Teatro Promíscuo
Texto
Histórico
O Teatro Promíscuo nasce da parceria de Renato Borghi e Élcio Nogueira Seixas e alterna a produção de clássicos com experimentações mais ousadas. O grupo programa, em 2002 e 2003, as Mostras de Dramaturgia Contemporânea.
Em 1993, é organizada a oficina Encarando o Personagem, coordenada por Borghi e Élcio Nogueira, que aglutina atores com orientações estéticas diversas, dando origem ao Teatro Promíscuo. Com orientação dramatúrgica de Luís Alberto de Abreu, novos autores têm seus textos encenados pelo conjunto, na Oficina Cultural Oswald de Andrade. O sucesso da iniciativa rende outro evento nos mesmos moldes e espaço. Em 1994, o projeto Babel - novamente orientado por Abreu e dirigido por Élcio, ao lado de Lu Grimaldi desta vez - reconta a história dos imigrantes portugueses, judeus e italianos no bairro do Bom Retiro. Várias salas do centro cultural são ocupadas para apresentação de peças e oficinas de luz, figurinos, fotografias e som.
Em 1995, a companhia encena Senhora do Camarim, texto de Renato Borghi com direção de Élcio Nogueira Seixas e Cristiane Esteves. A peça é praticamente um monólogo, excetuada a pequena participação, no papel de um roqueiro gigolô, de Ariel Borghi, filho de Renato, que domina o espetáculo e exibe boa performance ao interpretar duas personagens: a dama do Teatro de Revista Aracy Cortes e sua camareira, Lourdes.
Baseando-se na tragédia Édipo, de Sêneca, Borghi escreve e dirige, em 1996, Édipo de Tabas, adaptação livre da versão romana para o mito grego. O espetáculo utiliza uma favela como cenário da trama; para o público, são distribuídos apitos e panelas para que se manifeste durante a encenação; o papel de Jocasta cabe a uma atriz negra, Cida Moreno; o de Édipo, a Élcio Nogueira Seixas; o de Tirésias, a Renato Borghi. Referências ao Brasil e ao Terceiro Mundo povoam a cena, como, por exemplo, a bandeira nacional envergada por Édipo, a taba tupi ou personagens procurando um traidor da pátria. A montagem recebe o Prêmio Estímulo do Estado de São Paulo.
Em 1998, numa parceria como o Núcleo de Pesquisa Teatral (mais tarde denominado Companhia Livre), sob a direção de Cibele Forjaz, o grupo encena Galilei - A Vida de Galileu por Bertolt Brecht. Borghi retoma novamente como protagonista o texto brechtiano, 30 anos depois da célebre montagem do Teatro Oficina. Desta vez, em primeiro plano não está a censura, mas os temas como a exclusão cultural e tecnológica e a questão da ética na ciência. No mesmo ano, em Tio Vânia, de Tchekhov, dirigido por Élcio Nogueira Seixas, Borghi se destaca mais uma vez no papel principal. O elenco conta ainda com Abraão Farc, Leona Cavalli, Mariana Lima, Luciano Chirolli, Wolney de Assis, entre outros. Sobre a representação de Tio Vânia, comenta o crítico Mário Vitor Santos: "O grande mérito dessa montagem é ter feito uma opção clara e oposta [a uma visão introspectiva]. Correu os riscos de impor uma visão original ao texto de Tchecov, que agora surge como um comediógrafo - atormentado, é verdade, mas até otimista. É notável o manejo realizado no tempo das falas. Suprimido o vazio, não há espaço para reverberações subjetivas nos espectadores, o que costuma ser uma marca nas criações, tanto em 'Tio Vânia como em outras peças de Tchecov".1
Em 2000, Renato Borghi divide o palco com Tônia Carrero em outra peça do autor russo, O Jardim das Cerejeiras, também com direção de Élcio.
