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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Ateliê Livre

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
História

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História

O termo faz referência a uma disputa, travada nos anos de 1888 e 1890, entre dois grupos - os "modernos" e os "positivistas" - no interior da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba, por causa de um debate cerrado sobre o ensino artístico no país, seus modelos e práticas. O grupo denominado "moderno" - do qual fazem parte, entre outros, Eliseu Visconti (1866 - 1944), França Júnior (1838 - 1890), Henrique Bernardelli (1858 - 1936), Rodolfo Bernardelli (1852 - 1931), Rodolfo Amoedo (1857 - 1941) e Zeferino da Costa (1840 - 1915) - defende a importância da renovação do modelo acadêmico de ensino, aspirando à modernização nos termos em que ocorre, por exemplo, na Académie Julian, em Paris. Trata-se de alterar os estatutos em vigor na Aiba, considerados obsoletos, de garantir a regularidade do concurso para o prêmio de viagem, suspenso pelo governo em 1886 e 1887, e de dar ênfase às belas-artes, que deveriam ser o foco privilegiado de atenção da escola. Os chamados "positivistas" - por exemplo, Montenegro Cordeiro, Decio Villares (1851 - 1931) e Aurélio de Figueiredo (1854 - 1916) -, por sua vez, brigam pela manutenção do modelo vigente, que define a dupla face da academia, ao mesmo tempo escola de aprendizado de ofícios e de belas-artes. No contexto das disputas, o grupo dos modernos organiza um modelo alternativo de trabalho e ensino de arte no chamado Ateliê Livre, instalado primeiro no largo de São Francisco, e em seguida na rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. Em 1890, apresentam uma grande exposição pública dos trabalhos dos artistas do ateliê.

Desde o Plano da Imperial Academia de Belas Artes, elaborado pelos professores da Missão Artística Francesa - e que serve de base para a definição dos estatutos provisórios da Aiba, em 1826 -, a escola passa por várias reformas de modo a consolidar e a normalizar o ensino superior artístico no país, de acordo com os cânones do academicismo e do Neoclassicismo. As academias de arte européias, que inspiram o modelo criado no Brasil, buscam garantir aos artistas sólidas formações científica e humanística, além de treinamento no ofício, com aulas de desenho de observação e cópia de moldes. São responsáveis, ainda, pela organização de exposições, concursos e prêmios, conservação do patrimônio, criação de pinacotecas e coleções, o que significa o controle da atividade artística e a fixação de padrões de gosto. O desafio maior dos formuladores do projeto foi adaptar esse modelo à realidade do país, sem nenhuma tradição artística.

Enquanto durou, de 1826 até 1889, a Aiba teve sete diretores e passou por duas grandes reformas: a Reforma Lino Coutinho (1831), que orienta a gestão de Félix Taunay (1795 - 1881), de 1834 a 1851, e a Reforma Pedreira, de 1855, projetada pelo pintor e crítico de arte Porto Alegre (1806 - 1879) e implantada entre 1855 e 1857. A primeira reforma corresponde a um momento de consolidação de um modelo da academia. A dupla vocação da escola, reafirmada nesse momento, se encontra desenhada em seu projeto inaugural: formação nas áreas técnicas - dos ofícios - e no campo das belas-artes. A fase de Taunay na direção da Aiba marca a estruturação dos cursos, a criação das Exposições Gerais de Belas Artes, em 1840, e a concessão de prêmios de viagem ao exterior, a partir de 1845. A gestão do pintor e crítico de arte Manoel de Araújo Porto-Alegre, por sua vez, define-se pela tentativa de modernização da academia, com ênfase no estabelecimento de bases teóricas para o ensino, na idéia de nacionalização da biblioteca (transformando-a na memória pictórica brasileira) e na criação de coleções de arte brasileiras. Ele confere importância destacada à pintura de paisagens, que deveria, segundo ele, sair da cópia de estampas e dos quadros da pinacoteca e voltar-se para o registro da natureza nacional, ainda que considere indiscutível a proeminência da pintura histórica. Primeiro brasileiro a dirigir a instituição, Porto-Alegre inicia a implantação da reforma - construindo o edifício da pinacoteca, ampliando os espaços para aulas e exposições públicas e criando novas cadeiras de ensino - e por falta de verbas não consegue concluí-la. De qualquer modo, suas determinações vão orientar o funcionamento da academia até o fim do Segundo Reinado.

A exoneração do professor de desenho geométrico Ernesto Gomes Moreira Maia do posto de diretor da academia, em 30 de agosto de 1888, é a expressão mais evidente da crise na instituição, em sua fase final, que de alguma maneira reflete os efeitos da crise política mais ampla que abala o regime monárquico. A atuação dos "modernos" no interior do Ateliê Livre sinaliza a tentativa de rompimento com o modelo imperial vigente. Trata-se de modernizar o ensino e de aprimorar a formação do artista pela aprovação de novos estatutos, que são de fato estabelecidos a partir de 8 de novembro de 1890. O novo feitio projetado para a escola coincide o fim da Academia Imperial e a criação da Escola Nacional de Belas Artes - Enba (1889), que nasce com o regime republicano, sob a direção de Rodolfo Bernardelli e vice-direção de Rodolfo Amoedo. Reestabelecidos os concursos internos, o primeiro vencedor é Eliseu Visconti. A partir de 1889, as Exposições Gerais de Belas Artes são realizadas na recém-criada escola.

Fontes de pesquisa 4

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  • AULER, Guilherme. D. Pedro II e a Academia Imperial das Belas-Artes: conferência realizada na Escola Nacional de Belas-Artes pelo ilustre historiador e jornalista Guilherme Auler. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Belas-Artes, 1956. 19 p.
  • BARATA, Mário. As artes plásticas de 1808 a 1889. In: HOLANDA, Sérgio B. (Org). História Geral da Civilização Brasileira, Volume II, Tomo III, O Brasil Monárquico - reações e transações. São Paulo, Difel, 1982.
  • MORALES DE LOS RÍOS, Adolfo. O ensino artístico: subsidios para a sua história: um capítulo 1816-1916. In: ANAIS do 3º Congresso de História Nacional, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1938. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1942., p. 3-429, v. 8.
  • PEREIRA, Sônia Gomes (org). 185 anos de Escola de Belas Artes. Rio de Janeiro: PPGAV/EBA/UFRJ, 2001-2002.

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