Núcleo Bartolomeu de Depoimentos
Texto
Histórico
A companhia, fundada em São Paulo em 1999, utiliza elementos da cultura hip-hop – como breaking, grafite e rap – na realização de seus trabalhos teatrais. Com a direção da dramaturga Claudia Schapira e do DJ e ator Eugênio Lima, o grupo investe na oralidade ritmada e na poética musical, expondo as urgências, dificuldades e contradições da vida nas metrópoles. O objetivo é estabelecer o encontro da arte de representar com os modos de expressão urbanos, resultando numa linguagem híbrida, que evolui para espetáculos-manifestos e é marcada pelo tom de denúncia social.
Essa ambição é estruturada em narrativas épicas, segundo o modelo brechtiano. A estrutura é utilizada pelo grupo desde o primeiro espetáculo, Bartolomeu, Que Será Que Nele Deu? (2000), livre adaptação do conto Bartebly, o Escriturário, de Herman Melville. A direção de Georgette Fadel prenuncia o casamento estético radicalizado na montagem seguinte.
Acordei que Sonhava (2003) é mais ousado na plasticidade e na escrita de cena, que recria o clássico da literatura universal A Vida É Sonho, do espanhol Pedro Calderón de la Barca, escrita no século XVII. O texto, uma metáfora da trajetória do personagem central, o príncipe Segismundo, alude aos destinos do povo brasileiro aprisionado à ignorância – na acepção da diretora Schapira.
Em Frátria Amada Brasil – Pequeno Compêndio de Lendas Urbanas (2006), o Núcleo elege o poema Odisseia, de Homero, como ponto de partida. Na peça, a epopeia vivida pela personagem Ulisses é desdobrada no movimento de anônimos, "zés-ninguém", vagando sem destino. Ao longo do desfile desses seres errantes, movidos por vaidades e prepotência, e atraídos pelos mitos, suas desventuras resultam num processo de aprendizagem.
A crítica Beth Néspoli afirma que o Núcleo Bartolomeu concebe um espetáculo "inovador" e destaca o foco da montagem no processo de individuação: "Não confundir com individualismo. Neste último, o sujeito imagina isolar-se do mundo – cuido de mim, cada um por si –, mas continua impregnado da ideologia de seu tempo, sempre ditada pelo poder. Na individuação, ao contrário, o processo é o do autoconhecimento, da tomada de consciência, uma separação entre indivíduo e ideologia, única forma de agir sobre ela – ideia explorada com incrível clareza no espetáculo. Outra boa sacada foi a transmutação para o exílio em terra própria. Entre os mitos, o da mãe pátria que a todos acolhe. Só quebrado esse mito, adquirida a consciência de quem se é, onde se está, é possível arregaçar as mangas e talvez transformar pátria – de pai patrão – em frátria, ideia sintetizada com brilho na cena final".1
O grupo também se desdobra em intervenções públicas, como as que nascem do Projeto Urgência nas Ruas, na região central e noutros bairros de São Paulo, entre 2002 e 2004. Alguns dos seus integrantes militam ainda no coletivo de 'artivismo' Frente 3 de Fevereiro, cujas performances colocam o racismo em xeque.
Notas
1. NÉSPOLI, Beth. Potência é marca de Frátria Amada. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 14 nov. 2006. Caderno 2.
Espetáculos 6
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24/10/2008 - 9/11/2008
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14/11/2008 - 30/11/2008
Exposições 1
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31/10/2018 - 27/1/2017
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 5
- ACORDEI que Sonhava. Programa do espetáculo. São Paulo, 2003.
- BARTOLOMEU, Que Será que Nele Deu? Programa do espetáculo. São Paulo, 2000.
- FRÁTRIA Amada Brasil - Um compêndio de Lendas Urbanas. Programa do espetáculo. São Paulo, 2006.
- NÉSPOLI, Beth. Potência é marca de Frátria Amada. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 14 nov. 2006. Caderno 2.
- PROJETO Urgência nas Ruas - Intervenções. Programa do espetáculo. São Paulo, 2002.
Como citar
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NÚCLEO Bartolomeu de Depoimentos.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo464387/nucleo-bartolomeu-de-depoimentos. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7