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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Profeta Daniel

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 01.04.2016
1800
1805
Reprodução Fotográfica Sérgio Guerini

Profeta Daniel, 1800
Aleijadinho
Pedra-sabão
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos

Entre os anos de 1800 e 1805, sexagenário e bastante enfermo, o artista mineiro Aleijadinho (1730-1814), realiza o conjunto de esculturas monumentais que marcaria definitivamente sua obra. Seu último projeto de vulto, os 12 profetas em pedra-sabão de tamanho quase natural, feitos para o adro dianteiro do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinh...

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Histórico
Entre os anos de 1800 e 1805, sexagenário e bastante enfermo, o artista mineiro Aleijadinho (1730-1814), realiza o conjunto de esculturas monumentais que marcaria definitivamente sua obra. Seu último projeto de vulto, os 12 profetas em pedra-sabão de tamanho quase natural, feitos para o adro dianteiro do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas, Minas Gerais, são um dos exemplos mais contundentes do desenvolvimento do barroco no Brasil, e talvez a sua última grande manifestação.

O santuário mineiro começa a ser construído como pagamento de uma promessa feita pelo fiel português Feliciano Mendes em 1757. Espelhando-se no Santuário do Bom Jesus de Braga, Mendes, o primeiro ermitão,1 escolhe o Morro do Maranhão para edificação da nova igreja com o objetivo de transformá-lo em local de devoção à via-sacra de Cristo. Somente em 1796, na administração de Vicente Freire de Andrade, Aleijadinho é chamado a colaborar na obra. Com a assistência de auxiliares, executa até 1799 as 64 figuras em madeira, em tamanho natural, destinadas às seis capelas dos Passos da Paixão. Nesse ano solicitam-lhe as 12 esculturas em pedra-sabão, representando os profetas, destinadas à ornamentação do adro do santuário. Aleijadinho é responsável apenas pela parte escultórica do pátio, sendo o projeto arquitetônico de responsabilidade de Tomás de Maia Brito. Análises técnicas revelam que pela concepção arquitetônica original do adro as estátuas deveriam ter dimensões menores e serem colocadas em posição frontal. Aleijadinho transcende os dados previstos na arquitetura e cria um novo espaço subordinado à movimentação e ao tamanho de suas esculturas.

O conjunto de 12 profetas de Congonhas configura-se como uma das séries mais completas, da arte cristã ocidental, representando profetas. Estão presentes os quatro principais profetas do Antigo Testamento - Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, em posição de destaque na ala central da escadaria - e oito profetas menores, escolhidos por um clérigo segundo a importância estabelecida na ordem do cânon bíblico. Nos três planos do átrio, esculturas ordenam seus gestos simetricamente em relação ao eixo principal da composição. Abrindo a representação, estão Jeremias e Isaías de frente e atrás deles, no primeiro patamar, Baruc e Ezequiel. No terraço do adro encontram-se Daniel e Oséias, de perfil. Mais além, Jonas e Joel dão-se as costas e, finalmente, nos ângulos curvilíneos do pátio, Abdias e Habacuc erguem um dos braços, e nas extremidades do arco Amós e Naum apresentam-se de frente. Organizado segundo um jogo de correspondências, os profetas formam um conjunto unitário e ao mesmo tempo diversificado em suas partes, em perfeita organização cenográfica. Apesar da força expressiva de cada peça, é na comunicação estabelecida pela visão do grupo que a eloqüência de cada gesto atinge sua plenitude, como num ato de balé.

Analisadas individualmente, as figuras dos Profetas em Congonhas apresentam deformações anatômicas ou acabamentos desiguais que indicam a colaboração do ateliê de Aleijadinho. No entanto, a força do conjunto e seu poder de integração superam as avaliações individuais das obras. Sobre a iconografia das imagens, o historiador francês German Bazin aponta uma série de gravuras florentinas anônimas do quattrocento como fonte do artista mineiro. Em suas esculturas encontram-se o mesmo traço goticizante, como os panejamentos quebrados e em ângulos retos, e os elementos exóticos, como os barretes em forma de turbante "à moda turca". No entanto, é preciso ter em vista que a iconografia profética é cunhada na Idade Média, momento em que a representação dos profetas aparece sempre com o filactério (faixa de pergaminho com passagens bíblicas) e com a gesticulação eloqüente e vivaz. A pintura flamenga, em fins da era medieval, introduz os elementos "orientais" nessa iconografia. São comuns profetas com vestimentas exóticas na arte portuguesa entre 1500 e 1800, como é o caso das figuras no Santuário de Braga.2

Pelo menos dez dentre os 12 profetas apresentam o mesmo tipo fisionômico jovem de traços elegantes com rostos estreitos, bochechas encovadas e maçãs do rosto salientes, barbas aparadas e longos bigodes.  Apenas Isaías e Naum são envelhecidos e de bardas longas. Também no que diz respeito às vestes, todos trajam túnicas longas ou curtas cobertas com pesados mantos bordados nas bordas - à exceção de Amós, o profeta-pastor que traz manto semelhante aos casacos de pele de carneiro e gorro usado por camponeses da região do Alentejo. A escultura de Daniel com o leão a seus pés destaca-se do grupo. Muitos acreditam que, pela perfeição de seu acabamento, é uma das únicas esculturas inteiramente realizada pelo mestre mineiro.

Notas
1 Indivíduo que cuida de uma ermida (pequena igreja ou capela em lugar ermo ou fora de uma povoação).
2 Na tentativa de buscar novas fontes para os profetas de Congonhas, o estudioso Robert Chester Smith observa que em Portugal, nos séculos XVII e XVIII, há numerosos exemplos de figuras orientais do Velho Testamento em azulejos policromados e em escultura, possivelmente conhecidos pelo Aleijadinho.

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