Cia PeQuod
Texto
A companhia usa a técnica de manipulação direta de bonecos, sem auxílio de luvas, varetas ou fios, fundamentada a partir da arte de representação Bunraku. Os recursos cênicos se completam com uma linguagem baseada na cultura pop, no cinema e nas histórias em quadrinhos.
Miguel Vellinho, criador da companhia, além de diretor e roteirista dos espetáculos, é um dos fundadores do grupo Sobrevento.
O primeiro espetáculo, Sangue Bom, 1999, com roteiro e direção de Miguel Vellinho, apresenta uma história de amor tragicômica entre o vampiro de um castelo e uma bela jovem, com tendências suicidas, que sofre a interferência de um caçador de vampiros. Sem palavras, o espetáculo mistura elementos do desenho animado, dos filmes de terror e da literatura gótica, em linguagem que procura reproduzir no palco os efeitos de enquadramento, edição e movimentação de câmera característicos do cinema, além do nonsense e das gags típicas dos filmes de animação.
A crítica Lúcia Cerrone comenta o espetáculo no Jornal do Brasil: "Miguel Vellinho, em sua primeira direção, concebeu um espetáculo em takes cinematográficos de extrema agilidade cênica, sem se descuidar da plasticidade. (...) No imenso palco vazio, ao som de uma trilha musical dramática, chegam os carregadores do porto trazendo caixotes de madeira de diversas dimensões. Quase por mágica, esses caixotes se abrem mostrando diferentes ambientes de um castelo: salas suntuosas com colunas de mármore, quartos de dormir com paredes de pedra, torres e porta de entrada sinistra. (...) Além da história contada, o espetáculo insere no enredo a própria história do teatro dos bonecos, que mistura doses de humor com secular crueldade. (...) Com ambientação perfeita e rica em detalhes luxuosos que caracterizam o gótico nos filmes de terror, o espetáculo tem grande força ainda na iluminação de Renato Machado, que cria pequenos focos para cenas mais intimistas, chegando quase ao close e ampliando raios e trovões no palco inteiro, ao sabor da estética Roger Corman para os filmes de Boris Karloff".1
Noite Feliz - um Auto de Natal, 2001, conta a história do nascimento de Jesus, em um musical com instrumentistas e cantores ao vivo, que narram os fatos que se estendem do casamento de Maria e José até a fuga da Sagrada Família para o Egito. O humor é o elo entre as referências culturais da época e elementos da cultura pop.
Em O Velho da Horta, 2002, Miguel Vellinho adapta a farsa de Gil Vicente. O crítico Dib Carneiro Neto de O Estado de S. Paulo considera que o cenário é o principal elemento da montagem: "A enorme horta em miniatura que se estende pelo palco é competentemente encantadora. Sozinha, a cenografia do espetáculo é capaz de estimular a fantasia da platéia (...)".2 O espetáculo recebe o Prêmio Maria Clara Machado 2003, na categoria especial, pela confecção dos bonecos.
Em 2004, o grupo cria Filme Noir, que conta a história do envolvimento entre uma cantora de um clube de jazz que, suspeita de assassinato e julgando estar sendo perseguida, contrata um detetive particular fracassado, que, por sua vez, também se sente perseguido. Narrada em off, a ação se desenvolve em praticáveis móveis, cujo deslocamento permite quebras e cortes, planos em perspectiva, abrir e fechar de portas ou a focalização de detalhes, como a coreografia de mãos, com cenário e figurino nas cores preto, branco e cinza. O espetáculo recebe o Prêmio Shell de Teatro na categoria de melhor iluminação para Renato Machado, sendo também indicado na categoria especial para a Cia. PeQuod 'pela qualidade de criação e manipulação de bonecos'. O crítico Macksen Luiz escreve: "Os manipuladores - Mariane Gutierrez, Liliane Xavier, Maria Rego Barros, Márcio Nascimento e Márcio Newlands - se paramentam diante da platéia, no início do espetáculo, e se transformam em silhuetas que se tornam magicamente ausentes (...) A confecção dos bonecos, por Maria Rego Barros, Márcio Newlands e Miguel Vellinho, reproduz nos rostos bem talhados e em brincadeiras bem achadas - os braços múltiplos e o pescoço de mola - o melhor desenho deste Filme noir, um jogo narrativo articulado com bom humor e simpáticos 'intérpretes' ".3
Em 2006, a companhia encena Peer Gynt, de Ibsen, considerado um dos melhores espetáculos do ano pelo jornal O Globo, que publica matéria com um balanço do ano, afirmando: "O irônico e difícil épico de Ibsen ganhou uma adaptação divertida e emocionante no Sergio Porto, revelando mais uma vez a inventividade e o amor que permeiam o trabalho da Cia. PeQuod. O uso indistinto de atores, bonecos (muito bem manipulados) e objetos resultou numa perfeita harmonia cênica".4
A Cia. PeQuod circula pelo país em eventos e festivais, tendo participado entre outros do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, São Paulo, em 2002 e 2004; do Festival Internacional Telemig Celular de Teatro de Bonecos, em 2000 e 2002; do Festival Espetacular de Teatro de Bonecos, Curitiba, em 2000; do Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Canela, Rio Grande do Sul; e do Porto Alegre em Cena, 2001.
No cinema, o grupo confecciona os bonecos e cenários para o média-metragem Debret, uma Aquarela do Brasil, de Jom Tob Azulay, 2000, e realiza uma seqüência de teatro de sombras no longa-metragem Copacabana, de Carla Camurati, em 2001.
Notas
1. CERRONE, Lúcia. Sempre muito bom, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1 dez. 1999.
2. CARNEIRO NETO, Dib. O prazer do amor maduro, O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 26 set. 2003.
3. LUIZ, Macksen. Humor, técnica e mistério, Jornal do Brasil, Caderno B, Rio de Janeiro, 20 nov. 2004.
4. OS MELHORES de 2006 no teatro, O Globo, Rio de Janeiro, 29 dez. 2006.
Espetáculos 6
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13/8/2004 - 5/9/2004
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31/8/2006 - 24/9/2006
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 7
- CERRONE, Lúcia. Sempre muito bom, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1 dez. 1999.
- CIA. PEQUOD. Rio de Janeiro: Funarte/Cedoc. Dossiê Grupo Artes Cênicas.
- HELIODORA, Barbara. Cia. Pequod faz espetáculo de alta qualidade no Sérgio Porto, O Globo, Rio de Janeiro, 25 nov. 2006.
- LUIZ, Macksen. Humor, técnica e mistério, Jornal do Brasil, Caderno B, Rio de Janeiro, 20 nov. 2004.
- NETO, Dib Carneiro. O prazer do amor maduro, O Estado de S. Paulo, Caderno 2, 26 set. 2003.
- OS MELHORES de 2006 no teatro, O Globo, Rio de Janeiro, 29 dez. 2006.
- PEQUOD. Disponível em: [http://www.pequod.com.br]. Acesso em: 04/05/2007.
Como citar
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CIA PeQuod.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo563304/cia-pequod. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7