Amok Teatro
Texto
Histórico
A companhia Amok Teatro, fundada em 1998, é formada pela diretora brasileira Ana Teixeira e pelo ator francês Stéphane Brodt. Pauta-se por pesquisa corporal, inspirada nas técnicas de Étienne Decroux e no pensamento de Antonin Artaud.
Stéphane Brodt e Ana Teixeira trabalham pela primeira vez juntos em Memórias do Velho Mundo, fazendo a concepção e a direção do espetáculo de formatura de turma da Casa das Artes de Laranjeiras - CAL, em 1996. Stéphane Brodt traz a experiência da metodologia de trabalho de ator desenvolvida por Ariane Mnouchkine no Théâtre du Soleil, França, assim como uma forte influência do teatro oriental.
Outro espetáculo da dupla, Cartas de Rodez, seleção de cartas escritas por Artaud a seu psiquiatra durante o período em que esteve internado no manicômio de Rodez, é apresentado em um espaço improvisado no Instituto de Psiquiatria Philippe Pinel. Recebe o Prêmio Shell nas categorias de direção, para Ana Teixeira, e ator, para Stéphane Brodt, e o Prêmio Mambembe de melhor espetáculo de 1998.
A crítica Barbara Heliodora do jornal O Globo elogia a montagem: "Cartas de Rodez é um espetáculo emocionalmente e excepcionalmente cuidado (...) e se apresenta como um belo documento de sofrimento humano. (...) Stéphane Brodt, vestido no mesmo preto dos bonecos, o rosto pintado de um branco doentio e, como o Artaud do fim da vida, quase sem dentes, tem uma atuação brilhante, de grande controle corporal para reproduzir os movimentos duros e já tolhidos pelo confinamento constante. (...) Cartas de Rodez é teatro no que ele faz de melhor: por intermédio de uma rica experiência estética, nos ensina (latu sensu) um pouco mais a respeito de comportamentos humanos e conduz à reflexão".1
Em 2000, ele dirigem outra peça de formatura da CAL: O Dibuk, texto de Schalon An-Ski. No ano seguinte, estréia O Carrasco, inspirado no romance homônimo de Pär Lagerkvist, com inserção de textos de Ingmar Bergman e Jean Genet. O espetáculo é dividido em quatro quadros independentes, em que o mal é abordado ora do ponto de vista de tradições e superstições populares, ora pelo ângulo da justiça, da morte e da guerra, até que, no último quadro, se faz sua defesa. O espetáculo recebe o Prêmio Governo do Estado do Rio de Janeiro na categoria de melhor espetáculo e indicações, na categoria especial, para a maquiagem criada por Stéphane Brodt. Com o dinheiro do prêmio, o grupo compra e reforma uma velha casa para abrigar sua sede.
A crítica Barbara Heliodora escreve sobre o espetáculo: "A direção de Ana Teixeira é concentrada exclusivamente em ator e texto; afastando-se do realismo, todos os diálogos são desenhados, com ritmos e intenções se tornando necessariamente parte da composição de uma linguagem teatral que podemos sentir trabalhada para esse espetáculo e seus objetivos. (...) O carrasco é um espetáculo de características excepcionais, marcadas pela abdicação de tudo que não sirva à expressão orgânica e imaginativa da essência a ser transmitida".2
Em 2004, a dupla apresenta sua versão para Macbeth, de William Shakespeare. Na adaptação, condensa o tempo dramático e funde personagens, enquanto a encenação propõe uma ambientação ritualística através da plasticidade visual, de recursos sonoros, da gestualidade, da máscara e de movimentos que alternam postura estática e movimentos coreografados. As máscaras e a maquiagem, de variada inspiração asiática e africana, e também os figurinos são assinados por Stéphane Brodt.
O crítico Macksen Luiz, do Jornal do Brasil, analisa: "As imagens, tão expandidas pela riqueza do texto, são revestidas de formalização visual e de sonoridade impositivamente interveniente que marcam o tempo narrativo alongado, mas que ressaltam a palavra como centro da interpretação física. Os atores incorporam essa ambientação ritualística com força gestual (...) Stéphane Brodt, como Macbeth, concentra na máscara facial e em pequenos reflexos (tremores das mãos) uma interpretação cuja densidade surge do vigor corporal. (...) é uma figura assombrosa em cena".3
Em 2006, a companhia encena Savina, texto e concepção de Stéphane Brodt e Ana Teixeira, a partir da obra de Mateo Maximoff, que trata do mundo dos ciganos. A crítica do jornal O Globo reconhece o "meticuloso trabalho de pesquisa de hábitos e costumes", mas aponta a "falta de estrutura dramática" e considera que "o excesso de dedicação a uma pesquisa" compromete o espetáculo.4
Notas
1. HELIODORA, Barbara. Todo o sofrimento de Antonin Artaud no fim de sua vida, num hospital psiquiátrico. O Globo, Rio de Janeiro, 25 out. 1998.
2. HELIODORA, Barbara. O Carrasco. O Globo, Rio de Janeiro, 18 out. 2001.
3. LUIZ, Macksen. Desconcertante harmonia visual, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 13 mar. 2004.
4. HELIODORA, Barbara. Savina. O Globo, Rio de Janeiro, 12 abr. 2006.
Espetáculos 6
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 4
- AMOK Teatro. Disponível em: [http://www.amokteatro.com.br]. Acesso em: 14/05/2007.
- COELHO, Sergio Salvia. Peça é baseada na técnica do ator. Folha de S.Paulo, São Paulo, 1 jun. 2002.
- HELIODORA, Barbara. Todo o sofrimento de Antonin Artaud no fim de sua vida, num hospital psiquiátrico. O Globo, Rio de Janeiro, 25 out. 1998.
- HELIODORA, Barbara. Um trabalho de amor com Shakespeare. O Globo, Rio de Janeiro, 15 mar. 2004.
Como citar
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AMOK Teatro.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo455851/amok-teatro. Acesso em: 05 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7