Teatro dos Doze
Texto
Histórico
Fundado com base na experiência do Teatro do Estudante do Brasil, com o objetivo de apresentar jovens atores e valorizar a interpretação de grandes obras. Sua criação mais marcante é Arlequim, Servidor de Dois Amos, espetáculo que chama a atenção para os integrantes da companhia, principalmente Sergio Cardoso.
A idéia de uma companhia jovem e profissional parte de Paschoal Carlos Magno, criador da mais importante companhia amadora de seu tempo, o Teatro do Estudante do Brasil - TEB. Mas os fundadores do Teatro dos Doze são Sergio Cardoso e Sergio Britto, ambos saídos do TEB. Paschoal abre mão da temporada agendada no Teatro Ginástico (que está cedido a ele, pelo Serviço Nacional de Teatro - SNT, para a temporada do TEB) em favor da futura companhia. Aos dois atores juntam-se: Luiz Linhares, Elísio de Albuquerque, Jaime Barcelos, Antonio Ventura, Wilson Grey, Tarciso Zanotta, Carlos Couto, Beyla Genauer, Zilah Maria e Rejane Ribeiro, para formar uma companhia de doze atores. Seus propósitos são enunciados por Ruggero Jacobbi numa entrevista da época: "O Teatro dos Doze não pode criar porque o teatro, por definição, não é criação e sim interpretação: interpretação religiosa dos textos (...). Por isso mesmo não temos nada a imitar, pois hoje não existem escolas ou exemplos, em nenhuma parte do mundo, a guerra tendo acabado com todos os expressionismos, surrealismos, etc. que se tornaram pré-históricos; e não tendo modelos a imitar, não há senão retomar o caminho central do teatro: partir humildemente do texto, do autor, do poeta: transmitir ao povo a mensagem da palavra poética, de onde seja que ela nos venha; se o texto for estrangeiro levá-lo mais ao alcance da alma brasileira; se for brasileiro, o levaremos ao alcance dos valores universais".1
Hoffmann Harnisch e Ruggero Jacobbi, são os diretores artísticos contratados para realizar os quatro espetáculos encenados pela companhia em seu único ano de atividades, inclusive um texto para crianças de Lúcia Benedetti, autora que estréia, em 1948, na companhia Os Artistas Unidos, com O Casaco Encantado, sob a direção de Henriette Morineau.
O Teatro dos Doze estréia, em 1949, com uma remontagem do Hamlet, de William Shakespeare, criada originalmente para o TEB, e agora dirigida por Hoffmann Harnisch e Ruggero Jacobbi, com o título A Tragédia de Hamlet. Em seguida, a companhia encena Arlequim, Servidor de Dois Amos, texto de Carlo Goldoni, escrito em 1745. Ruggero Jacobbi, o diretor, assina também os cenários e os figurinos, dando sabor popular a um clássico da dramaturgia. Inicialmente, o encenador encontra dificuldade para fazer o elenco incorporar uma movimentação típica das camadas populares do Brasil com o intuito de mesclá-la com a tradição da commedia dell'arte. Mas ao fim dos ensaios, o resultado é surpreendente.
A produção destaca, além de Sergio Cardoso, em notável criação de Arlequim, os atores Sergio Britto, Jaime Barcelos e Elísio de Albuquerque, considerados excepcionais em sua atuação. A crítica Maria Jacintha, entusiasmada com a montagem, declara: "Nessa hora em que estamos, tão generosamente, restituindo coisas à Itália - dinheiro, navios, propriedades, que sei eu? - seria aconselhável que nos compensássemos, fixando Ruggero Jacobbi como um colaborador. De sua inteligência, de seu bom gosto e cultura, muita contribuição boa esperamos. Elementos assim nos convêm. Não se apresentou como gênio. Não andou a anunciar-se como criador ou salvador do teatro brasileiro. Veio com simplicidade e com simplicidade ajudou".2
Ainda em 1949, a companhia opta por um texto contemporâneo em versos brancos, Winterset ou Tragédia em New York, de Maxwell Anderson, baseada na morte de Sacco e Vanzetti, com direção de Ruggero Jacobbi, e a temporada se encerra com Simbita e o Dragão, infantil de Lúcia Benedetti, dirigido por Ruggero Jacobbi.
Em seu único ano de existência, o Teatro dos Doze cria um marco do teatro em fins dos anos 1940, Arlequim, Servidor de Dois Amos, montagem que funcionou como "passaporte de entrada" de Sergio Cardoso e Ruggero Jacobbi no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).
Notas
1. RUGGERO Jacobbi define a posição do Teatro dos Doze apud RAULINO, Berenice. Ruggero Jacobbi: Presença italiana no teatro brasileiro. São Paulo: Perspectiva/FAPESP, 2002. p. 79.
2. JACINTHA, Maria. Arlequim servidor de dois amos. In: RAULINO, Berenice. Opus cit.
Espetáculos 5
Fontes de pesquisa 3
- BRITTO, Sérgio. Fábrica de ilusão: 50 anos de teatro. Rio de Janeiro: Funarte, 1996. 260 p.
- GUZIK, Alberto. TBC: crônica de um sonho. São Paulo: Perspectiva, 1986.
- JACOBBI, Ruggero. "Meditazioni su un mito e su biografia", in Le Rondini di Spoleto, p. 63, cit. in OLIVEIRA, Berenice Raulino. Opus cit.
Como citar
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TEATRO dos Doze.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo399333/teatro-dos-doze. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7