Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea
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Sem Título [Dois rodos e vassoura]
Arthur Bispo do Rosario
Madeira, tecido e alumínio
Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea
Texto
O Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea (mBrac), localiza-se no Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, centro de saúde mental conhecido como “Colônia”, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O museu é responsável por preservar, conservar e difundir a memória da Colônia e a obra de Arthur Bispo do Rosário (1911-1989), artista internado intermitentemente na instituição por quarenta e nove anos. Além de sua função museal, também opera como equipamento de saúde, desenvolvendo projetos que trabalham em função da abolição dos estigmas em torno de temas relacionados à saúde mental.
O debate ao longo dos anos 1980 em torno da Reforma Psiquiátrica Brasileira1 estimula a produção artística dentro da Colônia como atividade expressiva. Assim, em 1982, é fundado o Museu Nise da Silveira2 para abrigar as obras produzidas na instituição. Além de Bispo do Rosário, outros pacientes se destacam pela atividade artística, como a poeta e artista Stela do Patrocínio (1941-1992), e o pintor Antônio Pedro Bragança (1904-1967). Com a morte de Bispo, o Museu integra em seu acervo as obras do artista e passa a se chamar, em 2000, Museu Bispo do Rosário. Em 2002, agrega “Arte Contemporânea” à sua denominação.
Com quatro galerias no prédio sede da Colônia, o mBrac atua através de três eixos fundamentais: Acervo, Exposições e o Pólo Experimental. O Pólo Experimental é o eixo que busca através de projetos a integração entre saúde, arte e educação com o objetivo de criar novas perspectivas sobre práticas artísticas e o cuidado em saúde mental. Destacam-se nesse eixo o Atelier Gaia e a Casa B.
O Atelier Gaia oferece espaço, suporte técnico e institucional para artistas que tiveram no seu percurso de vida a passagem pela Colônia, incentivando a sua produção artística. Além dos integrantes participarem de diversas exposições - como Lugares do Delírio3, que apresenta no Museu de Arte do Rio (2017) e no paulista Sesc Pompeia (2018) uma reflexão política e estética sobre saúde mental e arte -, alguns artistas possuem obras em outros acervos, como Arlindo Oliveira (1951), que integra as coleções do Museu de Arte do Rio e do Museu Afro em São Paulo.
Já a Casa B oferece um programa de residências artísticas para o desenvolvimento de pesquisas que dialoguem com a comunidade e o mBrac. Alguns dos trabalhos desenvolvidos integram exposições do museu, como a instalação Paredes da Minha Casa (2018), de Daniel Murgel (1981), em que o artista toma como referência a obra Muro no Fundo da Minha Casa (s.d.), de Bispo do Rosário, para refletir sobre as condições de moradia de africanos escravizados no Brasil.
O acervo do mBrac é composto por mais de mil e quinhentos objetos, com diferentes características. Além da coleção de Arthur Bispo do Rosário - de relevância e circulação nacional e internacional, tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) na década de 1990 e pelo Iphan em 2018, possui obras que foram produzidas entre 1950 e 1980 por pacientes nos ateliês de arteterapia, e trabalhos de artistas vinculados ao Atelier Gaia.
As exposições, além de envolverem pesquisas relacionadas à obra de Bispo, exploram a atuação social na Colônia, incorporando como diretriz fundamental das mostras a memória do local, do próprio museu, da cidade, das práticas da psiquiatria, da arte e da loucura e suas relações.
A exposição Um Canto, Dois Sertões: Bispo do Rosário e os 90 Anos da Colônia Juliano Moreira (2015), por exemplo, contextualiza a obra de Bispo dentro de dois universos: a Colônia, onde vive grande parte de sua vida, e Japaratuba, em Sergipe, sua cidade natal. A mostra explora o paralelo entre a urbanização do Rio de Janeiro, a relação da sociedade com a loucura, e as mudanças ocorridas na Colônia, estabelecendo ligações com o contexto de criação de Bispo. Além de importantes obras do artista, como Manto da Apresentação (s.d.), foram expostos objetos do acervo da Colônia, e obras de outros artistas, como as pinturas de murais sobre Japaratuba de Marta Neves (1964).
Já a mostra Quilombo do Rosário (2018) parte de uma obra então inédita de Bispo, A África de Bispo (s.d.), um mapa do continente africano feito a mão, para relacionar, pela primeira vez em uma exposição, a obra do artista com a cultura afro-brasileira, ressaltando sua origem. Destaca-se na mostra a participação do Quilombo do Camorim, que através de uma roda de Jongo, dança de origem africana, apresenta relatos das vivências da região de Jacarepaguá.
