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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Um Processo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.08.2019
09.05.1988 Brasil / São Paulo / São Paulo – Teatro Ruth Escobar
Montagem de Gerald Thomas, tomando a obra do escritor tcheco Franz Kafka. Espetáculo mais bem-sucedido da Trilogia Kafka, que chama a atenção para a Companhia de Ópera Seca, grupo de atores articulado pelo diretor a partir da montagem anterior, Eletra Com Creta. Essa criação de Gerald Thomas insere-se na primeira fase de seu trabalho no Brasil. ...

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Montagem de Gerald Thomas, tomando a obra do escritor tcheco Franz Kafka. Espetáculo mais bem-sucedido da Trilogia Kafka, que chama a atenção para a Companhia de Ópera Seca, grupo de atores articulado pelo diretor a partir da montagem anterior, Eletra Com Creta. Essa criação de Gerald Thomas insere-se na primeira fase de seu trabalho no Brasil. A encenação comporta, ainda, Uma Metamorfose e Praga, a primeira, uma livre adaptação da obra homônima, e a segunda, um ajuntamento de sensações, obsessões e angústias que cercam a obra de Franz Kafka, como também a do próprio diretor. 

O destaque de Um Processo deve-se, sobretudo, à interpretação alcançada por Bete Coelho, perfeita na apropriação interpretativa das propostas da encenação. Seu Joseph K como que resume algumas das mais célebres criações anteriores da personagem, quer no palco como nas telas de cinema, numa síntese que projeta o neo-expressionismo a um cúmulo de exasperação.

Segundo a pesquisadora Sílvia Fernandes, "A concessão a um fio narrativo imediatamente identificável era poluída, entretanto, pela carga imensa de situações e referências que rodeava esse enredo inicial e o submetia a uma rigorosa indeterminação. A ação engendrada por Kafka estava no palco, mas de maneira diferente, como se o encenador só conseguisse mostrá-la através de contrastes de imagens, sons e referências que contradiziam ou confirmavam a expressão literária inicial, sugerindo desdobramentos e rupturas formais, temáticas e narrativas. As janelas do cenário, por exemplo, abertas sobre o palco, algumas vezes comentavam a ação, em outras desenhavam imagens paralelas, funcionando como premonição das cenas que ainda iam ocorrer".1

A cenografia de Daniela Thomas contribui decisivamente para a configuração da ambiência pretendida: uma pesada, sólida e intransponível biblioteca, símbolo e alegoria de uma cultura esmagada sobre seu próprio peso. A trilha sonora de Gerald Thomas, com músicas de Philip Glass, César Frank, Wagner, Weber mantém-se fiel aos sons recorrentes do encenador, pontuando a dramaticidade da narrativa. 

Ainda na apreciação da mesma pesquisadora, "Era na luz e nos black-outs que se escondia um dos segredos da encenação da Trilogia. A iluminação transformava o espaço cênico num lugar mutante, onde as cenas curtas eram decupadas pela rapidez dos cortes bruscos, resultando em imagens intermitentes que lembravam filmes do começo do século. Um escurecimento marcava a passagem do tempo e permitia pequenas mudanças de cenário. Um foco de luz no rosto do ator supria a dramaticidade ausente das falas, muitas vezes gravadas, que também obedeciam ao comando luminoso. Mas era especialmente através da iluminação vinda do alto, e também das laterais, potente, quase cegando os atores com sua clareza, que Thomas indicava visualmente o julgamento atuado de cima, no qual Joseph K não tinha a possibilidade de defesa. O foco repressor permanecia, durante todo o tempo, desconhecido".2

Notas

1. FERNANDES, Sílvia. Memória e invenção: Gerald Thomas em cena. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 22.
2. Idem. p. 23-24.

Ficha Técnica

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Autoria
Franz Kafka

Adaptação
Gerald Thomas

Direção
Gerald Thomas (Prêmio Molière)

Cenografia
Daniela Thomas (Prêmio Shell)

Figurino
Daniela Thomas

Iluminação
Wagner Pinto (Prêmio Shell)

Operação de luz
Wagner Pinto

Trilha sonora
Philip Glass

Elenco
Bete Coelho (Prêmio Molière)
Edilson Botelho
Magali Biff
Malu Pessin
Marco Stocco
Marcos Barreto
Oswaldo Barreto
Zacharias Goulart

Fontes de pesquisa 4

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  • FERNANDES, Silvia. Memória e invenção: Gerald Thomas em cena. Perspectiva, 1996.
  • SUSSEKIND, Flora. A imaginação monológica. Revista USP, São Paulo, n. 14, jun./ago. 1992.
  • THOMAS, Daniela. Poesia cênica por Daniela. In: TRILOGIA KAFKA. 1 folder. Programa do espetáculo, apresentado em 1988.
  • UM PROCESSO. Direção Gerald Thomas. São Paulo, 1988. 1 folder. Programa do espetáculo, apresentado no Teatro Ruth Escobar em maio de 1988.

Como citar

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