Grupo Espanca!
Texto
Criado em 2004 por um grupo de jovens artistas mineiros, o Espanca! alcança rapidamente projeção nacional, com um trabalho bem delineado, de grande densidade poética, no qual o cotidiano e a incomunicabilidade humana são abordados com delicadeza.
O encontro entre a atriz, diretora e dramaturga Grace Passô e os atores Paulo Azevedo, Marcelo Castro, Gustavo Bones e Samira Ávila se dá durante a montagem da cena Por Elise em 15 Minutos, para a 5ª edição do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. A repercussão imediata dessa cena, cujo lirismo dramático encanta o público do festival, leva à continuidade do trabalho e à constituição do grupo. Com o espetáculo Por Elise, o Espanca! estreia oficialmente em 2005, na mostra paralela do 14º Festival de Teatro de Curitiba.
A peça é uma fábula sobre o comportamento e as contradições dos sentimentos humanos. Com destaque para o texto de Grace Passô, Por Elise obtém reconhecimento de público e de crítica. Sobre a estreia em Curitiba, o jornalista Kil Abreu escreve: "[...] A imaginação lírica que o espetáculo faz revelar contorna a ambição dos grandes temas e nos leva às portas de estórias tão ordinárias quanto as de qualquer homem comum. No entanto, pelas mãos da autora elas são abertas com a chave de uma síntese poética extra-ordinária (sic), que nos faz viver, no decorrer da encenação, breves sustos e pequenas epifanias".1
Por Elise integra a programação dos principais festivais do Brasil, faz temporadas em Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro e participa da Copa da Cultura, em Berlim. Sobre a peça, Sérgio Salvia Coelho ressalta: "Frases banais vão ganhando profundidade a cada repetição, e o público descobre, encantado, que está recebendo profundas lições de vida de um elenco tão jovem. Cada metáfora, contundente e inesperada, cai com precisão, enchendo o ouvinte de dor e doçura. [...] com sua delicadeza e maturidade, é um desses espetáculos que parece ter sido feito especialmente para cada plateia".2
Por esse trabalho, Grace recebe o Prêmio Shell na categoria melhor dramaturgia, além de ganhar o prêmio de melhor texto teatral da Associação Paulista de Críticos de Arte - APCA. O Espanca! é indicado ao Prêmio Shell 2005 (edição São Paulo), na categoria especial, pela criação e concepção de Por Elise, e incluído pela revista Bravo! entre os 100 melhores espetáculos de artes cênicas produzidos no Brasil entre 1997 e 2005. Estimulado pela repercussão da montagem e pelo interesse despertado pelo texto, o grupo publica, em 2005, a peça Por Elise.
Agraciado com o Prêmio Estímulo às Artes - Auxílio Montagem, da Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes, em 2005, o Espanca! monta seu segundo trabalho, inaugurando parcerias: o texto é de Grace, que conta com a consultoria dramatúrgica de Adélia Nicolete, e o grupo é dirigido por Rita Clemente. Amores Surdos estreia na Mostra Oficial do 15º Festival de Teatro de Curitiba, em março de 2006.
Mostrando a história de uma família, formada por um pai ausente, uma mãe zelosa e seus filhos, que vivem um cotidiano de incomunicabilidade, o espetáculo é uma metáfora da perda da inocência, construída por meio de uma linguagem ora absurda, ora realista, que cria um universo de estranheza e delicadeza impactantes. A pesquisadora Antonia Pereira Bezerra ressalta que "[...] as personagens empreendem embates e combates aparentemente rotineiros e banais - como parecem ser os embates e combates empreendidos por todas as famílias normais. Curiosamente, o que se desenvolve sob os olhos estranhados do espectador é apenas um artifício. Amores Surdos grita o indizível numa sorte de desespero agudo, sensível".3
Sobre o espetáculo, o professor Júlio Groppa Aquino escreve: "[...] o atual trabalho do grupo Espanca! resulta tão instigante quanto acalentador, já que finda por ofertar opulência e, ao mesmo tempo, delicadeza à plateia durante a breve hora de duração do espetáculo. Breve porque condensada, ágil, intensa. Sem delongas, o espetáculo é de uma beleza tocante".4 Amores Surdos recebe o 4º Prêmio Usiminas/Sinparc nas categorias de melhor texto e melhor atriz, para Grace Passô.