A exposição Utopias: A vida para todos os tempos e glória (2021), por sua vez, reflete sobre a arte como materialização da imaginação utópica, tomando como referência a utopia no trabalho de Bispo e na própria atuação do mBrac. Destaca-se a instalação (Não) coma o Microfone (2021), de Veridiana Zurita (1982), uma rádio temporária de discussão sobre saúde mental e capitalismo, e a participação de trinta e duas crianças que integram o projeto Clubinho da Mata, de educação não formal, realizado pela Fiocruz Campus da Mata.
O Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea promove o debate sobre questões referentes à saúde mental e à arte contemporânea, buscando através de ações artísticas e educativas ativar a coleção Arthur Bispo do Rosário e relacionar-se com seu entorno, oferecendo um dispositivo cultural para a Zona Oeste do Rio de Janeiro. A instituição conserva um importante acervo nacional e incentiva o trabalho de artistas que passaram por instituições de assistência à saúde mental, colaborando com a integração psicossocial.
Notas
1. A Reforma Psiquiátrica Brasileira iniciou-se com o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), em 1978, no período de redemocratização do país. A organização fez críticas ao modelo psiquiátrico clássico e às práticas de violência, abandono e exclusão, adotadas nos manicômios, e começou a discutir a desinstitucionalização como uma forma alternativa ao sistema asilar, buscando formas de criar autonomia e integração social para pessoas em sofrimento psíquico.
2. O nome do museu é uma homenagem à psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999), que reformula a maneira de compreender suas visões de mundo dando voz ao universo interior dos pacientes. A primeira organização de natureza museal na Colônia, no entanto, data de 1952, quando é criado um departamento para abrigar a produção artística dos ateliês de arteterapia. O setor é nomeado Egas Moniz, em homenagem ao médico português Egas Moniz (1874-1955), criador da lobotomia, cirurgia irreversível que “acalmava” pacientes agressivos, deixando-os em estado semivegetativo.
Obras 26
Sem Título [Bolsa de gelo]
Sem Título [Cama Romeu e Julieta]
Sem Título [Canecas]
Sem Título [Carrossel]
Sem Título [Colônia Juliano Moreira]
Exposições 28
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8/6/0 - 0/0/1993
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13/12/0 - 0/0/1996
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4/2006 - 7/2006
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 9
- AMENDOEIRA, Maria Cristina Reis; CAVALCANTI, Maria Tavares; FABRÍCIO, Paula Conceição. Atelier Gaia: sua história e a arte no campo da atenção psicossocial. Revista Baiana de Saúde Pública. Salvador, 17 set. 2017, v. 40 n. 2 (2016). Disponível em: https://rbsp.sesab.ba.gov.br/index.php/rbsp/article/view/1977. Acesso em: 18 abr. 2022.
- AQUINO, Ricardo Rodrigues. Museu e produção de subjetividades. Tese (Doutorado em Memória Social), Rio de Janeiro: UNIRIO, 2010. Disponível em: http://www.repositorio-bc.unirio.br:8080/xmlui/handle/unirio/12006. Acesso em: 18 abr. 2022.
- CAMPOS, Marcelo. Um canto dois sertões: Bispo do Rosário e os 90 anos da Colônia Juliano Moreira. Rio de Janeiro: MBrac, Azougue Editorial, 2016. Disponível em: https://museubispodorosario.com/wp-content/uploads/2021/12/um_canto_miolo_ing_160411.pdf. Acesso em: 18 abr. 2022.
- CORRÊA, Denise. Arthur Bispo do Rosário: sua trajetória como artista plástico. Dissertação (Mestrado em História da Arte), Rio de Janeiro: UFRJ, 2000. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/22989/000739703.pdf. Acesso em: 18 abr. 2022.
- LUCENA, Felipe. História do Museu Bispo do Rosário. Diário do Rio. Rio de Janeiro, 8 jul. 2018. Disponível em: https://diariodorio.com/historia-do-museu-bispo-do-rosario/. Acesso em: 18 abr. 2022.
- MORAIS, Frederico. A reconstrução do universo segundo Arthur Bispo do Rosário. In: Registros da minha passagem pela Terra: Arthur Bispo do Rosário. São Paulo: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, 1990.
- MORAIS, Frederico. Arte Além da Loucura. 1. Ed. Rio de Janeiro: NAU: Livre Galeria, 2013.
- Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea. Sobre o mBrac. São Paulo, 2021. Disponível em: https://museubispodorosario.com/museu/. Acesso em: 18 abr. 2022.
- Museu Bispo do Rosário expõe obras do artista no Rio. Rio de Janeiro: TV Brasil, 2018. (2:53 min), son., color. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9pwQJBrdY6M. Acesso em: 18 abr. 2022.
Como citar
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MUSEU Bispo do Rosário Arte Contemporânea.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/instituicao113524/museu-bispo-do-rosario-arte-contemporanea. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7