O grupo organiza, em 2002, a Mostra de Dramaturgia Contemporânea, sediada e patrocinada pelo Teatro Popular do Sesi - TPS. Borghi, Élcio Nogueira, Luah Guimarães e Débora Duboc levam ao palco quinze peças curtas de 16 autores surgidos nos anos de 1990 (Aimar Labaki, Alberto Guzik, Bosco Brasil, Dionísio Neto, Fernando Bonassi, Hugo Possolo, Leonardo Alckmin, Marcelo Rubens Paiva, Marici Salomão, Mário Bortolotto em parceira com Pedro Vicente, Newton Moreno, Otavio Frias Filho, Samir Yazbek, Sérgio Salvia Coelho e Victor Navas). O projeto conquista os prêmios da Associação Paulista de Críticos de Artes - APCA, e o Shell na categoria especial. No ano seguinte, há a segunda edição do evento, que conta com seis peças de duração maior, cerca de uma hora cada. Três dos diretores da Mostra anterior se mantêm em 2003: Débora Dubois, Francisco Medeiros e Johana Albuquerque. A eles se juntam Fernando Kinas, Marcelo Lazzaratto e Regina Galdino.
Com roteiro e direção de Élcio Nogueira Seixas, Borghi em Revista, 2004, rememora a história do teatro brasileiro, desde a década de 1940, em paralelo aos 45 anos de carreira de Renato. O ator, em conversa com o público, trata da sua paixão pelo teatro musicado, sua passagem pelo Teatro Oficina e sua biografia.
Em 2006, a companhia investe duplamente em Shakespeare: Macbeth e Timão de Atenas. A primeira, adaptada e dirigida por Maurício Paroni de Castro, estréia no Espaço dos Satyros, em São Paulo, e exige concepção adequada ao espaço reduzido da sala. Telões móveis funcionam como indicativo da passagem da floresta para o castelo, operação que procura desconstruir a ilusão do espectador. Os painéis pintados durante a encenação seguem o mesmo propósito. Timão de Atenas, com direção de Élcio e protagonizado por Borghi, tem grande produção do TPS. Sobre o espetáculo, diz a crítica Mariangela Alves de Lima: "Do ponto de vista das idéias, a escolha desta peça em que o protagonista, traído por todos os seus amigos, assume a condição marginal para encarar e julgar a sociedade pelo lado de fora, se encaixa no programa de um grupo cujo tema privilegiado até o momento é a exclusão voluntária do indivíduo oprimido ou rejeitado pela norma social. A tonalidade desaforada, o gesto provocativo e a exasperação provocada pela acomodação social e artística tornaram-se o estilo interpretativo do Teatro Promíscuo e revestem o tema central da rebeldia. Coincidem, desse modo, os traços formais de Timão de Atenas e a vocação que o grupo tem demonstrado".2
Notas
1. SANTOS, Mário Vitor. Peça dá leveza a Tchecov. Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 23 abr. 1998. p. 6.
2. LIMA, Mariangela Alves de. A falta que faz o esforço criativo. O Estado de S.Paulo, São Paulo, Caderno 2, 18 nov. 2006.
Espetáculos 11
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 7
- MAIA, Mônica. Borghi traz versão social para o mito de Édipo. Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 30 jan. 1996. p. 1.
- NÉSPOLI, Beth. Borghi e o mal-estar da civilização. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno 2, 24 ago. 2006.
- NÉSPOLI, Beth. Macbeth revela seu jogo de poder. O Estado de S. Paulo, São Paulo, Caderno 2, 6 nov. 2006.
- SALLUM, Érica. Borghi enfrenta o tédio em "Tio Vânia". Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 28 ago. 1998. p. 4.
- SANCHES, Pedro Alexandre. Renato Borghi volta aos palcos paulistanos vestido de mulher. Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 15 jul. 1995. p. 4.
- SANTOS, Mário Vitor. Peça dá leveza a Tchecov. Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 23 abr. 1998. p. 6.
- SÁ, Nelson de. Borghi volta ao Oficina com "Pentesiléias". Folha de S.Paulo, São Paulo, Ilustrada, 26 ago. 1994. p. Especial A-9.
Como citar
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TEATRO Promíscuo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo404238/teatro-promiscuo. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7