiva de sua arte paisagista. O parque Brigadeiro Eduardo Gomes (1961), no qual trabalham Reidy, Jorge Moreira (1904-1992), Carlos Werneck de Carvalho e Hélio Mamede, se caracteriza pela articulação de projetos paisagísticos para pequenos recantos e para amplas áreas ajardinadas ao longo das vias expressas do aterro do Flamengo. Em 1999, o aterro é restaurado e revitalizado pelo escritório Burle Marx & Cia. Ltda.
Fontes de pesquisa 5
- ABREU, Maurício de A. Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/ Secretaria Municipal de Urbanismo/ IPLANRIO, 1997. 147 pp., il. p& b.
- GUIA DA ARQUITETURA MODERNA NO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro: Editora Casa da Palavra/ Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, 2000, 210 pp. il. p& b.
- LEME, Maria Cristina (org). Urbanismo no Brasil, 1895-1965. São Paulo: Faculdade de Arquitetura, FAU-USP/ Studio Nobel, 1999.
- REIDY, Affonso Eduardo. Estudo de urbanização da área resultante do desmonte do morro de Santo Antonio. Revista Municipal de Engenharia, n. 3, jul./set. 1948, vol. XV, Prefeitura do Distrito Federal/ Secretaria de Viação e Obras, p. 86-97.
- SIQUEIRA, Vera Beatriz. Burle Marx. São Paulo: Cosac Naify, 2001.
Como citar
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ATERRO do Flamengo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/obra68666/aterro-do-flamengo. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7