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Enciclopédia Itaú Cultural
Literatura

O Cão Sem Plumas

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.03.2024
1950
Reprodução Fotográfica Horst Merkel

O Cão Sem Plumas, 1950
João Cabral de Melo Neto
Brasiliana Itaú/Acervo Banco Itaú

O Cão sem Plumas é um longo poema de João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Publicado em 1950, em Barcelona, tem como marcas características o vocabulário mais coloquial e a descrição da miséria.  

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O Cão sem Plumas é um longo poema de João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Publicado em 1950, em Barcelona, tem como marcas características o vocabulário mais coloquial e a descrição da miséria.  

Considerado divisor de águas na obra de Cabral, é o primeiro livro da Trilogia do Rio, cujas obras subsequentes são O Rio (1953) e Morte e Vida Severina (1955). A inspiração para o poema surge quando João Cabral de Melo Neto, diplomata brasileiro na Espanha, lê uma notícia de que a expectativa de vida no Recife é de 28 anos, praticamente a mesma da Índia. Escrito e publicado pela primeira vez em Barcelona, o poema “inicia um ciclo de textos em que o poeta explicita sua preocupação com a realidade nordestina e a denúncia da miséria”1.

O livro é dividido em quatro seções: “Paisagem do Capibaribe I”, “Paisagem do Capibaribe II”, “Fábula do Capibaribe III”, “Discurso do Capibaribe IV”. Nas duas primeiras partes prevalece a descrição da paisagem, na terceira a narrativa, e a quarta parte é argumentativa.

O movimento do poema como um todo se desenvolve em dois eixos. Em um deles, descreve a realidade da miséria da paisagem regional, até desembocar no mar; no outro, descreve a miséria dos homens que habitam essa mesma paisagem. De acordo com Ana Maria Carrijo Barbosa (2015), na descrição da “Paisagem do Capibaribe I”, o todo desse panorama é percebido nos versos: “Flores pobres e negras/ flora suja e mendiga/ mangues de folhas duras e crespos...”. 

Para o crítico e filósofo Benedito Nunes (1929-2011), O Cão sem Plumas “é todo ser violentado, cujos atributos se truncam e se confundem (...) O Rio conhece os homens sem plumas, seus homônimos, que vão nele perder-se numa conivência de suas naturezas idênticas, ambas corroídas ou desfalcadas, ambas se confundindo na dissolução comum, que humaniza o rio e fluvializa o homem”2.

Segundo a professora doutora em literatura Thaís Toshimitsu (2012), o poema desenha um universo decaído. Ao descrever o rio, o poeta supera o modelo de representações clássicas e românticas, compreendidas por ele como artificiais, mas que se tornam convencionais pelo uso: “Aquele rio/ era como um cão sem plumas./ Nada sabia da chuva azul,/ da fonte cor-de-rosa,/ da água do copo de água,/ da água de cântaro,/ dos peixes de água,/ da brisa na água. (...) Sabia dos caranguejos/ de lodo e ferrugem. (...) Sabia seguramente/ da mulher febril que habita as ostras”. Ainda segunda a autora, o mundo apresentado no poema de João Cabral “afasta-se do intangível da graça, da eternidade e do amor”. Contra esse mundo, o poeta constrói um mundo palpável, que “tem dentes, arestas, é espesso”3.

Construído com rigor e vigor, O Cão sem Plumas evidencia a força da poética de João Cabral de Melo Neto, uma das mais singulares vozes da literatura da língua portuguesa.

Notas

1. BARBOSA, Ana Maria Carrijo. A performatividade, voz e poesia em o rio e o cão sem plumas de João Cabral de Melo Neto. Goiânia, 2015. 115 f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras, Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiás, 2015. Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=2386210. Acesso em: 27 maio 2020. p. 29.

2. NUNES, Benedito. João Cabral de Melo Neto. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 48.

3. TOSHIMITSU, Thaís.  Entre a linha e a lama. Magma, (10), 2012. p. 58-69. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/magma/article/view/48469. Acesso em: 1 jun. 2020.

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