A Vida Como Ela É
Texto
Histórico
Baseado nas crônicas folhetinescas que Nelson Rodrigues (1912-1980) escrevia para jornal nos anos 1950, o Núcleo Carioca de Teatro, com direção de Luiz Arthur Nunes (1946), faz um espetáculo cômico e teatral.
O diretor toma a subliteratura rodriguiana para investigar as possibilidades teatrais entre a ação e a narração. O ator que mostra e não vive a cena que cria uma linguagem e não uma realidade são os objetivos principais da linha de investigação do núcleo. O cenário - um palco cinzento e vazio, cadeiras e paredes translúcidas - ambienta a neutralidade, assim como o figurino e a maquiagem - ternos de vivo colorido e rostos brancos - não caracteriza personagens, mas atores.
Em cada uma das dez cenas, os intérpretes criam um diferente jogo cênico que valoriza o elemento épico da linguagem: cena dublada por atores aparentes, a manipulação de um ator por outro, o ventriloquismo, a gestualidade em substituição a elementos reais (o ator cujo braço é a própria corda onde ele se enforca), a valorização da ação corporal, a máscara. Nesta linguagem anti-realista, as personagens são sempre tipos ou títeres. O distanciamento favorece o humor e a crítica que constituem a essência da encenação. Na temporada paulista, o crítico Jefferson Del Rios (1943) escreve: "... A Vida Como Ela É está lá cintilando entre as obsessões, catástrofes conjugais, paixões e taras operísticas. Um apocalipse suburbano ao som de músicas que, sozinhas, já valem por uma viagem no tempo (quem se lembra do grande Roberto Silva?). O melhor de um certo espírito carioca resiste nesse grupo jovem e criativo no despudor de encarar de frente a exasperação caricatural do autor e tirar dela a poesia e o humor que constituem a pedra de toque de Nelson Rodrigues (...)".1
Na reestréia, dez anos depois da primeira montagem, a crítica Barbara Heliodora (1923-2015) observa que o espetáculo é responsável pelo lançamento da moda de se levar à cena as crônicas de Nelson Rodrigues e faz uma avaliação de sua importância no panorama teatral:
"Várias montagens de textos não dramáticos de Nelson Rodrigues vieram depois desse A Vida Como Ela É, mas certamente nenhum deles revelou sequer parte do preparo e da justificativa desse primeiro exemplo, o único a encontrar uma linguagem específica para uma idéia cuidadosamente elaborada".2
Notas
1. RIOS, Jefferson del. Contos de Nelson rendem espetáculo cintilante. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 26 set. 1992. Caderno 2, p. 3.
2. HELIODORA, Barbara. Uma remontagem interessante e agradável de Nelson Rodrigues. O Globo, Rio de Janeiro, ago. 2002.
Ficha Técnica
Nelson Rodrigues
Adaptação
Luiz Arthur Nunes
Direção
Luiz Arthur Nunes (Prêmio SATED/RJ - melhor direção)
Cenografia
Alziro Azevedo
Figurino
Alziro Azevedo
Iluminação
Rogério Wiltgen
Trilha sonora
Geraldo Torres
Elenco
Abelardo Lustosa
Denise Izecksohn
Eliane Costa
Francisco de Figueiredo
Ivo Fernandes
Maria Esmeralda Forte
Mário Dias Costa
Nara Keiserman
Shimon Nahamias
Fontes de pesquisa 4
- A VIDA Como Ela É. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Espetáculos Teatro Adulto.
- HELIODORA, Bárbara. Uma remontagem interessante e agradável de Nelson Rodrigues. O Globo, Rio de Janeiro, ago. 2002.
- LUIZ, Macksen. Do uso ao abuso de Nelson. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 9 jun. 2002.
- RIOS, Jefferson del. Contos de Nelson rendem espetáculo cintilante. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 26 set. 1992. Caderno 2, p. 3.
Como citar
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A Vida Como Ela É.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/evento393743/a-vida-como-ela-e. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7