Em 2007, o Espanca! realiza o ACTO 1 - Encontro de Teatro, um projeto de intercâmbio e reflexão artística desenvolvido em parceria com o Grupo XIX de Teatro, de São Paulo e a Cia. Brasileira, de Curitiba. A primeira edição do encontro conta com a participação do professor e crítico teatral Kil Abreu, de São Paulo, e reúne artistas e pensadores para demonstrações de trabalho, apresentação de espetáculos e debate sobre processos criativos no teatro brasileiro contemporâneo.
Em 2008, a breve e contundente trajetória artística do Espanca! lhe garante o prêmio do 2º Projeto de Co-Criação do Núcleo dos Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil, para a montagem do espetáculo Congresso Internacional do Medo. Inspirada no poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade, com direção e texto inédito de Grace Passô, a peça propõe um encontro entre países, línguas e filósofos inventados que discutem sobre a humanidade, o medo e a efemeridade da vida. Nessa terceira montagem, o grupo trabalha com novos parceiros, atores e bailarinos de Belo Horizonte e artistas convidados dos grupos XIX de Teatro e Cia. Brasileira.
Congresso Internacional do Medo estreia no Festival Internacional de Teatro de Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT/BH) e inicia um percurso pelos principais festivais de teatro do país. Sobre o espetáculo, a dramaturga Nina Caetano escreve: "Jogando com simultaneidades, superposições de discursos e sistemas, passagens quase em fade, a insólita Grace tece pura dramaturgia da cena".5
Ainda em 2008, a parceria com o Grupo XIX de Teatro iniciada no Acto 1 desdobra-se em um projeto de residência artística da companhia mineira na sede do grupo paulista. O período de três meses de trabalho sobre o tema "futuro" resulta na montagem da cena/exercício Barco de Gelo.
Notas
1. ABREU, Kil. "Por Elise": grupo mineiro traz lições de delicadeza na bagagem. Diário do Fringe - Festival de Teatro de Curitiba. Curitiba, 24 mar. 2005.
2. COELHO, Sérgio Sálvia. Delicada e sincera, "Por Elise" parece feita para cada espectador. Folha de S. Paulo, São Paulo, 9 out. 2005.
3. BEZERRA, Antonia Pereira. A inclemência do indizível. Painel Crítico do Festival de Teatro de São José do Rio Preto. São José do Rio Preto, 14 jul. 2007.
4. GROPPA, Júlio. Impermanências lamacentas. Painel Crítico do Festival de Teatro de São José do Rio Preto. São José do Rio Preto, 14 jul. 2007.
5. CAETANO, Nina. Texturas puras da cena. Painel Crítico do Festival de Teatro de São José do Rio Preto. São José do Rio Preto, 19 jul. 2008.
Espetáculos 4
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11/1/2008 - 24/2/2008
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Exposições 1
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27/8/2015 - 25/10/2015
Fontes de pesquisa 6
- ABREU, Kil. "Por Elise": grupo mineiro traz lições de delicadeza na bagagem. Diário do Fringe - Festival de Teatro de Curitiba. Curitiba, 24 mar. 2005.
- BEZERRA, Antonia Pereira. A inclemência do indizível. Painel Crítico do Festival de Teatro de São José do Rio Preto. São José do Rio Preto, 14 jul. 2007.
- CAETANO, Nina. Texturas puras da cena. Painel Crítico do Festival de Teatro de São José do Rio Preto. São José do Rio Preto, 19 jul. 2008.
- COELHO, Sérgio Sálvia. Delicada e sincera, "Por Elise" parece feita para cada espectador. Folha de S. Paulo, São Paulo, 9 out. 2005. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac0910200502.htm >.
- GROPPA, Júlio. Impermanências lamacentas. Painel Crítico do Festival de Teatro de São José do Rio Preto. São José do Rio Preto, 14 jul. 2007.
- PASSÔ, Grace. Por Elise. Belo Horizonte: Grupo Espanca!, 2005. 140p.
Como citar
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GRUPO Espanca!.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo500500/grupo-espanca. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7